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sábado, janeiro 02, 2016

Lava Jato: só falta o livro de colorir. Guilherme Fiuza

Lava Jato: só falta o livro de colorir
Os criminosos procurados, investigados e presos fazem parte do grupo que governa o Brasil
Guilherme Fiuza

O bordão que sobrou ao PT é este: “As instituições estão funcionando”. Quer dizer com isso que não há razão para o impeachment. Quando declaram que as instituições estão funcionando, os companheiros estão aludindo, naturalmente, à Operação Lava Jato – cujo trabalho suas excelências petistas fazem o favor de permitir. Vamos então à correção. A mais alta instituição nacional não está funcionando, não: o governo federal está virtual­mente parado. E o que constrange seu funcionamento é justamente o trabalho da polícia – porque, coincidentemente, os criminosos investigados, procurados e presos fazem parte do grupo que governa o Brasil. E o gigante dorme com um barulho desses.

O empresário José Carlos Bumlai foi preso na Operação Passe Livre, mais uma etapa da Lava Jato. Passe Livre é o que o pecuarista tinha no reinado de Lula, com trânsito liberado dentro do Palácio. Esse homem, que o ex-­presidente classifica como “amigo de aniversários”, está na cadeia por ter recebido um empréstimo suspeito de R$ 12 milhões de outro “amigo” que acabou ganhando um contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras. Uma incrível rede de coincidências em torno de Lula. Detalhe: a investigação aponta que o suposto empréstimo foi “pago” com um contrato falso de venda de embriões de gado – isto é, foi embolsado. Segundo Salim Schahin, acionista do grupo que fez o “empréstimo”, foi embolsado pelo caixa de campanha de Lula.

O gigante não acordou com esse estrondo, e na manhã seguinte veio outro maior ainda: o líder do governo Dilma no Senado foi preso pela Lava Jato. O petista Delcídio do Amaral é o primeiro parlamentar na história da República preso em pleno exercício do mandato. Vamos repetir no ouvido do gigante: não é um dos 81 senadores, é o líder do governo Dilma. Pois bem: o líder do governo Dilma teve sua prisão decretada porque estava tentando comprar o silêncio de Nestor Cerveró, o ex-diretor da Petrobras que operou a compra escandalosa da refinaria de Pasadena sob a presidência de Dilma Rousseff no Conselho de Administração da estatal. Cerveró é um dos pivôs do petrolão, e o senador Delcídio do Amaral foi flagrado em gravação oferecendo a ele plano de fuga do país com tudo pago, mais mesada de R$ 50 mil a sua família. O líder de Dilma não queria de jeito nenhum que o réu falasse. Queria sumir com ele.

Além de liderar Dilma no Senado, Delcídio é liderado por Lula. Teria um encontro com o ex-presidente no dia seguinte, para atualizá-lo sobre o andamento da Lava Jato. Se a Polícia Federal executasse o mandado de prisão obtido pelo juiz Sergio Moro 24 horas depois, poderia ter encontrado o senador conversando com Lula sobre as coisas que Cerveró não pode falar de jeito nenhum.

Delcídio representa Dilma, que representa Lula, que lidera todos eles e mais um punhado de gente presa no mensalão e no petrolão – com destaque para Dirceu, Delúbio e Vaccari, pivôs de cirandas milionárias com dinheiro público sempre aterrissando nos cofres partidários, com o préstimo de despachantes amigos que entravam sem bater, como Valério, Youssef, Bumlai e grande elenco. Bumlai levou o presidente da empresa Sete Brasil para conversar com o ex-presidente Lula, a pedido do operador do petrolão Fernando Baiano. O amigo de Lula disse que nem prestou atenção à conversa e ficou folheando um livro do Corinthians. Depois recebeu R$ 1,5 milhão de Baiano (num suposto empréstimo que não sabe dizer por que foi feito, nem se foi pago).

A Sete Brasil foi para o centro do escândalo do petrolão e um de seus sócios, o banqueiro André Esteves, foi preso na mesma leva do líder de Dilma. Segundo a Polícia Federal, Esteves também estava na “operação cala a boca, Cerveró”. Esse entra e sai na sala de Lula está sendo mostrado em detalhes ao gigante, que até acorda com o falatório e as gargalhadas, mas vai direto folhear o livro do Corinthians. Talvez ele se interesse por um livro de colorir da Lava Jato.

O PT não pode continuar governando o Brasil porque está no poder com um projeto de sucção – já exaustivamente demonstrado. Não se trata de ranger dentes ou odiar ninguém, nem de guerra ideológica. O país precisa apenas se mancar e levar o Congresso ao processo político que o salvará do assalto.

sábado, outubro 31, 2015

O Grilo Falante de Lula. Guilherme Fiuza

O Grilo Falante de Lula
Guilherme Fiuza

Nem Pinóquio teve uma ajuda tão generosa. Mas Pinóquio não tinha um BNDES, só um Gepeto

O palestrante Luiz Inácio da Silva é um sujeito de sorte. Antes de se consagrar com suas palestras internacionais, ele passou pela Presidência da República, onde não ganhava tão bem. Mas tinha bons amigos, especialmente na empreiteira Odebrecht, que lhe sopravam o que dizer nas reuniões com outros chefes de Estado. Os recados eram passados ao futuro palestrante, então presidente, sob o título “ajuda memória” – ou seja, os empreiteiros estavam ajudando o presidente a se lembrar de coisas úteis, uma espécie de transplante de consciência. A Odebrecht era o Grilo Falante de Lula.

Nem Pinóquio teve uma ajuda-memória tão generosa. A de Lula se transformou em negócios de bilhões de reais – mas é bem verdade que Pinóquio não tinha um BNDES, só um Gepeto. É uma desvantagem considerável, especialmente porque Gepeto não fazia operações secretas, ao que se saiba. “O PR fez o lobby”, escreveu o então ministro da Indústria e do Comércio aos amigos da Odebrecht, respondendo à cobrança da empreiteira sobre a defesa de seus interesses pelo PR Lula junto ao PR da Namíbia. Essa e outras ajudas-­memórias valiosas, reveladas pelo jornal O Globo, não tiveram nada de mais. Segundo todos os envolvidos, isso é normal.

A normalidade é tanta que a parceria foi profissionalizada. Quando Luiz Inácio terminou seu estágio como PR, foi contratado pela Odebrecht como palestrante. Nada mais justo. Com a quantidade de ajuda-­memória que ele recebera da empresa durante oito anos, haveria de ter muita coisa para contar pelo mundo. Foi uma história bonita. Lula soltinho, sem a agenda operária de PR, viajando pelos países nas asas do lobista da Odebrecht, fazendo brotar obras monumentais por aí e mandando Dilma e o BNDES bancá-las, enquanto botava para dentro cachês astronômicos como palestrante contratado da empresa ganhadora das obras. Normal.

A parceria também funcionou no Brasil, claro, com belos projetos como o estádio do Corinthians – que uniu seu time do coração com a sua empreiteira idem. Num drible desconcertante dos titãs, o Morumbi foi desclassificado para a Copa de 2014 e brotou em seu lugar o Itaquerão, por R$ 1 bilhão. Como não dava para Gepeto fazer a mágica, o Pinóquio PR chamou o bom e velho BNDES para operar mais esse milagre. Após alguns anos fazendo os bilhões escorrerem dos cofres públicos para parcerias interessantes como essas – incluindo as obras completas da Petrobras –, o palestrante e seu partido levaram o Brasil à breca. Ainda hoje, em meio à mais terrível crise das últimas décadas, que derrubou o aval para investimento no Brasil e fará dele um país mais pobre, a opinião pública se pergunta: como foi que isso aconteceu?

Graças a essa pergunta abilolada, o esquema parasitário que tomou de assalto o Estado brasileiro ainda permanece, incrivelmente, sediado no Palácio do Planalto. O tráfico de influência como meio de privatização de recursos públicos – através de parcerias, consultorias, convênios, mensalões e pixulecos mais ou menos desavergonhados – foi institucionalizado, de cabo a rabo, no governo petista. Lula, o palestrante, é investigado pelo Ministério Público por tráfico de influência internacional. O Brasil se surpreende porque quer: esse é o modus operandi de todos os companheiros que já caíram em desgraça – Vaccari, Delúbio, Erenice, Palocci, Dirceu, Valério, Youssef, Duque, Vargas, João Paulo, Rosemary... Faltou alguém? Ou melhor: sobrou alguém?

Marcelo Odebrecht recomendou que Lula ressaltasse o papel de “pacificador e líder regional” do presidente de Angola. E assim foi feito. Deu para entender? O dono da empresa e cliente do governo era quase um adido cultural do presidente. Se o Brasil não consegue ver promiscuidade (ou seria obscenidade?) nesse enredo, melhor botar o Sergio Moro em cana e liberar o pixuleco.
Acaba de ser arquivado o inquérito contra Lula no mensalão. No auge do escândalo com a Odebrecht e demais envolvidas no petrolão, o PT bate seu próprio recorde de cinismo advogando a proibição das doações eleitorais de empresas. Pixuleco nunca mais. Ajuda-memória ao gigante: ou abre os olhos agora ou não verá as pegadas companheiras sendo mais uma vez apagadas. Aí os inocentes profissionais estarão prontos para o próximo golpe.

sábado, setembro 05, 2015

Pixuleco 171. O heroi inflável. Guilherme Fiuza

Nunca antes neste país um ex-presidente polemizou com um boneco inflável – que veio desinflar o mito de Lula

Lula ficou revoltado com Pixuleco, um boneco inflável de 12 metros de altura que apareceu em Brasília nas manifestações do dia 16. Pixuleco é uma caricatura de Lula com roupa de presidiário e a inscrição “13-171”. A sátira motivou uma nota oficial do Instituto Lula, afirmando que o ex-presidente nunca fez nada de errado e só foi preso na ditadura militar por defender as liberdades. Nunca antes um ex-presidente da República polemizou com um boneco inflável – que veio desinflar o mito de Lula. E, quando isso se consumar, acabará a bateria da marionete que governa o Brasil.

Lula está indignado, porque a indignação é seu disfarce perfeito. Um dia ele já se indignou de verdade, mas, quando notou que o figurino do injustiçado chorão lhe dava poderes mágicos, não vestiu mais outra roupa. Lula manda no Brasil há 12 anos e continua se queixando da opressão – fórmula perfeita para eleger uma oprimida profissional, que luta dia e noite contra uma ditadura encerrada 30 anos atrás. Hoje, há quem diga que essa ditadura foi profética ao prender Lula: atirou no que via e acertou no que ainda não existia. É evidentemente uma piada. O autoritarismo militar não tem graça, e Lula não estava destinado a ser o Pixuleco 171. Quem lhe reservou esse destino, quase sem querer, foi ele mesmo.

>> Pixuleko: Cheguei longe, mas perdi gás

Lula não se enrolou por banditismo. Se enrolou por mediocridade. Foi muito pobre e, ao se aproximar do poder, mais forte do que o impulso de combater a pobreza foi o instinto de se vingar dela. Vingança pessoal, bem entendido. Não resistiu aos convites do poder como status, como ascensão social. Quem conviveu com ele nos primeiros anos de palácio se impressionou com os charutos, os vinhos caros e demais símbolos de riqueza. Um ex-operário fascinado pela opulência dos magnatas. Isso não costuma dar certo. Não para um político.

Luiz Inácio da Silva é um cara simpático, engraçado. Não tem o olhar demoníaco de um Collor, que exala prepotência e crueldade. Mas, assim como a imensa maioria dos companheiros petistas, tem uma noção visceral de sua mediocridade. Os companheiros morrem de medo de sua própria covardia. Daí o desespero com que se agarram às tetas do Estado, com a forte desconfiança de que não serão capazes de mamar em outra freguesia. Talvez até alguns fossem capazes – Lula muito mais do que Dilma, por exemplo –, mas eles mesmos não acreditam. E não pagam para ver. Ou melhor: pagam para não ver.

E pagam bem. A República do Pixuleco é possivelmente um dos mais formidáveis sistemas de corrupção da civilização moderna – se é que se pode chamar isso de civilização. Um sistema montado sobre um trunfo infalível em sociedades infantilizadas e sentimentaloides: a chantagem emocional. Lula da Silva chora, e os corações derretidos ficam cegos para tudo – inclusive para o saque a seus próprios bolsos. O Brasil está sendo roubado de forma obscena há 12 anos pelos coitados, e não se sabe mais quantos exemplares de Joaquim Barbosa e Sergio Moro serão necessários para o país enxotar o governo criminoso.

>> Boneco inflado de Lula, o “Pixuleco”, vai aparecer em outras capitais

A Lava Jato já evidenciou: as campanhas presidenciais de Lula e Dilma foram abastecidas com dinheiro roubado da Petrobras. Enquanto Lula batia boca com o boneco inflável, explodia a confissão de Nestor Cerveró sobre o uso de propina do navio-sonda Vitória 10000 para a campanha de Lula em 2006. O próprio Instituto Lula que foi visto polemizando com o Pixuleco é uma central de arrecadação de cachês milionários do ex-presidente, oficialmente para palestras pagas por grandes empreiteiras – as mesmas que ganham obras no exterior graças ao lobby do palestrante.

Não é que o impeachment de Dilma seja uma saída legítima – ele é a única saída legítima, se os brasileiros ainda quiserem salvar suas instituições da pilhagem desenfreada. A legalidade no país leva todo dia um tapa na cara das trampolinagens companheiras sucessivamente reveladas e expostas, escatologicamente, à luz do sol. Dilma é a representante oficial da pilhagem – e só os covardes duvidam disso.

Se o Brasil tiver vergonha na cara, cercará o Congresso Nacional e o “encorajará” a fazer o que tem de ser feito. Se ficar em casa chupando o dedo, talvez o país tenha de ser libertado por um boneco inflável.

sábado, agosto 22, 2015

Austeridade é o palavrão da moda. A Grécia deve € 26 milhões à Espanha, e a culpa é dos espanhóis

Austeridade é o palavrão da moda. A Grécia deve € 26 milhões à Espanha, e a culpa é dos espanhóis
Guilherme Fiuza

Do alto de seus 9% de aprovação, Dilma Rousseff abriu as janelas do palácio e bradou ao povo: “Eu não vou cair”. A presidente afirmou que a Operação Lava Jato nunca vai provar que ela roubou. E que “todo mundo neste país sabe” que ela não roubou. É um pouco constrangedor quando a argumentação chega a esse ponto. Lembra aquele político de Brasília que, apanhado fraudando o painel de votação do Senado, reagiu: “Eu não matei! Eu não roubei!”. Acabou preso.

Se Dilma chega ao ponto de declarar que não é ladra, o brejo está mesmo se aproximando da vaca. Até aqui, a presidente tem contado com a formidável blindagem do STF, coalhado de companheiros que chegaram lá graças a décadas de bajulação ao PT. A dobradinha com o procurador-geral da República, de fazer inveja à dupla Messi-Neymar, impediu até agora que Dilma fosse sequer investigada. E, se não for investigada, realmente jamais será provado que ela roubou.

Vamos economizar trabalho aos investigadores: Dilma não roubou. É apenas a representante legal de um grupo político que depenou o país. Que, entre outras façanhas, estuprou a maior empresa nacional – naquele que foi possivelmente o maior roubo da história, chegando pelas últimas estimativas à casa dos R$ 20 bilhões. Com um currículo desses, que inclui o assalto cinematográfico do mensalão, muitos petistas não se sentem ladrões. E estão sendo sinceros. Eles acham que expropriar recursos do Estado em benefício do partido governante é uma espécie de mal necessário – um meio não muito nobre que justifica o mais nobre dos fins: manter a esquerda no poder, em nome do povo.

Ninguém jamais localizará essa procuração dada pelo povo aos iluminados do PT, autorizando-os a sugar a economia popular para montar uma casta governante com estrelinha no peito e figurino revolucionário. Há quem diga que o falsário mais perigoso é o que acredita na própria falsidade. A impostura involuntária é contagiosa. Basta ver quantas personalidades respeitáveis mantêm o apoio ao governo delinquente, de peito estufado e latejante orgulho cidadão. Um país está em maus lençóis quando perde a capacidade de distinguir os inocentes úteis dos parasitas convictos.

A crise na Grécia veio mostrar que a demagogia do oprimido está longe de ser desmascarada. Na apoteose da mistificação populista, boa parte do mundo culto resolveu se convencer de que os gregos são vítimas da austeridade – o palavrão da moda. Como disse Mario Vargas Llosa: a Grécia deve € 26 milhões à Espanha, e a culpa é dos espanhóis. A receita é genial: você gasta mais do que tem, pede emprestado para cobrir o rombo, faz um plebiscito para oficializar o calote e, quando lhe cobram a dívida, você alega desrespeito à soberania.

E eis a bancada do PT querendo enquadrar a Polícia Federal. A Lava Jato é realmente um flagrante desrespeito da soberania petista, ferindo seu direito de ir e vir entre os cofres públicos e o caixa do partido. A PF tem de se submeter a quem tem voto, argumentou um deputado do PT. É uma espécie de tráfico de democracia – o criminoso com voto vira vítima.

E aí, embebido da inocência aguda que o eleitor lhe concedeu, o Partido dos Trabalhadores decide atacar a política de juros altos praticada pelo governo do Partido dos Trabalhadores. Basta de austeridade, vociferam os mandatários oprimidos. Tudo sob as bênçãos de Caloteus, o deus grego do almoço grátis. A sobremesa de demagogia caramelada é por fora – tratar com o tesoureiro.

O problema é que o tesoureiro está preso. Entre outras acusações, responde pela suspeita de roubar a Petrobras para financiar a eleição da presidente – que jura não ter roubado um tostão. Mandato roubado não tem problema. O PT montou uma casta de nababos, nadando em verbas piratas, propinas oficiais, altos cargos e altíssimos subsídios partidários, mas ninguém roubou um tostão. É tudo dinheiro da revolução – a tal procuração popular para essa gente sofrida desfalcar o contribuinte e padecer no paraíso.

O site Sensacionalista revelou por que Dilma disse que não vai cair: “As pedaladas foram dadas com rodinhas”. E acrescentou que ela não sabia quem estava pedalando sua bicicleta. É isso aí. O jeito é continuar falando grego, língua oficial dos caloteiros do bem.

sábado, julho 25, 2015

O brejo está se aproximando da vaca

Só a Grécia salva Dilma. Guilherme Fiuza

Só a Grécia salva Dilma
Austeridade é o palavrão da moda. A Grécia deve € 26 milhões à Espanha, e a culpa é dos espanhóis
Guilherme Fiuza

Do alto de seus 9% de aprovação, Dilma Rousseff abriu as janelas do palácio e bradou ao povo: “Eu não vou cair”. A presidente afirmou que a Operação Lava Jato nunca vai provar que ela roubou. E que “todo mundo neste país sabe” que ela não roubou. É um pouco constrangedor quando a argumentação chega a esse ponto. Lembra aquele político de Brasília que, apanhado fraudando o painel de votação do Senado, reagiu: “Eu não matei! Eu não roubei!”. Acabou preso.

Se Dilma chega ao ponto de declarar que não é ladra, o brejo está mesmo se aproximando da vaca. Até aqui, a presidente tem contado com a formidável blindagem do STF, coalhado de companheiros que chegaram lá graças a décadas de bajulação ao PT. A dobradinha com o procurador-geral da República, de fazer inveja à dupla Messi-Neymar, impediu até agora que Dilma fosse sequer investigada. E, se não for investigada, realmente jamais será provado que ela roubou.

Vamos economizar trabalho aos investigadores: Dilma não roubou. É apenas a representante legal de um grupo político que depenou o país. Que, entre outras façanhas, estuprou a maior empresa nacional – naquele que foi possivelmente o maior roubo da história, chegando pelas últimas estimativas à casa dos R$ 20 bilhões. Com um currículo desses, que inclui o assalto cinematográfico do mensalão, muitos petistas não se sentem ladrões. E estão sendo sinceros. Eles acham que expropriar recursos do Estado em benefício do partido governante é uma espécie de mal necessário – um meio não muito nobre que justifica o mais nobre dos fins: manter a esquerda no poder, em nome do povo.

Ninguém jamais localizará essa procuração dada pelo povo aos iluminados do PT, autorizando-os a sugar a economia popular para montar uma casta governante com estrelinha no peito e figurino revolucionário. Há quem diga que o falsário mais perigoso é o que acredita na própria falsidade. A impostura involuntária é contagiosa. Basta ver quantas personalidades respeitáveis mantêm o apoio ao governo delinquente, de peito estufado e latejante orgulho cidadão. Um país está em maus lençóis quando perde a capacidade de distinguir os inocentes úteis dos parasitas convictos.

A crise na Grécia veio mostrar que a demagogia do oprimido está longe de ser desmascarada. Na apoteose da mistificação populista, boa parte do mundo culto resolveu se convencer de que os gregos são vítimas da austeridade – o palavrão da moda. Como disse Mario Vargas Llosa: a Grécia deve € 26 milhões à Espanha, e a culpa é dos espanhóis. A receita é genial: você gasta mais do que tem, pede emprestado para cobrir o rombo, faz um plebiscito para oficializar o calote e, quando lhe cobram a dívida, você alega desrespeito à soberania.

E eis a bancada do PT querendo enquadrar a Polícia Federal. A Lava Jato é realmente um flagrante desrespeito da soberania petista, ferindo seu direito de ir e vir entre os cofres públicos e o caixa do partido. A PF tem de se submeter a quem tem voto, argumentou um deputado do PT. É uma espécie de tráfico de democracia – o criminoso com voto vira vítima.

E aí, embebido da inocência aguda que o eleitor lhe concedeu, o Partido dos Trabalhadores decide atacar a política de juros altos praticada pelo governo do Partido dos Trabalhadores. Basta de austeridade, vociferam os mandatários oprimidos. Tudo sob as bênçãos de Caloteus, o deus grego do almoço grátis. A sobremesa de demagogia caramelada é por fora – tratar com o tesoureiro.

O problema é que o tesoureiro está preso. Entre outras acusações, responde pela suspeita de roubar a Petrobras para financiar a eleição da presidente – que jura não ter roubado um tostão. Mandato roubado não tem problema. O PT montou uma casta de nababos, nadando em verbas piratas, propinas oficiais, altos cargos e altíssimos subsídios partidários, mas ninguém roubou um tostão. É tudo dinheiro da revolução – a tal procuração popular para essa gente sofrida desfalcar o contribuinte e padecer no paraíso.

O site Sensacionalista revelou por que Dilma disse que não vai cair: “As pedaladas foram dadas com rodinhas”. E acrescentou que ela não sabia quem estava pedalando sua bicicleta. É isso aí. O jeito é continuar falando grego, língua oficial dos caloteiros do bem.

sábado, julho 18, 2015

Cerveró, use a máscara de Dilma. Guilherme Fiuza

Cerveró, use a máscara de Dilma
É errado dizer que o PT está pagando seus pecados. Quem está pagando os pecados do governo petista são os contribuintes

Guilherme Fiuza
13.07.2015

Nestor Cerveró, o ex-diretor da Petrobras que ficou famoso por proibir máscaras de Carnaval com sua estampa, foi condenado a cinco anos de prisão. Por quê? Porque usou propina do petrolão para comprar um apartamento em Ipanema. A pergunta que o gigante adormecido se recusa a fazer é: não pode usar propina do petrolão para comprar apartamento, mas pode para se eleger presidente do Brasil?

A resposta é: pode, mas não pode. Uma resposta estranha. Não pode, porque o tesoureiro afastado do PT João Vaccari Neto está preso sob acusação, entre outras, de injetar propinas do petrolão na campanha de Dilma Rousseff. E pode porque a presidente supostamente beneficiada pela propina não é sequer investigada. Pois bem: após a torrente de evidências levantadas pela Operação Lava Jato sobre formação de caixa para o PT a partir da corrupção na Petrobras, Ricardo Pessôa, o homem-­bomba das empreiteiras, solta a língua. Pagou R$ 7,5 milhões à campanha presidencial de Dilma em 2014 para não perder negócios com a Petrobras.

Essa revelação, feita em regime de delação premiada, expõe de forma contundente o esquema de sangria da maior empresa brasileira em favor do partido governante. Um detalhe: as informações obtidas pela Justiça por meio das delações premiadas são a base do balanço oficial auditado da Petrobras, no item das perdas com corrupção. A bomba de Ricardo Pessôa deve, portanto, ensejar no mínimo a abertura de investigação sobre a legitimidade do mandato presidencial de Dilma Rousseff – obtido em circunstâncias que levaram à prisão o então tesoureiro do PT.

Só que não... Numa sinfonia tipicamente brasileira, onde as verdades dançam conforme o DJ do comício, um pas de deux entre o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal celebra o milagre da inocência de Dilma. Abobado como sempre, o Brasil assiste aos rodopios jurídicos dos bufões oficiais e murmura para si mesmo: “É, não tem como investigar a presidenta...”.

Pobre país. Tem seus espasmos de protesto, mas não sabe nem o que escrever na cartolina. O STF é transformado em sucursal do PT, com ninguém menos que Dias Toffoli – o juiz de estrelinha – presidindo o processo da Lava Jato, e o Brasil indignado passa lá longe gritando contra a corrupção (sabe-se lá qual). Deve ser glorioso você fazer toda uma carreira de bajulação a Lula e companhia, tornar-se feliz para sempre na corte suprema e assistir tranquilo pela TV aos protestos cívicos. Deve distrair mais do que novela.

Agora Nestor Cerveró, diretor de negociatas e facilitador da sucção petista, é condenado na Lava Jato sem uma gota sequer de respingo no Palácio. Protagonista do escândalo de Pasadena, uma das refinarias que encobriram desfalques bilionários na Petrobras, ele concretizou o negócio a quatro mãos com Dilma, a inocente. A decisão bizarra foi assinada por ela, como presidente do Conselho de Administração da companhia – em 2006, quando o esquema do petrolão já tinha três anos de peripécias montadas por prepostos do PT, coincidentemente o partido de Dilma. A presunção de inocência dela já fez o apresentador inglês John Oliver cair na gargalhada. Deve ser engraçado mesmo, para quem vê de fora. Se Cerveró usasse a máscara carnavalesca de Dilma, estaria livre.

E eis que o governo popular é condenado pela Comissão de Valores Mobiliários por fazer uso político da Eletrobrás – lesando a companhia com seu artifício esperto de baixar a tarifa de energia no grito. Eletrobrás e Petrobras depenadas pela administração Dilma Rousseff, através de expedientes ilícitos para a compra de poder político com o dinheiro do povo. Os sucessivos rombos administrativos são maquiados com as pedaladas fiscais – crime de responsabilidade. E o colapso nas contas públicas é remediado com aumento de impostos e cortes que não arranham a burocracia estatal-partidária.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou, a respeito do ajuste fiscal, que o governo petista está pagando seus pecados. Não é verdade. Quem está pagando os pecados do governo petista são os contribuintes. E os companheiros continuarão pecando alegremente até que o Brasil acorde da anestesia – e exija a única medida realmente saneadora à disposição no momento: a investigação de Dilma e Lula.

sábado, julho 11, 2015

O fisiologismo sai do armário. Guilherme Fiuza

O fisiologismo sai do armário
Lula está fazendo a parte dele. O ex-presidente informou ao país: “A gente só pensa em cargo”
Guilherme Fiuza

Dilma Rousseff está no volume morto, conforme definição de seu padrinho, alcançando o formidável índice de reprovação de 65%. Só Collor conseguiu superar essa façanha, às vésperas do impeachment – quando era rejeitado por 68% dos brasileiros. Será que se o gigante acordar mais 3% o Brasil toma jeito? Lula está fazendo a parte dele: além de alertar que a sua criatura está na lama, o ex-presidente informou ao país: “A gente só pensa em cargo”. Demorou, mas finalmente o fisiologismo petista saiu do armário.

A confissão de Luiz Inácio da Silva é um dos momentos mais dramáticos da história recente. Percebendo a si mesmo e a seu partido afundados no volume morto da política nacional, o número um abriu o peito e soltou lá de dentro a verdade sufocada, dolorida, obscena: o PT só pensa em emprego, só pensa em “ser eleito” como meio de vida, para viver à custa do Estado brasileiro fantasiado em bandeiras bondosas. Claro que Lula quis dizer que o PT ficou assim, tipo de repente, mas não é preciso ser psicanalista para captar a autodelação: “A gente só pensa em cargo” – é assim que somos, e sempre fomos. O famoso “partido da boquinha”, conforme apelido cirúrgico criado por um colega de populismo parasitário.

Se existisse justiça divina, estariam todos na boquinha do inferno: qual a pena para quem forja consciência social com o fim de espoliar conscientemente a sociedade? O padre pedófilo transforma seu protegido em vítima, vendendo segurança espiritual para se servir da carne. Os petistas prometem o céu para se locupletarem na Terra. “A gente só pensa em cargo.” Até que enfim o oráculo jogou o óbvio na cara do Brasil. Não há mais tempo para autoengano: o partido que governa o país há 12 anos foi, é e será fisiológico. Não há São Levy que possa fazer transplante de alma em vampiro.

Descendo da Bíblia companheira à justiça terrena: uma vasta operação policial expôs o maior esquema de corrupção da história da República, montado sob o governo do partido que só pensa em cargo. O tesoureiro desse partido é réu nesse escândalo e está preso. Entre outras atribuições, esse tesoureiro cuida de abastecer as campanhas dos companheiros que “só pensam em ser eleitos”, conforme explicou o número um. Entre as campanhas abastecidas por dinheiro roubado da maior estatal do país, segundo as investigações, está a da presidente da República. Entre os presos por operar o esquema estão dois diretores da estatal indicados ou protegidos pelo partido que só pensa em cargo. Aí surge o milagre brasileiro: nenhuma investigação – nenhuma – envolve os governantes do país, representantes do partido que só pensa naquilo.

A mais recente etapa da vasta operação policial prendeu donos de empreiteiras envolvidas no esquema – pelo menos uma delas com claros indícios de promiscuidade com o ex-presidente Lula. Ninguém flagrou algum desses empresários corrompendo ninguém. Eles foram presos segundo a teoria de domínio do fato, isto é, autoria indireta dos crimes. A Justiça é cega, mas não é burra, e sabe o que é cadeia de responsabilidades. Claro que no Brasil ninguém nunca é responsável por nada – todo delito é obra de algum aloprado que agiu por conta própria. Mas a prisão dos empreiteiros quebrou essa lógica, e a pergunta agora é: onde está a teoria de domínio do fato para implicar as autoridades governamentais?

A cadeia de responsabilidades do petrolão está mais do que exposta, cantada em prosa e verso nas delações premiadas, nos jornais e nas TVs: um sistema bilionário de corrupção envolvendo a cúpula da Petrobras não poderia funcionar por mais de década sem algum nível de conivência do Palácio do Planalto.

Seria obra de alguns aloprados que só pensam em cargos e em dinheiro para se elegerem? Não. Agora sabemos que essa conduta não é desvio, é DNA. Quando foi defenestrado pelos brasileiros, Collor tinha dois anos de peripécias, não 12. Não tinha petrolão nem mensalão no currículo. Não tinha sido flagrado em pedaladas fiscais e contabilidade criativa para torrar escondido o dinheiro do contribuinte. Não tinha avacalhado a estabilidade econômica trazendo de volta a inflação que estava controlada.

Ou o Brasil resolve isso agora, ou assume de uma vez que virou agência de empregos.

sábado, junho 20, 2015

Dilma é instrumento de um projeto imoral de poder. Guilherme Fiuza. Política

Dilma é instrumento de um projeto imoral de poder. O país não tem o direito de linchá-la, mas tem o dever de investigá-la
Guilherme Fiuza
04/06/2015

O Ministério Público denunciou João Vaccari, tesoureiro afastado do PT e preso pela Operação Lava Jato, por lavagem de dinheiro. Entre outras manobras, Vaccari é acusado de orientar fornecedores da Petrobras a pagar propinas ao PT através de contratos falsos com a gráfica Atitude. Em São Paulo, o endereço da gráfica coincide com o do diretório do partido. De acordo com as investigações da Polícia Federal, Vaccari também é suspeito de injetar recursos do petrolão na campanha presidencial de Dilma Rousseff. O esquema de manutenção do PT na Presidência da República está revelado em toda a sua obscenidade. Mas Dilma é inocente.

O Brasil é um lugar realmente curioso. É como se uma seita extorquisse seus fiéis para montar um sistema de poder e ninguém desconfiasse do pastor que chefia a igreja – justamente a figura que centraliza o esquema. Vozes cultas e ponderadas sentenciam que Dilma Rousseff não pode ser investigada. E a manada baixa a cabeça.

Pergunta aos especialistas: os bilhões de reais desviados da Petrobras serviram essencialmente ao enriquecimento particular de uma quadrilha de espertos? Resposta especializada aos especialistas: não, o roubo serviu essencialmente ao grupo político que governa o país, para a compra de aliados e despesas gerais com a manutenção do poder – o petrolão. Outra pergunta aos jurisconsultos: seria possível um bando atuar no coração do governo, envolvendo altos diretores da maior estatal do país e altos quadros do partido da presidente, todos eles ungidos por nomeações políticas do poder central, e ali operar por uma década à revelia dos seus chefes e padrinhos? Resposta: sim, num conto de fadas escrito por João Santana.

E eis que surge o mítico balanço da Petrobras, contabilizando a... corrupção! Não é denúncia, não é suspeita, não é lenda: o balanço auditado da maior empresa brasileira atesta, certifica e dá fé que R$ 6,2 bilhões foram roubados pela quadrilha do petrolão. Um momento: de onde saiu esse número oficial? Atenção, Brasil: ele saiu da Operação Lava Jato. Isto é, foi calculado a partir das revelações dos delatores do esquema às autoridades investigadoras. Ou seja: os mesmos dados, as mesmas informações que apontam uso de propinas para reeleger Dilma Rousseff.

E agora? Como as informações que são oficiais para o balanço da Petrobras podem ser inconsistentes para investigar a legitimidade do mandato presidencial?

Deixem de filigranas. O fato central é: os escândalos do mensalão e do petrolão flagraram o Partido dos Trabalhadores como protagonista de um esquema de desvio de dinheiro público para obter e manter seus mandatos presidenciais. Das duas, uma: ou o Brasil assina um pacto de tolerância com a corrupção ou está obrigado a investigar a legitimidade do mandato de Dilma Rousseff.

Como se não bastasse esse escândalo sem precedentes, ainda há a gestão de Dilma como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, com oito anos de soberania no palco onde se davam as tenebrosas transações. Novamente, das duas, uma: ou estamos diante de um caso de conivência ou o caso é de grave omissão. Como saber, sem investigar Dilma Rousseff?

Aí o Brasil se espanta com as pedaladas fiscais. Os escândalos por aqui precisam de apelido para ser notados. O truque de fazer o Tesouro atrasar repasses aos bancos públicos para amenizar o deficit é crime de responsabilidade – e é só um pedaço da grande operação de maquiagem das contas públicas montada pelo PT, a chamada contabilidade criativa (anotem o apelido). O partido do mensalão e do petrolão, que é tarado por truques e álibis, armou uma ciranda entre o Tesouro e o BNDES para o governo poder gastar mais escondendo o aumento da dívida. É um golpe mais grave que a pedalada fiscal, uma espécie de primo pobre do petrolão e do mensalão – com a mesma finalidade de torrar dinheiro público ilegalmente, nesse caso sem passar pelo partido. Aqui, pelo menos, o tesoureiro é inocente.

O Brasil está entrando na perigosa rota de execração à pessoa de Dilma Rousseff, o que sempre será uma covardia. Dilma é instrumento de um projeto imoral de poder, e este é o inimigo real. O país não tem o direito de linchá-la – mas tem a obrigação de investigá-la.

sábado, abril 11, 2015

It’s time of panelaço. Guilherme Fiuza. Política

It’s time of panelaço
Guilherme Fiuza

O humorista John Oliver, da HBO, vai ter um piripaque de tanto rir quando souber quem é Renato Duque

As manifestações de 15 de março não tiveram a menor importância. Como todo mundo sabe, manifestação que vale é aquela à qual o pessoal vai de vermelho em troca de sanduíche de mortadela. As multidões que tomaram o país de verde-amarelo, sem bandeiras partidárias ou sindicais, não contam. O mais chocante de tudo, porém, é o que está acontecendo com Dilma Rousseff: o procurador-geral da República e o ministro relator do petrolão no STF declararam que ela é inocente por antecipação. E o Brasil acreditou! Nesse ritmo, a próxima manifestação terá milhões de pessoas nas ruas pedindo a renúncia de Fernando Henrique.

Claro que a declaração de inocência absoluta de Dilma, a ponto de não poder sequer ser investigada, é uma piada. Por enquanto, para inglês rir. O que fez John Oliver, no seu programa na HBO, ao comentar que Dilma presidiu o Conselho de Administração da Petrobras enquanto o escândalo devorava a estatal, e foi isenta de suspeitas? Caiu na gargalhada. E terminou o programa batendo panela em sua bancada, explicando que no Brasil “it’s time of panelaço” (“é hora de panelaço”).

Será que John Oliver já sabe do Vaccari? Alguém precisa contar a ele que a Operação Lava Jato denunciou o tesoureiro do PT por cavar propinas do petrolão para abastecer a campanha de Dilma Rousseff, a base de Dilma Rousseff, o governo de Dilma Rousseff. Como não é brasileiro, Oliver vai se escangalhar de rir. O mais divertido (para ele) seria entrevistar o procurador-geral, Rodrigo Janot, e o ministro do Supremo Teori Zavascki. A dupla sustenta (e o Brasil acredita) que não há fatos que ensejem uma investigação sobre Dilma. Sugestão a John Oliver para a hipotética entrevista com os justiceiros do Brasil: comece perguntando “Who is Renato Duque?”.

Deixem uma UTI móvel na porta dos estúdios da HBO, porque o apresentador pode ter um piripaque de tanto rir. Vai ser demais para ele saber que Duque, preso como pivô do escândalo do petrolão, era homem do partido de Dilma na direção da Petrobras. Que era preposto de um companheiro de Dilma julgado e condenado por outro megaescândalo gestado no governo do PT – companheiro este que, mesmo atrás das grades, jamais foi censurado publicamente por Dilma, a inocente. Parem a gravação para abanar Oliver, porque ele já está com falta de ar.

Muito cuidado com a saúde do apresentador inglês, porque é hora de perguntar a Mr. Zavascki como ele se sente tendo mandado soltar Renato Duque e sabendo agora que o acusado aproveitou sua liberdade embolsando novas propinas. Oliver está rolando no chão.

Não detalhem ao apresentador da HBO o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, em operação presidida pela inocência de Dilma Rousseff no Conselho da Petrobras. E, por favor, não digam a ele que esse delito e o do financiamento sujo da campanha dela em 2010 estão sendo engavetados pelos justiceiros “porque Dilma não estava no exercício da Presidência”. Oliver não encontraria fôlego para perguntar, entre gargalhadas histéricas, se um presidente que cometeu um homicídio antes de se eleger também seria poupado de investigações por estar “no exercício da Presidência”.

Dilma Rousseff é a representante máxima de um projeto político podre, que engendrou os dois mais obscenos escândalos de corrupção da história da República, e não pode ser investigada porque... Por que mesmo? Porque o Brasil acredita em qualquer bobagem que lhe seja dita de forma categórica em juridiquês castiço.

Também não contem, por favor, a John Oliver que depois de 2 milhões de pessoas saírem às ruas gritando “fora, Dilma!”, a presidente deu uma entrevista emocionada com a liberdade de manifestação no país que ela ajudou a conquistar. Como se diz “cara de pau” em inglês, perguntaria o apresentador, atônito. Ora, Mr. Oliver, faça essa pergunta ao carniceiro Nicolás Maduro, amigo de fé e irmão camarada da heroína da liberdade.

Assim é o Brasil de hoje. Dilma não pode ser investigada, e a casta intelectual que a apoia espalha que a multidão de verde-amarelo contra a corrupção usava camisas da CBF... Só faltou denunciar os que foram protestar contra o petrolão pegando ônibus com diesel da Petrobras...
Como se vê, a covardia não tem limite. Vejamos se a paciência tem.

sábado, abril 04, 2015

Apertem os cintos, o TelePrompTer travou. Guilherme Fiuza. Política

Apertem os cintos, o TelePrompTer travou
Sinais de angústia tomaram a presidente, enquanto o discurso se enchia de pausas

Guilherme Fiuza


Com todas as tormentas que rodeiam o governo Dilma, nada poderia ser mais grave e ameaçador do que o que se passou na primeira reunião ministerial do segundo mandato. Pior que a inflação, a recessão, o apagão e o petrolão: o TelePrompTer travou. E, sem TelePrompTer, a República prendeu a respiração.
O Brasil é um país irresponsável. Está cansado de saber que, quando Dilma começa a mentir muito, ela trava. Foi assim na campanha eleitoral, quando após um debate na TV ela teve de ser socorrida. Numa entrevista ao vivo, a mente presidencial mergulhara numa tal ciranda desconexa que o equipamento enguiçou. Nem João Santana, com uma junta de mecânicos e eletricistas de última geração, poderia evitar que aquele fusível queimasse. Daí a importância vital do TelePrompTer para o­­s rumos da nação. É a segurança dos brasileiros que está em jogo.
Ainda assim, não obstante todos os a­lertas e advertências, o pior aconteceu. Dilma abria solenemente a primeira reunião com seu novo ministério de notáveis, no clima de esperança e euforia que cerca seu segundo mandato, quando tudo ruiu. O TelePrompTer, pilar da democracia companheira, que garante que a presidente diga coisa com coisa, começou a ralentar. Sinais de angústia tomaram as feições presidenciais, enquanto o discurso ia se enchendo de pausas, numa tentativa de adaptação ao ritmo defeituoso do equipamento golpista. Mas não adiantou.

O TelePrompTer foi então abandonado pela chefe da nação. Ela ainda tentara fazê-lo pegar no tranco, esculhambando ao vivo seu operador – em mais uma cena típica do instinto maternal da “presidenta” mulher. O teor de mentira do discurso de Dilma estava altíssimo naquele momento, e quem sabe pode ter sido essa a causa do apagão no TelePrompTer, porque as máquinas também têm lá sua dignidade. Nem é preciso entrar muito em detalhes sobre o que Dilma estava pregando diante de seu novo e virtuo­so ministério. Basta dizer que ela estava defendendo a... Petrobras. E o nacionalismo. Quando se deu o apagão, a presidente estava dizendo algo como “toda vez que tentaram desprestigiar o capital nacional, estavam tentando na verdade...” Aí travou. Nem o TelePrompTer aguenta mais tamanha carga de cara de pau. Só o cidadão brasileiro ainda tem estômago para isso.

Quase ao mesmo tempo que Dilma denunciava os que tentam desprestigiar o capital nacional, a Operação Lava Jato comprovava como o PT fez para prestigiar o assalto à Petrobras. O consultor Julio Camargo confirmou à Justiça que o pagamento de propinas a Renato Duque, fantoche da turminha de Dilma na Diretoria de Serviços da estatal, era a “regra do jogo”. Em seguida, a informação que num país com um pouco de juízo teria derrubado imediatamente o governo: o empresário Augusto Ribeiro Mendonça Neto, do grupo Toyo Setal, confirmou ter sido orientado a pagar parte da propina por negócios com a Petrobras em forma de doação oficial ao PT.

É preciso repetir, porque muitos leitores a esta altura estão certos de que houve erro de redação na frase acima. O que está escrito lá não faz o menor sentido. Vamos à repetição: está confirmado que o PT inventou a propina legal. Para ganhar contrato com a Petrobras, o fornecedor não tinha de pagar “um por fora” ao diretor da estatal, mas “um por dentro” ao PT. Corrupção transformada em doação oficial ao Partido dos Trabalhadores. Aquele do mensalão, sabe?

O que mais o Brasil quer ver? O que mais você está esperando, prezado cidadão brasileiro, para sair às ruas e enxotar esses cordeirinhos socialistas que estão arrancando as calças da nação? Está esperando a quadrilha dizer a você que só chegará luz a sua casa se você der “um por dentro” ao PT?

Contando, ninguém acredita. Numa tarde quente de domingo, a base parlamentar irrigada pelo petrolão tomava posse alegremente no Congresso Nacional, com direito a selfies sorridentes com seus familiares. Assistindo na TV ao domingo feliz no jardim zoológico, o brasileiro comum bancava a farra com o aumento de impostos decretado pelo governo popular. Pelo visto, essa é a regra do jogo.

Você acha que não? Então mova-se, prezado contribuinte. Até o TelePrompTer do Palácio já se rebelou contra a farsa companheira.

sábado, março 28, 2015

O chavismo vai suicidar você. Guilherme Fiuza. Política

A investigação da morte de Alberto Nisman é um caminho para libertar o continente do golpe
Guilherme Fiuza


O promotor argentino Alberto Nisman ia depor no Parlamento sobre suas denúncias contra a presidente Cristina Kirchner (leia mais a respeito na página 68). Ele a acusava de tentar um acordo espúrio com o Irã para conseguir petróleo para seu país falido. Na véspera do depoimento, Nisman foi encontrado morto com um tiro na cabeça. As autoridades responsáveis pela autópsia não titubearam: suicídio.

Quem está se suicidando é a América do Sul, dando amplo poder a esse chavismo que corrói a Argentina, o Brasil e vários vizinhos. O mais impressionante nem foi a tese obscura sobre a morte de Nisman, mas o fato de o governo Cristina passar imediatamente a se referir a ela como suicídio, quando as investigações apenas começavam e não autorizavam conclusão definitiva alguma. Coisa de bandoleiro.

Se países como Argentina e Brasil não estiverem irremediavelmente bêbados, a morte do promotor Nisman terá de ser o início da derrocada chavista. Tratava-­se de um homem jovem, vibrante, que não apresentava sinais de perturbação, mesmo sob uma pressão avassaladora. Já avisara que sua vida estava em risco. E deixara para a empregada uma lista de compras para o dia seguinte. Quem matou Nisman?

O que se sabe é que seus maiores adversários têm métodos conhecidos. Asfixiam brutalmente a imprensa que se recusa a ser porta-voz do governo. Adulteram os índices oficiais de inflação para enganar a população. Simulam uma guerra patriótica contra o imperialismo financeiro americano para tentar esconder sua condição caloteira e perdulária. Enfim, jogam todas as fichas na propaganda populista – usando a bondade como pretexto e a mentira como arma. Soa familiar?

Claro que sim. É a mesma doutrina do governo brasileiro há 12 anos. Aliás, as políticas energéticas argentina e brasileira são irmãs siamesas. Néstor Kirchner começou e Lula foi atrás, no truque de oferecer ao povo conta de luz artificialmente barata, enquanto as empresas do setor pagavam o pato e iam para o brejo. Cristina e Dilma aprofundaram o populismo tarifário, sendo que a brasileira usou mais de uma vez a cadeia obrigatória de rádio e TV para difundir essa propaganda enganosa. O eleitorado, para variar, caiu como um patinho – e não entendeu o apagão em dez Estados na semana passada.

O governo, então, se apressou a explicar: foi uma falha técnica. Poderia também ter dito que foi suicídio das linhas de transmissão. O fato é que o país não aguentou o pico de consumo, mesmo estando às margens da recessão e, portanto, consumindo energia abaixo do normal. É o clássico do populismo chavista: a infraestrutura arruinada, com a riqueza nacional traficada para a propaganda, os favores fisiológicos e a corrupção. O Brasil renovou por quatro anos a concessão do parasitismo – que acaba de responder com aumento da gasolina, elevação de impostos (cerca de R$ 20 bilhões anuais) e confisco tributário, com o golpe do congelamento da tabela do Imposto de Renda. E apagão.

Como deter essa indústria política envernizada de esquerdismo progressista? A investigação da morte escandalosa de Alberto Nisman é mais um caminho que se abre para libertar o continente do golpe. É a chance de escancarar de uma vez por todas o jogo bruto do chavismo, que fuzila a informação, o conhecimento e a verdade para eternizar seu conto de fadas ideológico. O juiz Sergio Moro, peça central na investigação do petrolão, já sofreu todo tipo de pressões e ameaças veladas, fora as tentativas de desmoralização. A própria Petrobras tentou barrar um pedido de informações do Tribunal de Contas da União sobre a fraude nos gasodutos Gasene. Como se vê, o esquema consegue agir até numa tomada de posição institucional da empresa. E tudo fará para forjar o processo e calar quem quer que seja.

Enquanto isso, Dilma sumiu. Deu o golpe eleitoral, saiu fazendo tudo o que condenava e mergulhou: um mês de silêncio. Mas sua página na internet está bem falante, e um dos assuntos é a “regulação econômica da mídia”. Eles morrerão falando em liberdade de expressão e tramando o controle da imprensa. É a cartilha chavista: fica muito mais fácil “resolver” a morte do promotor Nisman depois de suicidar a grande mídia.

O Brasil precisa decidir urgentemente se quer mesmo cortar os pulsos.

sábado, janeiro 31, 2015

O Brasil tem quatro anos para virar a Argentina. Guilherme Fiuza

O Brasil tem quatro anos para virar a Argentina
Ou levamos a investigação do petrolão até o fim – ou então já pode ir fazendo as malas

GUILHERME FIUZA


Uma grande empreiteira pagou R$ 886 mil a uma empresa de José Dirceu e obteve, em seguida, um contrato com a Petrobras no valor de R$ 4,7 bilhões, para realização de serviços na Refinaria Abreu e Lima. Para quem não lembra, essa é a famosa obra que multiplicou seu valor original pelo menos três vezes e passou dos R$ 40 bilhões. A reportagem de ÉPOCA que mostra a triangulação camuflada sob uma “consultoria” de Dirceu ajuda a entender por que essa refinaria ficou 200% mais cara que ela mesma. Há um outro sócio fundamental dessa transação: o eleitor de Dilma Rousseff.

Essa triangulação, descoberta pela Polícia Federal na blitz conhecida como “Dia do Juízo Final”, se deu entre 2010 e 2011. Exatamente quando Dilma ascendia à Presidência. E Dirceu já era réu no processo do mensalão. As cartas já estavam na mesa, e os anos seguintes apenas as revelaram: Dirceu condenado, e o petrolão descoberto. Quando foi às urnas em outubro passado, o eleitor brasileiro já sabia de tudo: que cardeais petistas haviam plantado uma diretoria na Petrobras para roubar a empresa em benefício da sustentação de seu projeto de poder. Exatamente a mesma tecnologia do mensalão, também tramado de dentro do Palácio do Planalto. Quem votou pela reeleição de Dilma, mesmo que alegue esquerdismo, progressismo, coitadismo ou cinismo, é sócio político do esquema.

A pergunta é: o que será do Brasil nos próximos quatro anos? Algumas vozes respeitáveis têm oferecido um ombro amigo ao governo popular – não para que ele chore suas lágrimas de crocodilo, mas para que não caia de podre. É a tese de que o impeachment é pior para o país do que carregar por quatro anos um governo na UTI. Tudo bem. Só falta combinar com os russos. O segundo mandato de Dilma Rousseff nascerá desmoralizado no país e no exterior. Nesse cenário, como investir no Brasil? Como respeitar as instituições? Como concordar e se submeter às regras do jogo, se o juiz se vendeu na cara de todo mundo?

O mais ortodoxo dos contribuintes, aquele que jamais cogitou sonegar impostos, está revoltado com cada centavo que paga ao Fisco. Caiu a máscara social do PT – e agora todos já sabem que a trilionária arrecadação da União está a serviço de uma indústria de privatização da política. Daí os níveis de investimentos irrisórios, a estagnação da infraestrutura, o desperdício de uma década de bons ventos econômicos sem avançar um milímetro nos sistemas de saúde e educação – enquanto o sistema de corrupção cresceu admiravelmente (o mensalão é troco diante do petrolão), e o bom pagador de impostos não tem mais dúvidas: estão me fazendo de otário.

Traduzindo: o contrato republicano foi rasgado. Se o brasileiro não fosse essa doçura, o primeiro governista que falasse na volta da CPMF seria crucificado em praça pública. Por meio de um dublê de bobo da corte e ministro da Fazenda, o governo assegurou que estava tudo bem com as contas públicas – até avisar, passada a eleição, que daria o golpe na Lei de Responsabilidade Fiscal. A tropa companheira marchou sobre o Congresso e incinerou, ao vivo, o principal compromisso com a saúde financeira nacional. É isso aí: torramos o dinheiro do contribuinte e mudaremos a meta na marra, para legalizar o rombo.

O projeto parasitário do PT está empobrecendo democraticamente ricos e pobres. É sempre indesejável a metáfora do câncer, mas não há descrição mais precisa dessa autópsia: um projeto de poder que plantou células degenerativas a cada movimento no organismo estatal. Como será o embate do respeitável Joaquim Levy com toda a teia de artifícios montada para gerar a famosa contabilidade criativa? Haja quimioterapia.

Seria até esperançoso imaginar que, agora, haverá 100% de esforço e sacrifício em prol do tratamento rigoroso. Só que não... O ponto a que chegou o plano petista não tem volta. A única chance de Dilma, Lula & Cia. é ajeitar as aparências e dobrar a aposta. Do contrário, a mitologia acaba e, aí sim, todos eles pagarão muito caro pelo que fizeram ao Brasil.
Ou o país leva às últimas consequências a investigação do petrolão – se for séria, ela levará a uma inevitável faxina no Palácio – ou pode ir fazendo as malas para a Argentina.

domingo, dezembro 07, 2014

O eleitor consciente não sabia. Guilherme Fiuza. Política

O eleitor consciente não sabia
Guilherme Fiuza
24/11/2014

Os eleitores progressistas de Dilma Rousseff estão radiantes. Foi muito importante a esquerda ganhar a eleição no Brasil. O candidato burguês da elite branca jamais celebraria o Dia da Consciência Negra como o fez a presidente mulher e oprimida. Devota de Zumbi (o que fica claro pelo estilo do seu governo), Dilma exaltou um Brasil que “se orgulha da sua cor”. Se você não sabia, eleitor derrotado da direita capitalista, agora ficou sabendo: o Brasil tem uma cor. E não é a sua, seu branco azedo. Aí você perguntaria: se o Brasil de Dilma é negro, não seria melhor ela entregar logo a Presidência a Joaquim Barbosa e se exilar na Argentina?
Pronto, lá vem a elite branca com a sua vocação golpista. É bem verdade que também há brancos entre os eleitores conscientes que salvaram o Brasil, garantindo mais quatro anos ao PT. Mas é só aparência. São todos negros por dentro. Negros como o petróleo viscoso que jorrou nas contas bancárias do PT e aliados nos últimos dez anos.
A contabilidade criativa do governo popular precisará ser aprimorada. Com toda a perícia no embelezamento dos números, o déficit público estourou
O eleitor progressista do bem votou na candidata do povo já sabendo o que tinha acontecido com a Petrobras. Desde o início do ano a Operação Lava-Jato da Polícia Federal veio mostrando, como numa novela de Aguinaldo Silva, capítulo por capítulo da privatização da maior empresa brasileira pela maior quadrilha brasileira — instalada na diretoria da estatal com as inconfundíveis digitais petistas. Nada disso abalou o eleitor de esquerda, porque ele sabe que privatização perigosa é a dos neoliberais. Se o PT e sua gangue tomam posse do que é do povo, isso é socialismo. No máximo na próxima encarnação você recebe a sua parte.
O que talvez tenha chateado um pouco o eleitor antenado de Dilma foi um detalhe desagradável do caso Petrobras. Só depois de passada a eleição, ele ficou sabendo o nome da empresa offshore do ex-diretor de serviços Renato Duque — um dos prepostos petistas no esquema, que está preso. A empresa depositária das propinas no exterior se chama “Drenos”. Isso magoa um progressista. Mensalão, petrolão, enfim, drenar o dinheiro do povo por 12 anos, prorrogáveis por mais quatro, tudo bem. Mas fazer piada interna com isso é demais. Os companheiros Valério, Delúbio e Vaccari jamais fariam isso. Parece até coisa da elite branca.
Os desvios criados pelo PT nesses três mandatos do governo popular sempre foram coisa séria — dinheiro sujo para financiar a revolução limpa e gloriosa (e os charutos do Delúbio, que ninguém é de ferro). Enfim, roubaram sem perder a ternura. O eleitor progressista e libertário do Rio de Janeiro — que junto com Minas Gerais decidiu a eleição em favor de Dilma — sabia de tudo isso, e explodiu de orgulho do seu voto no PT. Só não sabia que, no meio de toda a sucção revolucionária de dinheiro público, havia um engraçadinho batizando uma offshore do esquema de Drenos. Como assim? Como um companheiro do bem que ama o Nordeste, os negros e os pobres faz uma coisa dessas? Será que ele confundiu socialismo com drenagem?
Vamos acalmar o eleitor de Dilma que livrou o Brasil da direita careta que adora Miami: está tudo bem. Não vá entrar em crise de consciência agora, que tudo deu certo. Quem sabe até “Drenos” seja o nome de um deus grego que simboliza a igualdade entre os homens — uma espécie de Hugo Chávez do Olimpo. Bem, seja qual for o significado de drenagem no novo dicionário da revolução companheira, o que importa é que Dilma e Lula já anunciaram que vão trabalhar duro para “resgatar a imagem” da Petrobras. E nem será preciso trabalhar tão duro assim: com a fortuna do petrolão, dá para comprar toneladas de batom, rímel e blush. A Petrobras vai ficar linda.
Falando em maquiagem, a contabilidade criativa do governo popular precisará ser aprimorada. Com toda a perícia no embelezamento dos números, o déficit público estourou. Os companheiros estão tentando dar o seu jeito, propondo retirar a palavra “superávit” da norma de metas fiscais. É uma solução interessante, altamente progressista. Se der certo, poderá ser estendida a outras áreas — retirando, por exemplo, a palavra “corrupção” do Código Penal. Aí a elite vermelha poderá tocar a sua drenagem revolucionária em paz, sem a chateação dessa imprensa burguesa que odeia o povo.
A gasolina aumentou, a energia vai aumentar muito, o teto da meta de inflação virou piso e os juros voltaram a subir. O que pensam disso os eleitores conscientes e solidários, magnetizados pelo carisma de Dilma Rousseff? Eles não têm dúvida: isso certamente foi alguma maldade neoliberal do Armínio Fraga uns 15 anos atrás. Valha-nos, ó soberano Drenos, e livrai-nos desses conservadores desalmados, filhotes da ditadura. Esquerda unida jamais será vencida, caminhando e cantando e seguindo o cifrão.
Manifestações contra o petrolão são coisa da direita, alertam os progressistas. Dilma fará a mudança. Sendo assim, que o frete não demore, e ela não esqueça suas apostilas no palácio.

Fonte: O Globo, 22/11/2014.