terça-feira, julho 23, 2019

PLACEBO? Plínio Junqueira Smith. Poesia.

PLACEBO?
Plínio Junqueira Smith

Acometido de muitas e graves doenças
— Sem esperança, um dos males de Pandora —
Submeti-me, voluntariamente,
A metódica pesquisa médica.

Uma doutora alta, cabelos negros e curtos
Com olhos penetrantes e lábios finos
— Em suma, uma perfeita musa —
Viu em mim todas as enfermidades

E receitou-me antigo e incerto remédio: a poesia
Esperando minha evolução para melhor avaliar o tratamento:
Eficácia, efeitos colaterais, interações medicamentosas.
Tomei-a diariamente, como recomendado.

Quero confessar, hoje, com sinceridade:
Não sei se me puseram no grupo controle
E se ingeri somente inócuo placebo
Em vez de poderosa substância química.

O fato é que, de algumas doenças,
Melhorei e julgo-me curado.
Ainda padeço daquela doença fundamental:
A existência e os afazeres do dia-a-dia.


Plínio Junqueira Smith (1964-)




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