BÍBLIA DOS SONHOS
Alberto de Oliveira
O mar agita-se, como um alucinado:
A sua espuma aflui, baba da sua dor...
Posto o escafandro, com um passo cadenciado,
Desce ao fundo do oceano, algum mergulhador.
Dá-lhe um aspecto estranho a campânula imensa:
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano:
Na cólera do mar, pesa a sua indiferença
Que o torna superior, e faz mesquinho o oceano!
E em vão as ondas se enroscam à cabeça:
Ele desce orgulhoso, impassível, sem pressa,
Com suprema altivez, com ironias calmas:
Assim devemos nós, poetas, no mundo entrar,
Sem nos deixarmos absorver por esse mar
Pois a arte é, para nós, o escafandro das almas!
sexta-feira, março 12, 2010
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