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quinta-feira, outubro 10, 2024

O CÃO SEM PLUMAS. João Cabral de Melo Neto

 .


O CÃO SEM PLUMAS.


A cidade é passada pelo rio

como uma rua

é passada por um cachorro;

uma fruta

por uma espada.


O rio ora lembrava

a língua mansa de um cão

ora o ventre triste de um cão,

ora o outro rio

de aquoso pano sujo

dos olhos de um cão.


Aquele rio

era como um cão sem plumas.

Nada sabia da chuva azul,

da fonte cor-de-rosa,

da água do copo de água,

da água de cântaro,

dos peixes de água,

da brisa na água.


Sabia dos caranguejos

de lodo e ferrugem.


Sabia da lama

como de uma mucosa.

Devia saber dos povos.

Sabia seguramente

da mulher febril que habita as ostras.


Aquele rio

jamais se abre aos peixes,

ao brilho,

à inquietação de faca

que há nos peixes.

Jamais se abre em peixes.

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