sábado, junho 05, 2010

MÚSICA Cordel



NAS PORTAS DOS CABARÉS
Antônio Lídio Faustino.

- 'Stava cantando in Goiana
na casa de um amigo
quando uma mulher mundana
pediu pra falar comigo.
Toda cheia de desgosto
as lágrimas banhando o rosto:
- "Sei que poeta tu és!
Por Deus escreva um poema
relativo a meu dilema
nas portas dos cabarés.

"Deixei a casa paterna
com quinze anos de idade
para viver na taberna
d'escândalos e vaidade.
Empregada nos balcões,
nas mais riquíssimas pensões,
nos botequins, nos hotéis...
Numa vida de prazer...
Nunca pensei d'eu sofrer
nas portas dos cabarés!

"Eu só andava no trato,
só vestia o que era bom:
sabonete, pó d'extrato,
rouge, lavanda e batom;
vestidos, sapatos bons,
anéis de ouro e cordões,
reloge caro e anéis...
Na mais importante orgia...
Nunca pensei qu'eu caía
nas portas dos cabarés.

"De chorar tenho razões,
sem ter de meus pais nutiça;
por pai, por mãe, por irmãos
tenho somente a puliça.
A cadeia é o meu prédio,
aguardente é meu remédio,
eu sou mulher de mais de dez...
portanto, minha insistência:
vou sofrer com paciência
nas portas dos cabarés!

"Por Maria Madalena,
vós que fostes sofredora,
vós é que pode ter pena
de uma pobre pecadora.
Eu abandonei meus pais,
vou pedir a São Tomás
e a São Pedro e São Moisés
que suas portas destranquem:
com suas forças me arranquem
das portas dos cabarés!"

- E agora meus senhores
acabei de terminar,
mas hão de me desculpar
este pobre cantador:
quem inda não me agradou
eu tou prostrado a seus pés:
venham me favorecer!
Que é pra ninguém não sofrer
nas portas dos cabarés!

Nenhum comentário:

Postar um comentário