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segunda-feira, novembro 20, 2017

Se a existência de Deus é por si mesma conhecida

Art. 1 — Se a existência de Deus é por si mesma conhecida.
(I Sent., dist. 3, q. 1, a. 2; Cont. Gent. I, 10, 11; III, 38; De Verit., q. 10, a. 12; De Pot., q. 7, a. 2, ad 2; in Os
8; in Boet. De Trin., q. 1, a. 3, ad 6)
O primeiro discute-se assim — Parece que a existência de Deus é conhecida por si mesma.
1. — Pois são assim conhecidas de nós as coisas cujo conhecimento temos naturalmente, como é claro
quantos aos primeiros princípios. Ora, diz Damasceno: O conhecimento da existência de Deus é
naturalmente ínsito em todos. Logo, a existência de Deus é conhecida por si mesma.
2. Demais — Dizem-se por si mesmas conhecidas as proposições que, conhecidos os termos,
imediatamente se conhecem, o que o filósofo atribui aos primeiros princípios da demonstração; pois
sabido o que são o todo e a parte, imediatamente se sabe ser qualquer todo maior que a parte. Ora,
inteligida a significação do nome Deus, imediatamente se intelige o que é Deus. Pois, tal nome significa
aquilo do que se não pode exprimir nada maior; ora, maior é o existente real e intelectualmente, do que
o existente apenas intelectualmente. Donde, como o nome de Deus, uma vez inteligido, imediatamente
existe no intelecto, segue-se que também existe realmente. Logo, a existência de Deus é por si mesma
conhecida.
3. Demais — A existência da verdade é por si mesma conhecida, pois quem lhe nega a existência a
concede; porquanto, se não existe, é verdade que não existe. Portanto, se alguma coisa é verdadeira, é
necessária a existência da verdade. Ora, Deus é a própria verdade, como diz a Escritura (Jo 14, 6): Eu sou
o caminho, a verdade e a vida. Logo, a existência de Deus é por si mesma conhecida.
Mas, em contrário — Ninguém pode pensar o contrário do que é conhecido por si, como se vê no
Filósofo, sobre os primeiros princípios da demonstração. Ora, podemos pensar o contrário da existência
de Deus, segundo a Escritura (Sl 52, 1): Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. Logo, a existência
de Deus não é por si conhecida.
SOLUÇÃO. — De dois modos pode uma coisa ser conhecida por si: absolutamente, e não relativamente
a nós; e absolutamente e relativamente a nós. Pois qualquer proposição é conhecida por si, quando o
predicado se inclui em a noção do sujeito, p. ex.: O homem é um animal, pertencendo animal à noção
de homem. Se, portanto, for conhecido de todos o que é o predicado e o sujeito, tal proposição será
para todos evidente; como se dá com os primeiros princípios da demonstração, cujos termos — o ser e
o não ser, o todo e a parte e semelhantes — são tão comuns que ninguém os ignora. Mas, para quem
não souber o que são o predicado e o sujeito, a proposição não será evidente, embora o seja,
considerada em si mesma. E por isso, como diz Boécio, certas concepções de espírito são comuns e
conhecidas por si, mas só para os sapientes, como p. ex.: os seres incorpóreos não ocupam lugar.
Digo, portanto, que a proposição Deus existe, quanto à sua natureza, é evidente, pois o predicado se
identifica com o sujeito, sendo Deus o seu ser, como adiante se verá (q. 3, a. 4). Mas, como não
sabemos o que é Deus, ela não nos é por si evidente, mas necessita de ser demonstrada, pelos efeitos
mais conhecidos de nós e menos conhecidos por natureza.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Conhecer a existência de Deus de modo geral e com
certa confusão, é-nos naturalmente ínsito, por ser Deus a felicidade do homem: pois, este naturalmente
deseja a felicidade e o que naturalmente deseja, naturalmente conhece. Mas isto não é pura e
simplesmente conhecer a existência de Deus, assim como conhecer quem vem não é conhecer Pedro,
embora Pedro venha vindo. Pois, uns pensam que o bem perfeito do homem, a felicidade, consiste nas
riquezas; outros, noutras coisas.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Talvez quem ouve o nome de Deus não o intelige como significando o ser,
maior que o qual nada possa ser pensado; pois, alguns acreditam ser Deus corpo. Porém, mesmo
concedido que alguém intelija o nome de Deus com tal significação, a saber, maior do que o qual nada
pode ser pensado, nem por isso daí se conclui que intelija a existência real do que significa tal nome,
senão só na apreensão do intelecto. Nem se poderia afirmar que existe realmente, a menos que se não
concedesse existir realmente algum ser tal que não se possa conceber outro maior, o que não é
concedido pelos que negam a existência de Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A existência da verdade em geral é conhecida por si; mas a da primeira
verdade não o é, relativamente a nós.
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