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domingo, abril 01, 2018

Eu sou Diógenes, o cão

Eu sou Diógenes, o cão

Diógenes, uma das figuras mais pitorescas da história da filosofia, é reconhecido como o filósofo que desprezou ostensivamente os poderosos e as convenções sociais. Nasceu em Sínope e, exilado de sua terra natal, em Atenas foi discípulo de Antístenes (c.444-365 a.C.), um antigo pupilo de Sócrates, fundador da filosofia cínica. Contam que a sua iniciação como discípulo foi graças a sua obstinação. Logo ao chegar a Atenas, Diógenes deparou-se com Antístenes que não queria acolher a mais ninguém como aluno, rejeitando, assim, o insistente Diógenes que, por sua vez, não deu-se por vencido. Chegando ao extremo da persistência, Antístenes irritado estendeu o seu bastão contra Diógenes que lhe ofereceu a cabeça, acrescentando: “Pode golpear, pois não encontrarás um bastão tão duro que possa me fazer desistir de obter que me digas algo, como a mim parece que devas”. A partir daí tornou-se seu ouvinte e discípulo.

Diógenes levou ao extremo os preceitos cínicos de seu mestre Antístenes. Foi o exemplo vivo que perpetuou a indiferença cínica perante os valores da sociedade da qual fazia parte. Desprezava a opinião pública e parece ter vivido em uma pipa ou barril. Reza a lenda que seus únicos bens eram um alforje, um bastão e uma tigela (que simbolizavam o desapego e autossuficiência perante o mundo), sendo ele conhecido também, como Diógenes o cão. Alexandre, o Grande, certa vez o encontrou e lhe disse: “Eu sou Alexandre, o grande rei”. Diógenes, por sua vez: “E eu sou Diógenes, o cão”.

Diógenes acreditava que os humanos viviam artificialmente de maneira hipócrita e poderiam fazer bem ao estudar o cão. Afinal o cão é capaz de realizar suas funções corporais naturais em público sem constrangimento, um cachorro comerá qualquer coisa, e não fará estardalhaço sobre que lugar dormir. Cachorros vivem o presente sem ansiedade, e não possuem as pretensões da filosofia abstrata. Somando-se ainda a estas virtudes, cachorros aprendem instintivamente quem é amigo e quem é inimigo. Diferente dos humanos que enganam e são enganados uns pelos outros, cães reagem com honestidade frente à verdade.

Interrogado certa feita sobre de qual raça de cão seria, respondeu: “Quando tenho fome, um maltês, quando estou saciado, um molosso, aquela espécie que as pessoas mais elogiam, mas com a qual todavia não têm coragem de sair para caçar por causa da fadiga. Assim, não podeis conviver comigo, porque tendes medo de sofrer”.

Diógenes é tido como um dos primeiros homens (antecedido por Sócrates com a sua célebre frase "Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo.") a afirmar, "Sou uma criatura do mundo, e não de um estado ou uma cidade particular", manifestando assim um cosmopolitismo relativamente raro em seu tempo.

Provavelmente, Diógenes foi o mais folclórico dos filósofos. São inúmeras as histórias que se contavam sobre ele já na Antigüidade. É famosa, por exemplo, a história de que ele saía em plena luz do dia com uma lanterna acesa procurando por homens verdadeiros (ou seja, homens auto-suficientes e virtuosos).

Igualmente famosa é sua história com Alexandre, o Grande, que, ao encontrá-lo, ter-lhe-ia perguntado o que poderia fazer por ele. Acontece que devido à posição em que se encontrava, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para a Alexandre, disse: "Não me tires o que não me podes dar!" (variante: "deixe-me ao meu sol"). Essa resposta impressionou vivamente Alexandre, que, na volta, ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, disse: "Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes."

Outra história famosa é a de que, tendo sido repreendido por estar se masturbando em público, simplesmente exclamou: "Oh! Mas que pena que não se possa viver apenas esfregando a barriga!"

Outra história ainda é a de que um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua. Quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém."



http://culturadetravesseiro.blogspot.com.br/2011/07/diogeneslanternafilosofiadocao.html

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