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sábado, junho 20, 2015

Dilma é instrumento de um projeto imoral de poder. Guilherme Fiuza. Política

Dilma é instrumento de um projeto imoral de poder. O país não tem o direito de linchá-la, mas tem o dever de investigá-la
Guilherme Fiuza
04/06/2015

O Ministério Público denunciou João Vaccari, tesoureiro afastado do PT e preso pela Operação Lava Jato, por lavagem de dinheiro. Entre outras manobras, Vaccari é acusado de orientar fornecedores da Petrobras a pagar propinas ao PT através de contratos falsos com a gráfica Atitude. Em São Paulo, o endereço da gráfica coincide com o do diretório do partido. De acordo com as investigações da Polícia Federal, Vaccari também é suspeito de injetar recursos do petrolão na campanha presidencial de Dilma Rousseff. O esquema de manutenção do PT na Presidência da República está revelado em toda a sua obscenidade. Mas Dilma é inocente.

O Brasil é um lugar realmente curioso. É como se uma seita extorquisse seus fiéis para montar um sistema de poder e ninguém desconfiasse do pastor que chefia a igreja – justamente a figura que centraliza o esquema. Vozes cultas e ponderadas sentenciam que Dilma Rousseff não pode ser investigada. E a manada baixa a cabeça.

Pergunta aos especialistas: os bilhões de reais desviados da Petrobras serviram essencialmente ao enriquecimento particular de uma quadrilha de espertos? Resposta especializada aos especialistas: não, o roubo serviu essencialmente ao grupo político que governa o país, para a compra de aliados e despesas gerais com a manutenção do poder – o petrolão. Outra pergunta aos jurisconsultos: seria possível um bando atuar no coração do governo, envolvendo altos diretores da maior estatal do país e altos quadros do partido da presidente, todos eles ungidos por nomeações políticas do poder central, e ali operar por uma década à revelia dos seus chefes e padrinhos? Resposta: sim, num conto de fadas escrito por João Santana.

E eis que surge o mítico balanço da Petrobras, contabilizando a... corrupção! Não é denúncia, não é suspeita, não é lenda: o balanço auditado da maior empresa brasileira atesta, certifica e dá fé que R$ 6,2 bilhões foram roubados pela quadrilha do petrolão. Um momento: de onde saiu esse número oficial? Atenção, Brasil: ele saiu da Operação Lava Jato. Isto é, foi calculado a partir das revelações dos delatores do esquema às autoridades investigadoras. Ou seja: os mesmos dados, as mesmas informações que apontam uso de propinas para reeleger Dilma Rousseff.

E agora? Como as informações que são oficiais para o balanço da Petrobras podem ser inconsistentes para investigar a legitimidade do mandato presidencial?

Deixem de filigranas. O fato central é: os escândalos do mensalão e do petrolão flagraram o Partido dos Trabalhadores como protagonista de um esquema de desvio de dinheiro público para obter e manter seus mandatos presidenciais. Das duas, uma: ou o Brasil assina um pacto de tolerância com a corrupção ou está obrigado a investigar a legitimidade do mandato de Dilma Rousseff.

Como se não bastasse esse escândalo sem precedentes, ainda há a gestão de Dilma como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, com oito anos de soberania no palco onde se davam as tenebrosas transações. Novamente, das duas, uma: ou estamos diante de um caso de conivência ou o caso é de grave omissão. Como saber, sem investigar Dilma Rousseff?

Aí o Brasil se espanta com as pedaladas fiscais. Os escândalos por aqui precisam de apelido para ser notados. O truque de fazer o Tesouro atrasar repasses aos bancos públicos para amenizar o deficit é crime de responsabilidade – e é só um pedaço da grande operação de maquiagem das contas públicas montada pelo PT, a chamada contabilidade criativa (anotem o apelido). O partido do mensalão e do petrolão, que é tarado por truques e álibis, armou uma ciranda entre o Tesouro e o BNDES para o governo poder gastar mais escondendo o aumento da dívida. É um golpe mais grave que a pedalada fiscal, uma espécie de primo pobre do petrolão e do mensalão – com a mesma finalidade de torrar dinheiro público ilegalmente, nesse caso sem passar pelo partido. Aqui, pelo menos, o tesoureiro é inocente.

O Brasil está entrando na perigosa rota de execração à pessoa de Dilma Rousseff, o que sempre será uma covardia. Dilma é instrumento de um projeto imoral de poder, e este é o inimigo real. O país não tem o direito de linchá-la – mas tem a obrigação de investigá-la.

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