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quinta-feira, outubro 03, 2019

UIVO. Allen Ginsberg. Poesia.

UIVO
Allen Ginsberg

(trecho inicial)

Para Carl Solomon

Eu vi os expoentes de minha geração destruídos pela
loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em
busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato
celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando
sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis
apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos
das cidades contemplando jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram
anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados
das casas de cômodos,
que passaram por universidades com os olhos frios e radiantes
alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake
entre os estudiosos da guerra, que foram expulsos das
universidades por serem loucos e publicarem odes
obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes de pintura
descascada em roupa de baixo queimando seu dinheiro em
cestas de papel, escutando o Terror através da parede,
que foram detidos em suas barbas públicas voltando por
Laredo com um cinturão de marijuana para Nova York,
que comeram fogo em hotéis mal-pintados ou beberam
terebentina em Paradise Alley, morreram ou flagelaram
seus torsos noite após noite,
(...)

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