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sexta-feira, junho 29, 2018

Erro médico

"A superação do abuso ou do absurdo. Confesso. A nova edição da revista Super Interessante realmente superou as minhas, já ruins, expectativas.

É uma reportagem extremamente desagradável, preconceituosa, nauseante, manipuladora e acima de tudo, covarde. A fotografia de capa é de uma maldade ímpar. O estetoscópio, instrumento que salva tantas vidas, na imagem DA CAPA, é uma cobra negra, pronta para dar o bote.

A chamada da capa e a reportagem como um todo, se baseiam em ESTIMATIVAS, que segundo a revista, foram conseguidos a partir de: “os pesquisadores analisam uma amostra de casos, calculam o percentual de erros e extrapolam para o total de pacientes atendidos em cada país”. UM COMPLETO ABSURDO, SENSACIONALISTA! São dados manipulados, que não correspondem à realidade, mas que estereotipam e difamam toda uma classe.

Dados médicos VERDADEIROS devem levar em conta todas as possibilidades e circunstâncias que rodeiam o fato\tema em estudo. Para se falar que 1 em cada 10 pacientes morrem por erro médico, deviam apurar se realmente essa morte foi causada por uma conduta culposa/errada do profissional.

Nos dados sensacionalistas ainda não são considerados e nem sequer mencionados os riscos inerentes, os eventos adversos, as complicações, a saúde da população em questão, a falta de condições para exercício da profissão, o descumprimento de recomendações, entre vários outros fatores que tornam a medicina uma ciência de incertezas, imprevisibilidades e probabilidades.

Há dezenas de variáveis que devem ser levadas em consideração para uma afirmação tão impactante. O que se nota é que não houve cuidado, afinal, quem se importa? Tudo que acontece no hospital é erro médico, e erro médico vende, muito!

Seguindo o seu objetivo, a reportagem não analisa as variáveis e as imprevisibilidades impostas à atividade, nem mesmo no momento de se discutir as condenações. Como já trouxemos em outros artigos, mais de 80% dos médicos são absolvidos nos processos judiciais. Mas como explicar? A reportagem sensacionalista, ao invés de buscar os dados reais, julgou mais fácil “seguir a boiada” e concluir como culpa do corporativismo.

Em resumo, para a revista, é a classe que mais mata, que não assume o erro e que possuem os colegas mais solidários, que só se ajudam, “eu não consigo encontrar um médico que concorde em fazer um laudo que possa prejudicar um colega” diz trecho da reportagem.

Mas não acabou. Nesse tipo de reportagem há sempre outro elemento, a caracterização do médico como mercenário. Assim, para a revista, além do ensino decadente, o alto número de procedimentos\exames invasivos e o endeusamento do profissional, ainda há outra causa para “toda essa matança”. Qual? O Dinheiro. Generalizam que o alto número de plantões e o atendimento de vários pacientes por hora é em busca de dinheiro...(CLÁSSICO!).

A abstração e a falta de cuidado e rigorosidade com que se escreve é coroado com um caso cinematográfico CONTADO por uma dita “enfermeira que não quis se identificar”. Há na narrativa da historia componentes perfeitos para uma notícia estrondosa: mulher grávida, esquecimento de material no corpo e morte. Um prato cheio para uma redação sensacionalista!

Uma reportagem desfavorável à todos. Ao médico, que vê MAIS UMA VEZ a difamação da sua classe e do seu trabalho, e que viverá o aumento de agressões e de processos. Podem ter certeza que essa publicação vai impactar no seu dia-a-dia. Mas a reportagem é desfavorável também ao paciente, pois gera a desconfiança, essa que é imediatamente antagônica à relação médico-paciente, essencial para processo de tratamento e cura.

Não protegemos os errados, que sejam condenados nos rigores da lei e paguem pelos seus erros. Contudo, nunca vou compactuar com o sensacionalismo da generalização para vender notícias. Os ruins, na medicina, são poucos, como em qualquer profissão. Os bons, honestos e corretos, não merecem essa covardia.

Médico e Policial no Brasil, atualmente, por uma parte da mídia, são estigmatizados como bandidos. Já os verdadeiros bandidos, são “suspeitos”! Infelizmente, notícia boa não vende!

Amanda Bernardes"

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