quarta-feira, junho 02, 2010

POESIA

O ALBATROZ
Charles Baudelaire
trad. Ivan Junqueira

Ás vezes, por prazer, os homens da equipagem
pegam um albatroz, imensa ave dos mares
que acompanha, indolente parceiro de viagem,
o navio a singrar por glaucos patamares.

Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés
o monarca do azul, canhestro e envergonhado,
deixa pender qual par de remos junto aos pés
as asas em que fulge um branco imaculado.

Antes tão belo, como é feio na desgraça
o viajanda agora sério e acanhado.
Um com o cachimbo lhe enche o bico de fumaça;
outro a coxear imita o enfermo outrora alado.

O poeta se compara ao príncipe da altura
que habita os vendavais e ri da seta no ar.
Exilado no chão, em meio à turba obscura,
as asas de gigante impedem-no de andar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário