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terça-feira, abril 30, 2013

Ferdinand de Braekeleer de 1849 - O pássaro voou

Igreja. Cristianismo.

646. A ressurreição de Cristo não foi um regresso à vida terrena, como no caso das ressurreições que Ele tinha realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim e Lázaro. Esses factos eram acontecimentos milagrosos, mas as pessoas miraculadas reencontravam, pelo poder de Jesus, uma vida terrena «normal»: em dado momento, voltariam a morrer. A ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. No seu corpo ressuscitado, Ele passa do estado de morte a uma outra vida, para além do tempo e do espaço. O corpo de Cristo é, na ressurreição, cheio do poder do Espírito Santo; participa da vida divina no estado da sua glória, de tal modo que São Paulo pode dizer de Cristo que Ele é o «homem celeste» (572).

Catecismo

DE LIRA. Charles Fonseca

DE LIRA
Charles Fonseca

Um tema, uma frase, a lira tocava, trocava de alma, o verbo da toca, saia palavra. Um vai outro vem, um hi hi hi, foi feito pra mim, pra quem foi pra quem? Quem era a musa, por Zeus foi pra Juno, ficava em jejuno, mulher bem confusa. O vate esteta, da musa fiel, fechou o seu véu, findou a retreta.

Étienne Maurice Falconet, 1757 - Cupido sentado - Musée du Louvre - Paris

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SÓ. Charles Fonseca


Charles Fonseca

Só, um foi o pai.
Só, a multidão.
Só, deu-me a mão.
Só, no peito um ai.

Só, não ao calado.
Só, nem um abraço.
Só, deu-me regaço.
Só, ela ao meu lado.

Só, não subo aos céus.
Só, não desço ao hades.
Só, o verbo e eu vate.
Só, descerro véus.

Adriaen Brower, c. 1635 - Cena da taberna

segunda-feira, abril 29, 2013

FILÓSOFO. Charles Fonseca

FILÓSOFO
Charles Fonseca

Se a musa me afaga alço aos céus, aos seus que são belíssimos. De tal sorte me comovem que ando a querer ser um filósofo.

O cavalo e o cavaleiro.

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DESEJO PRA VOCÊ PRUDÊNCIA, TOLERÂNCIA, SABEDORIA, JUSTIÇA. Charles Fonseca.

Nana Caymmi, Insensatez. De onde vens.

Clique: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=mS90lvB_SOk

domingo, abril 28, 2013

ADMIRA. Charles Fonseca

ADMIRA
Charles Fonseca

A chama quer cama comer beber sorrir sonhar. Concreta urgente carente esperta. Só quer não só só nós gemer sorrir chorar uns ais subir. Descer repouso de novo foi bom baton um gozo. Anatomia fisiologia psicologia agora sim filosofia teologia chego já a contemplar. De novo fagulha na alça de mira na calça braguilha que bom gostosura.

Philip Glass - Morning Passages

Clique: http://www.youtube.com/watch?v=iB0sXWwH_eA&feature=youtu.be

À BEIRA DO VULCÃO. Charles Fonseca

À BEIRA DO VULCÃO
Charles Fonseca

Não sei de quem mais pena eu tenha
Se de mim longe do teu amor
Ou de ti pólo oposto rancor
Talvez dos dois nós iguais em pena

Das emoções recalcadas tantas
Do tanto falado e sem olvido
Do fundo dos tempos ressurgido
Novos vivos sepultado em campas

Dormitam fantasmas em dores hades
Das emoções terreais paixões
Roncam na terra e em explosões
Voltam à tona em nós saudades.

A morte

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sábado, abril 27, 2013

Igreja. Cristianismo.

645. Jesus Ressuscitado estabeleceu com os seus discípulos relações diretas, através do contacto físico (564) e da participação na refeição (565). Desse modo, convida-os a reconhecer que não é um espírito (566), e sobretudo a verificar que o corpo ressuscitado, com o qual se lhes apresenta, é o mesmo que foi torturado e crucificado, pois traz ainda os vestígios da paixão (567). No entanto, este corpo autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as propriedades novas dum corpo glorioso: não está situado no espaço e no tempo, mas pode, livremente, tornar-se presente onde e quando quer (568), porque a sua humanidade já não pode ser retida sobre a terra e já pertence exclusivamente ao domínio divino do Pai (569). Também por este motivo, Jesus Ressuscitado é soberanamente livre de aparecer como quer: sob a aparência dum jardineiro (570) ou «com um aspecto diferente» (Mc 16, 12) daquele que era familiar aos discípulos; e isso, precisamente, para lhes despertar a fé (571).

Catecismo

Étienne Maurice Falconet - Louis XV - Musée Lambinet - Versailles

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JANTAR. Charles Fonseca.

DOS BEIJOS E ABRAÇOS. Charles Fonseca

DOS BEIJOS E ABRAÇOS
Charles Fonseca

Para o bem entendedor basta meia palavra, diziam os antigos. Concordo mas também acho que basta o silêncio, uma só palavra, às vezes só um olhar, o não olhar, o fazer-se de cego, de mudo ou surdo. Ou um abraço mal dado, duro, de lado, esquivo. Até o beijo, quem diria, pode dizer tudo como o disse Judas ao entregar o Messias. Muitas vezes o dar de lado, outras, o dar com empenho, o beijo tipo selinho, o estalado, o premido, o chupado. E ainda assim só o dia a dia, o passar dos anos, o que não volta mais é que diz o que vem à frente.

Claude Monet lendo. Renoir.

Arquivo: Pierre agosto Renoir, Claude Monet Reading.jpg

sexta-feira, abril 26, 2013

PIZZA. Charles Fonseca.

PIZZA
Charles Fonseca

Uma lágrima rolou
Coração feito em pedaços
Um sonho um cadafalso
O real asas voou

Não terminou tudo em pizza
Outras além dela Zucca
Barra Farol ele em busca
Por que quando onde a rixa

Uma história comprida
Um caminhar ele a sós
Foi vira-mundo, que dó,
Dos três, dois, um em partida.

Estátua de Antonio Conselheiro. Mário Cravo.

Igreja. Cristianismo.

644. Mesmo confrontados com a realidade de Jesus Ressuscitado, os discípulos ainda duvidam (561) de tal modo isso lhes parecia impossível: julgavam ver um fantasma (562). «Por causa da alegria, estavam ainda sem querer acreditar e cheios de assombro» (Lc 24, 41). Tomé experimentará a mesma provação da dúvida (563), e quando da última aparição na Galileia, referida por Mateus, «alguns ainda duvidavam» (Mt 28, 17).É por isso que a hipótese, segundo a qual a ressurreição teria sido um «produto» da fé (ou da credulidade) dos Apóstolos, é inconsistente. Pelo contrário, a sua fé na ressurreição nasceu — sob a acção da graça divina da experiência directa da realidade de Jesus Ressuscitado.

Catecismo

MULHER E FILHA


MULHER E FILHA, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

A HERANÇA. Charles Fonseca

A HERANÇA
Charles Fonseca

No dia 12 de janeiro na Cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos ele recebeu um grande presente de aniversário: a manutenção de sua preciosa vida. Não foi o primeiro presente do tipo, foi o segundo. Quase ocorreu o terceiro. Cidade do salvo à dor... oh dor! Saudade do bom que se foi, do belo que era, do justo que se pretende. Não é querer demais. Mais bem querer, mais haver, mais a ver, a ti não ter, minha bela e desgovernada Bahia de todos os pecados, todos os sofrimentos, todos os senões e eu ao sul de ti onde não existe o pecado a não ser os mesmos que ao norte tu sofres, minha amada terra natal, onde recebi minha herança em vida, o maior privilégio, a maior alegria da chegada, a maior tristeza se a perder em vida, mesmo distantes os meus amados estão perto, bem guardados, dentro do peito.

Ercole Ferrata, 1660-1664 - A Morte de Santa Inês - Sant'Agnese em Agone - Roma

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quinta-feira, abril 25, 2013

Variados enfoques da síndrome de alienação parental

Clique: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_aliena%C3%A7%C3%A3o_parental

URUBICI. NEM URUBU SOBE ATÉ AQUI.


URUBICI. NEM URUBU SOBE ATÉ AQUI., upload feito originalmente por Charles Fonseca.

Auto retrato. JMW Turner

Arquivo: Turner selfportrait.jpg

AS APARIÇÕES DO RESSUSCITADO

642. Tudo quanto aconteceu nestes dias pascais empenha cada um dos Apóstolos – e muito particularmente Pedro – na construção da era nova, que começa na manhã do dia de Páscoa. Como testemunhas do Ressuscitado, eles são as pedras do alicerce da sua Igreja. A fé da primeira comunidade dos crentes está fundada no testemunho de homens concretos, conhecidos dos cristãos e, a maior parte, vivendo ainda entre eles. Estas «testemunhas da ressurreição de Cristo» (556) são, em primeiro lugar, Pedro e os Doze. Mas há outros: Paulo fala claramente de mais de quinhentas pessoas às quais Jesus apareceu em conjunto, além de Tiago e de todos os Apóstolos (557).

643. Perante estes testemunhos, é impossível interpretar a ressurreição de Cristo fora da ordem física e não a reconhecer como um facto histórico. Resulta, dos factos, que a fé dos discípulos foi submetida à prova radical da paixão e morte de cruz do seu Mestre, por este de antemão anunciada (558). O abalo provocado pela paixão foi tão forte que os discípulos (pelo menos alguns) não acreditaram imediatamente na notícia da ressurreição. Longe de nos apresentar uma comunidade tomada de exaltação mística, os evangelhos apresentam-nos os discípulos abatidos (de «rosto sombrio»: Lc 24, 17) e apavorados (559). Foi por isso que não acreditaram nas santas mulheres, regressadas da sua visita ao túmulo, e «as suas narrativas pareceram-lhe um desvario» (Lc 24, 11) (560). Quando Jesus apareceu aos onze, na tarde do dia de Páscoa, «censurou-lhes a falta de fé e a teimosia em não quererem acreditar naqueles que O tinham visto ressuscitado» (Mc 16, 14).

Catecismo

FRIO DA SERRA CATARINENSE


FRIO DA SERRA CATARINENSE, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

DIVERSIDADE. Charles Fonseca.

DIVERSIDADE
Charles Fonseca

É doce o lazer no mar
Nas ondas azuis da Bahia
Onde o vento ali cicia
Segredos de Iemanjá

Manifestações do sagrado
Dos povos de além mar
Cristianizados acá
Sincretismos acoitados

Melhor que agnósticos
Ateus com todo o respeito
Melhor muçulmanos perfeitos
Deistas demais católicos

Apostólicos romanos
Protestantes dissidentes
Ortodoxos decentes
Até credos africanos.

Auto retrato. Da Vinci.

Arquivo: Leonardo da Vinci - Self-Portrait - WGA12798.jpg

quarta-feira, abril 24, 2013

Igreja. Cristianismo.

641. Maria Madalena e as santas mulheres, que vinham para acabar de embalsamar o corpo de Jesus (550), sepultado à pressa por causa do início do «Sábado», no fim da tarde de Sexta-feira Santa (551), foram as primeiras pessoas a encontra-se com o Ressuscitado (552). Assim, as mulheres foram as primeiras mensageiras da ressurreição de Cristo para os próprios Apóstolos (553). Em seguida, foi a eles que Jesus apareceu: primeiro a Pedro, depois aos Doze (554). Pedro, incumbido de consolidar a fé dos seus irmãos (555), vê, portanto, o Ressuscitado antes deles e é com base no seu testemunho que a comunidade exclama: «Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão» (Lc 24, 34.36).

Catecismo

Um frio la fora, cá dentro crepito. De dia agito, de noite, agora. Charles Fonseca

VÉU. CharlesFonseca

VÉU
Charles Fonseca

Cada um carrega a sua dor
O seu amor total a sua entrega
O seu recalque da refrega
Seu cravo ao peito a sua flor

Sua razão pra outros só loucura
A sua fé outra que ao incréu
É reles mito é tudo um véu
Ao real que é duro, é esfoladura.

terça-feira, abril 23, 2013

Domenico Fontana, c.1580 - Vista da Capela Sistina Santa Maria Maggiore - Roma

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A FELICIDADE. Charles Fonseca

A FELICIDADE
Charles Fonseca

Se a felicidade bater, levanto ou se de pé vou rápido abrir a porta do meu coração, deixo ela fazer morada comigo e eu com ela. Bom que ela bata logo. Encontrará o seu lugar, o seu afago, a sua veneração, a minha mão, o meu olhar, um alisar, não corra não. Fique pra sempre, eu tão cansado, gosto de agrado, de querer bem, você já vem?

SERRA CATARINENSE.


SERRA CATARINENSE., upload feito originalmente por Charles Fonseca.

PIXINGUINHA (Documentário Completo)

Clique: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=9GORmbtsKC0

GertrudeStein. Pablo Picasso.

Arquivo: GertrudeStein.JPG

FACEBOOSKANDO. Charles Fonseca

FACEBOOSKANDO
Charles Fonseca

O facebook é a mostra do seu universo de relacionamento digital. Quanto mais "amigos" mais a diversidade. Entre 384 participantes de minha página, com certeza tenho amigos que não quero perder de vista jamais. Destes, tenho os que me são mais chegados que irmãos, outros e outras muito mais que isso. Os demais são aves de arribação. Chegam de outras vivências, põe seus ninhos, tiram seus filhotes, migram para as suas origens. Não se ligam, pouco têm a dizer. Outros têm muito, mas, quanta bobagem, quanto pensamento rasteiro, quanta necessidade de aparecer estes aparecildos! Meu nome é Amorildo. Por isso vou convivendo neste meu mundinho, nessa diversidade. Confesso que tenho saudades imensas e perpétuas, outras nem tanto. Mas esse facebook pra mim tem uma importante função terapêutica, vicária. Todos os dias mato saudades de alguns que também todos os dias aparecem nessa rede virtual. E eu que queria tanto os ter na minha rede analógica, nesse olhar carinhoso, nessa risada, nesse consolar mútuo! E como seria gostoso ouvi-los em suas aventuras e desventuras, uma mão tocando a outra, o beijo carinhoso, o abraço apertado, o amigo mais que fraterno, as que jamais serão minhas musas, pois que tenho uma única e insubstituível mas que fantasiam isso ou aquilo, se identificam, se assemelham, até se posicionam como reservas, com reservas, prontas e me suprirem de generosas doses de carinho e compreensão em momentos mais graves. Mas estou aqui, nessa lagoa da Conceição, nesse paraiso de montanha, lagoa, mar, floresta. Muito ainda me resta. Muito mais quero viver. A muitos ainda quero ver. De alguns todos os dias, noites a dentro sinto saudades, esses meus amores atávicos que os terei por toda a minha vida.

Domenico Fontana, 1585-1587 - Fontana dell'Acqua Felice - Moses Fountain Piazza di San Bernardo - Roma

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BARDO. Charles Fonseca

BARDO
Charles Fonseca

Era morena era rosa
O short daquela morena
Ele em baixo ela em cima
Da amurada, gostosa,

De ver mais que de ouvir
De tanto querer algo mais
Jogou fora incapaz
O rapaz lá no porvir

Por herança muito medo
Pensava vir a ser rica
Ficou refém de intriga
Atávica em segredo

O seu rapaz era cravo
Era trave à sua frente
Travo era infelizmente
E era vate era um bardo.

segunda-feira, abril 22, 2013

CAFÉ DA MANHÃ. Charles Fonseca.


CAFÉ DA MANHÃ, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

O túmulo vazio. Catecismo.

O TÚMULO VAZIO

640. «Por que motivo procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou» (Lc 24, 5-6). No quadro dos acontecimentos da Páscoa, o primeiro elemento que se nos oferece é o sepulcro vazio. Isso não é, em si, uma prova directa. A ausência do corpo de Cristo do sepulcro poderia explicar-se doutro modo (544). Apesar disso, o sepulcro vazio constitui, para todos, um sinal essencial. A descoberta do facto pelos discípulos foi o primeiro passo para o reconhecimento do facto da ressurreição. Foi, primeiro, o caso das santas mulheres (545), depois o de Pedro (546). «O discípulo que Jesus amava» (Jo 20, 2) afirma que, ao entrar no sepulcro vazio e ao descobrir «os lençóis no chão» (Jo 20, 6), «viu e acreditou» (547); o que supõe que ele terá verificado, pelo estado em que ficou o sepulcro vazio "', que a ausência do corpo de Jesus não podia ter sido obra humana e que Jesus não tinha simplesmente regressado a uma vida terrena, como fora o caso de Lázaro (549).

Catecismo

Rembrandt van Rijn - Auto-Retrato

Arquivo: Rembrandt van Rijn - Auto-Retrato - Google Art Project.jpg

CHOREI. Charles Fonseca.


CHOREI
Charles Fonseca

Chorei, chorei. A recebi descendo a escada, tão linda aquela mulher, tão menina aos meus olhos, sempre. Quando a recebi pela primeira vez, com alegria, abracei. A quem nunca tinha abraçado antes, abracei. E agora eu de novo a dar-lhe a mão, eu a encaminhá-la simbolicamente ao destino de sua escolha, aquela mulher ao meu lado, minha paixão, uma mulher parte de mim mesmo e eu ali a entregar-lhe aos cuidados de outro homem, na saúde ou na doença, na alegria e na tristeza. E ela tão saudável e tão alegre eu tão miserável fraquejei e não era pra chorar, não era. Chorei. 

Chorei do princípio ao fim. Tornei a chorar do mesmo modo.

Clique: https://www.facebook.com/photo.php?v=553900911321572&set=vb.100001050042897&type=2&theater

APÓS FOICE. Charles Fonseca.

APÓS FOICE
Charles Fonseca

Quando voltar o teu amor
Ao que de ti ficou tão pobre
Quando voltares a ser nobre
A superares toda a dor

Inda haverá por sobre a terra
Quem o afeto desprezou
Quem na saudade te amou
E que pra ti no além já era?

Michelangelo Pietà Palestri

Arquivo: Michelangelo Pietà Palestri.jpg

O VENTO. Charles Fonseca.

O VENTO
Charles Fonseca

Foi ditada uma verdade mentirosa durante anos, à socapa. Um matraquear de oitiva lento, incessante. Sucesso absolutamente relativo. A ditadura enterrada. As prisões portas abertas. Os detentos capengantes. Do exílio, pouco a pouco, chegam pedaços de novo vir a ser. O tempo corre, o vento leva.

Nós dois. Cartola.

Clique: http://www.youtube.com/watch?v=yBv5bBTzAWA

domingo, abril 21, 2013

AMORILDO. Charles Fonseca.

AMORILDO
Charles Fonseca

Meu nome é amorildo do amor divino. Aqui o que não falta é amor. Muito sentimento, muita emoção, pouco a quem distribuir, os de minha preferência distantes, distanciados, distanciantes. Que fazer? Encontrar alternativas vicárias. O fato é que tenho que andar no por e pelo amor. Assim, o mais lógico é que encontre irmãos mais perto, quem sabe esteja ao meu lado e eu sem lhe ver. Primo pelo bom belo e justo mas sou tão cego, surdo e mudo... Onde os primos?. E filhos por perto onde os achar sem nunca esquecer os meus distantes? Até uns netinhos que bom seria se estivessem por aqui por perto, biológicos, sim, de preferência. Mas se distantes, vicariamente tenho que olhar em torno, transbordar para os próximos que surgirem e compartilhar com estes também, esse sentimento que é o que me faz viver em paz, na fé e na esperança de dias melhores.

Sou corajoso mas nem tanto. Charles Fonseca.


MESURA. Charles Fonseca.

MESURA
Charles Fonseca

Musa? Não, não é. Mas que põe mesa, isso põe. A beleza também à mesa. Esta a minha mesura. Minha musa está em todo lugar, no meu pensamento, nas minhas orações poucas, confesso. Muitas as dela. Admirável. Como pode ser tão espírito num corpo tão gostoso de se ver e por aqui podo a pergunta. Gosto da poda. Fui de vagarinho, pra não espantar a pombinha que não era a do Espírito Santo, nem da Paraíba, nem das Alagoas, muito menos da Bahia, de onde é ela, de onde é ela? Floripa na mente respondo que é mulher dos grotões das Minas Gerais com estágio no Rio de Janeiro e que aportou na Bahia de todos os santos e dos meus não poucos pecados. E que por lá ficou quinze anos como filha de santo à espera deste pai de santo dos mistérios. Oxalá. Tomara. Desejo que assim seja, que continue, até que eu vá pedir a São Pedro abrir a porta pra eu entrar, tenho vaga assegurada pelo seu superior maior. E se puder, vou ver se subo mais alguns degraus pois que se eu não melhorar mais por aqui no aquém lá no além ela estará, num plano mais elevado mas não custa chegar pertinho dela que é como eu aqui ando a fazer.

Desconhecido Mestre Romano, do século 4 aC - mármore Heracles Lutando contra o Lion - O Hermitage em São Petersburgo

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PROLEGÔMENOS. Charles Fonseca.

PROLEGÔMENOS
Charles Fonseca

Só um namorico. Treze anos de idade, juvenil ainda, um começo de erótico a esbolsar. Não está errada a palavra, não. A origem estava em duas bolinhas a crescer, uma voz a destoar. O gato que dormia em saco de armazém começando a se espreguiçar. Quer namorar comigo? Escreveu num papel e passou pra ela nos bancos da igreja. Duas pombinhas a crescer sob a blusa azul, um olhar olho no olho, eu olho naquilo. Sim, veio a resposta por escrito. Namoro formalizado, passado em papel. Mas a menina era muito presa. Namorar na porta da casa dela, nem pensar. Entre um hino e outro, uma oração e outra, o sermão do reverendo a correr, uma mão na mão, o livro sagrado cobrindo o profano a se elevar. A fé nas almas, no corpo algo a vibrar, nela algo a se contrair. Mas não passava disso. O olhar severo do pai andava por perto. Feneceu aquele amor primeiro, broxou. E a priminha? Partiu pra ela e ela correspondeu. Agora, sim. Camisa passada, a perfumada água Velva no rosto, calça engomada, vinco perfeito, lá ia pra conversar com a distinta. Mão na mão, pra começar, mão naquilo a maquinar. Namoro na varanda da casa, nem de portão podia. Uma vez, duas vezes, tava na hora de diminuir a conversa e agir, avançar. Súbito, ela aparece com um distinto na porta da igreja, mão na mão. O primeiro corno. Quantos dei, quantos me deram?Melhor calar, essas coisas não se falam. Come quieto, come calado, a regra de ouro.

EM QUALQUER QUARTO DE LUA. Charles Fonseca.


INVEJA. Charles Fonseca.

INVEJA
Charles Fonseca

Quando o desamor bateu à porta ele se viu só. Sem parentes, colaterais também não. E o que mais? O de menos, o ódio velado, a inveja. Um cajado a apascentar iguais. Dos grotões da espia o movimento dos fantasmas incorporados à luz do dia. Uns burburinhos, uns rumorejos, uns crocitar. E o velho a martelar: você é muito invejado.

BAILARINO


BAILARINO, upload feito originalmente por Charles Fonseca.

sábado, abril 20, 2013

ARQUEJO. Charles Fonseca.

ARQUEJO
Charles Fonseca

Um bom lugar pra navegar, pra se amar, pra um luar, um por de sol. Lugar de ficar numa boa esta minha lagoa da conceição. Aqui também quero que seja a lagoa da ressurreição dos vivos mortos, dos mortos vivos que não sabem que aqui bate um coração, fingem que não, riem assim, mentira vã. Quando vierem quem sabe ainda foi-se a restinga, a praia mole, a joaquina que me console, adeus amares, sem chororô, ai jurerê, penar pra que? Restam os mares, os meus luares, o estrelejo, quando te vejo, tenho saudade, distante a hora, vem sem demora, de amar arquejo.

Hans Holbein, o Jovem

Arquivo: Darmstadtmadonna.jpg

Igreja. Cristianismo.

AO TERCEIRO DIA, RESSUSCITOU DOS MORTOS

638. «Nós vos anunciamos a Boa-Nova de que a promessa feita aos nossos pais, a cumpriu Deus para nós, seus filhos, ao ressuscitar Jesus» (Act 13, 32-33). A ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo, acreditada e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada como parte essencial do mistério pascal, ao mesmo tempo que a cruz:

«Cristo ressuscitou dos mortos.
Pela Sua morte venceu a morte,
e aos mortos deu a vida» (542).

I. Acontecimento histórico e transcendente

639. O mistério da ressurreição de Cristo é um acontecimento real, com manifestações historicamente verificadas, como atesta o Novo Testamento. Já São Paulo, por volta do ano 56, pôde escrever aos Coríntios: «Transmiti-vos, em primeiro lugar, o mesmo que havia recebido: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras: a seguir, apareceu a Pedro, depois aos Doze» (1 Cor 15, 3-4). O Apóstolo fala aqui da tradição viva da ressurreição, de que tinha tomado conhecimento após a sua conversão, às portas de Damasco (543).

Catecismo

TATOO. Charles Fonseca


TATOO
Charles Fonseca 

Uma mulher de busto belíssimo, rosa claro a sua pele. Nua. Da barriga pra cima o corpo coberto em tatuagem cobrindo as tetas. Mais acima um colar de tatuagem a sustentar a “blusa”. Oh musa atroz, quem foi o algoz que te fez tirar de minha vista o gozo de te ver tão bela? Por que escondes a nós homens o que gostamos de alisar, apalpar, ver o arrepiar da pele, o arrebitar dos biquinhos ávidos de uma língua de veludo, de um mordiscar suave, de um reflexo condicionado tão herdado desde o tempo das cavernas? De um amassar devagarinho, devagarinho, de um sugar tão terno? Um preparo tão doce quanto o mel que de ti verte preparando o vestíbulo, o caminhar do viajor ao mais fundo deste vulcão que és?

Cosimo Fancelli, 1668-1669 - Anjo com o Sudário - PonteSant'Angelo - Roma

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EVOLUÇÃO. Charles Fonseca.

EVOLUÇÃO
Charles Fonseca

Evoluí. Não uso mais roupa nenhuma. Só durmo nu, uma beleza. Nada me apertando. Eu é que por prazer e dever de ofício dou meus apertos. Tudo balançando. Bimbalham os sinos. Tudo vibração. Aleluias em hinos. Você, meu caro amigo, se já não o faz, experimente uma vez por semana. Diz pra ela que está fazendo uma promessa. Uma experiência, uma regressão, um renascimento. Nu.

sexta-feira, abril 19, 2013

Piazzola Yo Yo Ma Libertango

Clique: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_tMgVMxG95A

Soneto à lua. Vinicius de Moraes

Soneto à lua
Vinicius de Moraes

Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?

Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?

Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:

E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!

JANTANDO COM A FAMÍLIA. Charles Fonseca.


INSONIA.Charles Fonseca

INSONIA
Charles Fonseca

Há tantos poemas medíocres
Que os fiz após a morte
Do sono que de tal sorte
Livrei-me de insônias tristes

Daquelas tão abissais
Tão plenas de só senões
Que ao tê-las os vilões
Fantasmas gemem ais.

Agora eu, por exemplo,
Este faço a minha amada
Que insone me aguarda
Nu meu verso solto ao vento.

UM ASSOMBRO À SOMBRA. Charles Fonseca.


LIVRO. Charles Fonseca

LIVRO
Charles Fonseca

Minha vida é um livro aberto. Tudo o que sou a nível consciente está exposto no meu blog desde 2006 e no facebook mais recentemente. E eu com isso¿ Podem folhear à vontade. São páginas explícitas, muitas medíocres, uma líricas, aqui ou acolá uma dor, uma flor beira caminho, um passarinho, um criador incriado, uma fé aqui ta fundo aqui ta raso. Não tenho grandes posses, umas roupinhas, objetos de toucador. Um carrinho, símbolo de poder pequeno. Uma mulher, símbolo de grande virtude, sua filha, uma joia preciosa que fica na ostra o mais das vezes mas que quando sai brilha ao luar, as estrelas luzentes competem com ela. Dois filhos meus, a minha herança são eles, já recebi em vida, um privilégio. Por enquanto um netinho ao longe, distante, ainda bebê. Mas que fazer? O ninho vazio, um dia chega pra uns de um modo, pra outros de modo semelhante. É só esperar. Eu não pude esperar tanto. Mas minha casa é um novo ninho, a porta aberta, o que mais resta? Escrever o que não sei dizer às claras nem porta travessa. Que meu nome está errado, meu nome é Amorildo do Amor Divino, sem os sobrenomes orleans e bragança nem os algarves de castela e aragão. Pra que brazão?

Jacopo Pontormo

Arquivo: Jacopo Pontormo 062.jpg

quinta-feira, abril 18, 2013

Igreja. Cristianismo.

636. Na expressão «Jesus desceu à mansão dos mortos», o Símbolo confessa que Jesus morreu realmente, e que, por ter morrido por nós, venceu a morte e o Diabo «que tem o poder da morte» (Heb 2, 14).

637. Cristo morto, na sua alma unida à pessoa divina, desceu à morada dos mortos. E abriu aos justos, que O tinham precedido, as portas do céu.

Catecismo

FÃ CLUB DE FREUD.


PELOURINHO. Charles Fonseca

PELOURINHO
Charles Fonseca

Nas horas caladas da noite ais dos corpos, gemidos das almas abraçadas e sós. Corria a miséria dos ricos dos pobres até de almas nobres paixão desidéria. E o azougue a zunir, o chicote a bater, um negro a gemer, o outro a sorrir. Assim foi a escravidão visível. Ficou a invisível na letra morta, na lei dita áurea, mentira, só aura, batendo à porta. Os nobres, os ricos aos poucos saindo, grotões da miséria dos corpos sem sexo, todos sem nexo, a carne pedindo. A falsa candura em nada encobria, os ais agonias, sem sexo, oh dor. Assim ficaram as negras retintas, algumas meninas, poucas branquinhas, dinheiro a morrer. Pra bolsa das pobres dos bolsos que tantos calavam os prantos, moedas de cobre. Chega meu bem, dizia a puta, dengosa, arguta, vem fazer neném. Meu Deus, umas pobres, dos ricos miséria, calando a matéria, os gozos, os gozos...

Vitrola - Trailer

Clique: http://www.youtube.com/watch?v=4do0m2CndNI&feature=em-uploademail

CUMBUCA. Charles Fonseca.

CUMBUCA
Charles Fonseca

Quer o que o outro não tem pra dar. Ele só tem o amor de amizade. O amor passional ele o tem mas o destino é outro. Sem jogo de sedução, sem charminho. E agora. Um só o meu ninho. Uma só a minha musa, mulher confusa. Sou macaco velho, não boto a mão em cumbuca. Longo tem sido o meu caminho e no meu trilhar já encontrei muitos casos assim, sem distinguir ninguém em particular. Tudo é flor,tudo é mel, depois vem o fruto em fel. 

Buglione Benedetto, 1484-1487 - Brasão de armas Apoiado por TwoAngels Musei Vaticani - Vaticano

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quarta-feira, abril 17, 2013

AO DEUS DARÁ. Charles Fonseca.

AO DEUS DARÁ
Charles Fonseca

Não nunca decifrar-te esfinge
Só olhar-te só bem à distância
Não tão longe pois que a vista cansa
Nem tão perto que a vera atinge

Pobre coração cansado mágoas
Vejo ao longe agora em refrigério
Da fornalha ardente em desidério
Que minh’alma foi, sumo nas águas

Deste mar aberto oceano
Riacho, rio, remanso, rochas
Saltos, catadupas, pororocas
Mulher em águas tépidas amo

Aquela que foi é e será
Que sendo não é mulher ao longe
Mito, esfinge, tu sabes onde
Sem ela morro ao Deus dará.

FRANCISCO


RELÓGIO DAS DORES. Charles Fonseca.

RELÓGIO DAS DORES
Charles Fonseca

As horas passam rápidas
Sobre o relógio das dores
Para uns afastam flores
Para outros chegam as lágrimas

Vertem de um solidão
De dois ais de prazer
De muitos dor de sofrer
De todos saudades vãs.

Vincent Willem van Gogh. Pintura.

Arquivo: Vincent Willem van Gogh 097.jpg

Bach: Cantata "Alles Nur Nach Gottes Willen", BWV 72 - Masaaki Suzuki

Clique: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=O35Hxwr0abk

O QUE E O QUEM. Charles Fonseca.

O facebook fica a me perguntar no que estou pensando. Estou pensando em quem. Em você que não diz que me ama eu que tanto fico com saudade, mulher. Em você, macho durão, que não entrega os pontos e não diz que a vida fica triste sem ela, que nada diz nem com um olhsr que muitas vezes diz tudo.

Pierre Verger. Fotografia.



terça-feira, abril 16, 2013

SEM-VERGONHICE. Charles Fonseca. Poesia

SEMVERGONHICE
Charles Fonseca

Gosto de sem vergonhice. Pra que tanto pudor, se entre nós há um amor? Se tu és a minha musa, por Juno, por Apolo pelas barbas do profeta! Será que ele gostava? Acho que sim. Se não, como prometer um harém a quem se sacrificasse no aquém? Para ti é minha verve, minha verga que sustenta o telhado onde mia um gato gozado. Dizem que quem faz estardalhaço é ela, ele não, come calado o seu quinhão. Que rima! Que estima! Quer ainda? Como não? Como sim! Ai de mim que fantasio, ai de mim preso a este corpo, o meu no teu eu qual corço, em curso a minha alma, em percurso, aprendendo e nós dois que estamos fazendo?

"JOVEM GUARDA-AS MELHORES SELECIONADAS POR MIM PARTE 05"

Clique: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=PC0qSkOkpao

CHISTE. Charles Fonseca.

CHISTE
Charles Fonseca

Minha musa é matéria
Também ser espiritual
Eu, um poeta carnal
Ela, filosofa séria

Seria melhor o contrário
Eu amigo da sabedoria
Ela somente alegria
Gozo, sem nada calvário.

Mas um Gólgota existe
Um nascer de manjedoura
De permeio pecadora
Minha alma em corpo, chiste.

Bengt Erland Fogelberg, 1830 - Odin - Nationalmuseum - Estocolmo

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ISABELA. Charles Fonseca.

ISABELA
Charles Fonseca

Eis que chega, é tão bela,
É a minha herança dada
Sua mãe e eu por nada
Troco o amor tenho por ela.

- Quem é ela, quem é ela,
Tão linda, parece rosa?
- É nossa filha formosa,
O seu nome é Isabela.

MINHA MÃE. Charles Fonseca.


Minha mãe., upload feito originalmente por Charles Fonseca.

A MUSA. Charles Fonseca

A MUSA
Charles Fonseca

A musa é uma mulher muito ciumenta. Quer que o artista só pense nela, só coma ela, só respire ela, abraço nela, beijo de língua, só olhe pra ela. Na é qualquer uma, como as outras pensam que são. Ela é a sã paixão, a devoção. E agora e agora? Agora é agüentar firme, faz que olha, faz que olha. Ou então me olha, molha. Por que não quero, por que não gosto, é só pra ela o meu negócio, o meu ócio, não sou beócio. Jogo de fita, mulher aflita, não agüenta o tranco, brinca e desbrinca, carrego nas tintas. Levanto o pincel não é uma brocha, é uma tocha, atocha, atocha. Eu quero a musa, mulher confusa. Ela é matéria, tão ao meu lado, não é de agora, longo caminho, a dois, a dois.

FLORIPANAMENTE. Charles Fonseca.

OLHA PRO CÉU, MEU AMOR. Charles Fonseca

OLHA PRO CÉU, MEU AMOR
Charles Fonseca

Nosso caso é demorado
É como do mosto ao vinho
Quanto mais velho carinho
Rebrota em flores no galho

É como a maré cheia
Que se quebra na praia
Que à vazante espalha
Búzios sonoros na areia

Que contam de Iemanjá
Cicios pro pescador
Que acredita no amor
Que mora no fundo do mar.

É como o estrelejo
Onde brilham tão distantes
Estrelas de outros instantes
Choram saudades, adeuses.

Luiz Americano. Lea.

Clique: http://www.youtube.com/watch?v=VxLleT7bz1s&feature=em-uploademail

segunda-feira, abril 15, 2013

"Lula privatizou a si mesmo". Guilherme Fiúza

"Lula privatizou a si mesmo".
Por Guilherme Fiúza

O Ministério Público pediu à Polícia Federal abertura de inquérito contra Lula. A base do pedido é a denúncia de Marcos Valério, que o acusa de ter intermediado um repasse de R$ 7 milhões de uma telefônica para o PT. Valério afirmou que foi a Portugal em 2005 para preparar essa operação.

O Ministério Público parece que bebe. Será possível que os procuradores ainda não entenderam? Lula não sabia. Tanto não sabia, que até outro dia afirmava, para quem quisesse ouvir, que o mensalão não existiu. A condenação de seus companheiros mensaleiros, aliás, deve ter sido um choque para ele. Se é que ele já sabe o que aconteceu no Supremo Tribunal Federal.

É uma injustiça essa suspeita de armação petista para sugar milhões de uma empresa privada de telefonia. Todos sabem que o PT prefere extorquir empresas públicas. Até porque as estatais são coisa nossa (deles). Com tanto trabalho para chegar ao poder e passar a ordenhar os cofres do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, do BNDES, por que Lula e sua turma perderiam tempo achacando uma telefônica portuguesa?

Ao receber a notícia sobre o inquérito contra Lula por suspeita de envolvimento com o valerioduto, José Dirceu reagiu imediatamente. E disparou o argumento fulminante: o mensalão não existiu. Se existe alguém com autoridade para afirmar isso, esse alguém é José Dirceu.

Condenado a dez anos de prisão, ele sabe que essas coisas que não existem podem dar uma dor de cabeça danada. Se Lula não sabia de algo que não existiu, nada melhor do que ser defendido pelo lendário Dirceu, guerreiro do povo brasileiro - personagem que também não existe.

Enquanto o filho do Brasil espera esfriar a denúncia do pedágio colhido com a telefônica, recebe a solidariedade dos fiéis por seu trabalho com as empreiteiras. Sabe-se agora que Lula fez uma série de viagens internacionais bancadas por algumas grandes construtoras brasileiras. Ele explicou que isso foi um ato patriótico - foi ajudar empresas nacionais a fazer negócios no estrangeiro, para o bem do Brasil.

Não restam mais dúvidas: a vida é bela. E é feita de gestos nobres como este: um ex-presidente aproveita seu tempo livre para fazer boas ações, ajudando empresários a ganhar dinheiro no exterior, porque país rico é país sem pobreza empresarial.

Aí surge um comovente coro de progressistas, éticos e crédulos para afiançar as turnês lulistas, gritando que Lula não fez nada demais. De acordo com a nova moral da república companheira, não fez mesmo. Qual o problema de o líder máximo do partido que governa o país desenvolver uma relação particular (ou patriótica) com grandes empreiteiras que têm o governo como cliente?

Que mal haveria na ajuda de Lula a empresas decisivas no jogo político, com suas doações às campanhas eleitorais? Qual o problema de Lula ter viajado para a Venezuela para arrancar de Hugo Chávez US$ 1 bilhão, devido a uma dessas empreiteiras, que pagou a viagem de Lula? E se essa empresa for a mesma que realizará seu sonho de construir o estádio do seu clube de coração para a Copa do Mundo, fazendo a alegria de milhões de torcedores-eleitores fiéis?

Não tem problema nenhum. Esse é o Brasil moderno, onde as coisas acontecem às claras, inclusive o tráfico de influência. A não ser quando o ministro do Desenvolvimento declara secretos os documentos de financiamentos do BNDES a Cuba e Angola, para obras dessas mesmas construtoras amigas de Lula. Deve ser para a imprensa burguesa não meter o bedelho - sempre uma boa causa.

Por acaso, o ministro do Desenvolvimento é Fernando Pimentel, amigo de Dilma que prestou consultorias milionárias à indústria de Minas Gerais. Como se sabe, essas consultorias nunca foram demonstradas. Devem ter sido também apenas um ato patriótico, nova definição para o velho ditado "uma mão lava a outra".

Pelo visto, a mão que nenhuma outra lavou no final das contas foi a do companheiro Valério - logo ele, que lavou tanto para tanta gente. Agora, o operador do mensalão que não existiu quer mostrar a mão grande do chefe. Será mais um susto. Ele não sabia.

Igreja e Cristianismo

635. Cristo, portanto, desceu aos abismos da morte (539), para que «os mortos ouvissem a voz do Filho do Homem e os que a ouvissem, vivessem» (Jo 5, 25). Jesus, «o Príncipe da Vida» (540), «pela sua morte, reduziu à impotência aquele que tem o poder da morte, isto é, o Diabo, e libertou quantos, por meio da morte, se encontravam sujeitos à servidão durante a vida inteira» (Heb 2, 14-15). Desde agora, Cristo ressuscitado «detém as chaves da morte e do Hades» (Ap 1, 18) e «ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos» (Fl 2, 10).

«Um grande silêncio reina hoje sobre a terra; um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o rei dorme. A terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos [...]. Vai à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Quer visitar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte. Vai libertar Adão do cativeiro da morte. Ele que é ao mesmo tempo seu Deus e seu filho [...] "Eu sou o teu Deus, que por ti me fiz teu filho [...] Desperta tu que dormes, porque Eu não te criei para que permaneças cativo no reino dos mortos: levanta-te de entre os mortos; Eu sou a vida dos mortos"» (541).

Catecismo

A 1800 METROS. SERRA CATARINENSE.


Onde anda o meu amor. Charles Fonseca.

ONDE ANDA O MEU AMOR
Charles Fonseca

Dizem o amor é azul
Outros rosa ou lilás
Doirado é aliás
Sei que o meu está no sul

Também anda pelo leste
Cidade do Salvador
Tanto amar e tanta dor
Tenho amor no centro-oeste

Tenho amores além mar
Distante origem África
Quem sabe também na Ática
No oriente a me salvar

Chegou a mim Salvador
Não da terra mas do céu
Agora não ando ao leu
Em paz gozo o amor

Ticiano - Diana e Actéon - 1556-1559

Arquivo: Ticiano - Diana e Actéon - 1556-1559.jpg

A paz. Charles Fonseca.

A PAZ
Charles Fonseca

Para me manter vivo tive que dormir amares, sentir saudades que perto sofrer dores do bem querer. Pra ficar em paz deixei a minha com os meus amores lá atrás e ela está aqui, ela me acompanha. A paz que salva, a do meu mestre, meu guia, meu protetor, a paz do meu salvador, o mesmo da minha cidade que é da baía de todos os santos, de todos os orixás, de todos os oxalá, quem sabe, algum dia, a agonia se vá, a alegria daqui esteja lá e cá ao mesmo tempo num só lugar.

Antoine Etex, 1854 - túmulo da família Raspail - Père-Lachaise - Paris

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Soneto de carnaval. Vinicius de Moraes

Soneto de carnaval
Vinicius de Moraes

Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

domingo, abril 14, 2013

ELA E ELA

Águas da serra catarinense.

Igreja e Cristianismo

634. «A Boa-Nova foi igualmente anunciada aos mortos...» (1 Pe 4, 6). A descida à mansão dos mortos é o cumprimento, até à plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a última fase da missão messiânica de Jesus, fase condensada no tempo, mas imensamente vasta no seu significado real de extensão da obra redentora a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares, porque todos aqueles que se salvaram se tornaram participantes da redenção.

Catecismo

sábado, abril 13, 2013

É bom!...

Três. Charles Fonseca.

TRÊS
Charles Fonseca

Às três? Não, as três? Também não. Uma de cada vez. E em épocas diferentes. A primeira gostava da clínica dos grandes animais. Um corpo escultural. Era empregada de uma estatal mas só ia lá de vez em quando. Namorava um estudante de medicina que já se encontra no além. Mas no aquém perdeu a distinta pra outro colega. Por que mesmo não sei. Era risonha a morena. Olhar engateado, ronronava, baixinho. Mas era muito diversificada nos seus passeios. E o pobre do estudante não tinha meios de bancar os divertimentos. Assim é que exatamente onde há um marco comemorativo da chegada dos portugueses ao Brasil, ao luar, praia deserta, a lua solitária, o marulhar das ondas, vestida como veio ao mundo, o veio em mel, o chegante muito respeitoso que tinha leve tendência para a esquerda, muito trabalhador, ao ponto de chorar quando cumpria bem o seu destino, o seu trabalho que aliás nem dava trabalho, nem tinha trabalho, um tracadalho. Alta madrugada, outro lual, balaustrada do Farol da Barra, barra pesada, a lua encantada, muito miau. Corredor da Vitória, beira da ribanceira que dá pra Baia de Todos os Santos a relva revolta, a veste solta, a mesma história. Sempre às horas caladas da noite. Frente à escola, não tinha problema, bairro Ondina, aqui menina. Dia seguinte o professor lhe parabenizou pelo desempenho. Que fazia ele àquelas horas ermas?

Claude Monet


Seios. Charles Fonseca

SEIOS
Charles Fonseca

Tu que os tem são tão fartos
tão belos, tão suculentos,
tu gozas entre lamentos
se beijo lascivo ou casto,

Se túrgidos os apalpo,
tímido tremem-me os dedos
oh, quão grande este desejo,
ao mordiscar os exalto!

sexta-feira, abril 12, 2013

Igreja. Cristianismo.

633. A morada dos mortos, a que Cristo morto desceu, é chamada pela Escritura os infernos, Sheol ou Hades (531), porque aqueles que aí se encontravam estavam privados da visão de Deus (532). Tal era o caso de todos os mortos, maus ou justos, enquanto esperavam o Redentor (533), o que não quer dizer que a sua sorte fosse idêntica, como Jesus mostra na parábola do pobre Lázaro, recebido no «seio de Abraão» (534). «Foram precisamente essas almas santas, que esperavam o seu libertador no seio de Abraão, que Jesus Cristo libertou quando desceu à mansão dos mortos» (535). Jesus não desceu à mansão dos mortos para de lá libertar os condenados (536), nem para abolir o inferno da condenação (537), mas para libertar os justos que O tinham precedido (538).

Catecismo

OS PRINCÍPIOS, OS MEIOS, OS FINS. Charles Fonseca

OS PRINCÍPIOS, OS MEIOS, OS FINS
Charles Fonseca

Não falem mal das pessoas sem conhecer os seus começos, os meios que andaram, os fins a que se propõem. Você que me lê também tem este mesmo roteiro a cumprir. Goste ou não. Na verdade, procure saber o mais possível dos seus avós e pais. A partir daí você poderá julgá-los melhor, no que for bom, no que for pior. E não tem aquela de não querer saber da vida deles, da sua árvore genealógica. Antes de ser, você já foi ideia, depois semente, cresceu, floresceu e talvez já tenha dado frutos. Aí verá como é que é ser pai ou mãe na prática. E tem mais. Quem casa, se ajunta, se amanceba, quem se enrabicha, tem um xodó, etc., tem uma cultura familiar, tios, primos. Como foi e é o relacionamento do homem e da mulher com seus familiares? A mulher se dava ou se dá bem com o pai? Se não, cuidado. Pode ser que ela transferencialmente e de modo inconsciente trate você real através do simbólico que ela carrega e do seu imaginário. E isso atinge até o sogro. E como era o relacionamento do homem com sua mãe? Você que vai casar deve também levar isso em consideração. Antes de julgar o fim, procure saber o meio e o início. Ainda assim, o mundo dá muitas voltas. Você faz parte do todo e a soma das partes é maior do que o mesmo.

Mark Rothko

Arquivo: White Center (Yellow, Pink and Lavender on Rose) jpg.

Rosário. Vinicius de Moraes.

Rosário
Vinicius de Moraes

E eu que era um menino puro
Não fui perder minha infância
No mangue daquela carne!
Dizia que era morena
Sabendo que era mulata
Dizia que era donzela
Nem isso não era ela
Era uma moça que dava.
Deixava... mesmo no mar
Onde se fazia em água
Onde de um peixe que era
Em mil se multiplicava
Onde suas mãos de alga
Sobre meu corpo boiavam
Trazendo à tona águas-vivas
Onde antes não tinha nada.
Quanto meus olhos não viram
No céu da areia da praia
Duas estrelas escuras
Brilhando entre aquelas duas
Nebulosas desmanchadas
E não beberam meus beijos
Aqueles olhos noturnos
Luzindo de luz parada
Na imensa noite da ilha!
Era minha namorada
Primeiro nome de amada
Primeiro chamar de filha...
Grande filha de uma vaca!
Como não me seduzia
Como não me alucinava
Como deixava, fingindo
Fingindo que não deixava!
Aquela noite entre todas
Que cica os cajus! travavam!
Como era quieto o sossego
Cheirando a jasmim-do-cabo!
Lembro que nem se mexia
O luar esverdeado
Lembro que longe, nos Ionges
Um gramofone tocava
Lembro dos seus anos vinte
Junto aos meus quinze deitados
Sob a luz verde da lua.
Ergueu a saia de um gesto
Por sobre a perna dobrada
Mordendo a carne da mão
Me olhando sem dizer nada
Enquanto jazente eu via
Como uma anêmona na água
A coisa que se movia
Ao vento que a farfalhava.
Toquei-lhe a dura pevide
Entre o pelo que a guardava
Beijando-lhe a coxa fria
Com gosto de cana brava.
Senti à pressão do dedo
Desfazer-se desmanchada
Como um dedal de segredo
A pequenina castanha
Gulosa de ser tocada.
Era uma dança morena
Era uma dança mulata
Era o cheiro de amarugem
Era a lua cor de prata
Mas foi só naquela noite!
Passava dando risada
Carregando os peitos loucos
Quem sabe para quem, quem sabe?
Mas como me seduzia
A negra visão escrava
Daquele feixe de águas
Que sabia ela guardava
No fundo das coxas frias!
Mas como me desbragava
Na areia mole e macia!
A areia me recebia
E eu baixinho me entregava
Com medo que Deus ouvisse
Os gemidos que não dava!
Os gemidos que não dava...
Por amor do que ela dava
Aos outros de mais idade
Que a carregaram da ilha
Para as ruas da cidade
Meu grande sonho da infância
Angústia da mocidade.

quinta-feira, abril 11, 2013

Briga em família.


Arquejo. Charles Fonseca.

ARQUEJO
Charles Fonseca

Cevo tanto o passado,
Soco tanto no presente
Saco tanto tu ausente
‘Stou amargo e cansado

De cevar-te todo dia
De amar-te além do amor
De querer-te além da dor
Dói-me o peito em agonia

Na vacância do teu beijo
No aperto sem abraço
No meu peito em nó um laço
Na voragem, só, arquejo!

Andrea Bregno, 1503 - Altar Piccolomini - Duomo - Siena

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quarta-feira, abril 10, 2013

"Piaui" sabe mais de política do que eu. Do que você também.

Clique: http://www.youtube.com/watch?v=ZPw1c1L5q7k&feature=player_embedded

Mistério. Charles Fonseca.

MISTÉRIO
Charles Fonseca

Paciência, a vida parou ao sol posto pra esperar um novo tipo de beleza, a lua crescente, os luzeiros dos céus fúlgidos muitos chegando novos até nós quando já morreram mas pra nós é vida. As vermelhas, coradas de pudor pela loucura dos homens e das mulheres desde outras eras e que se repete e que ainda vai chegar o dia quem sabe, algum dia. E as amarelas de vergonha de amarelarem antes da hora, o céu é infinito, pra que pressa? E as azuis nascendo para a vida, um novo tipo de vida, a via láctea dos peitos ebúrneos, túrgidos, onde mamam os inocentes, os pios, os vadios. Ah, o orbe! Ah, a nave Terra onde navegam as paixões eternas, o mistério, o amor, a dor, a saudade do que se foi, do que está sendo, do que será mas já dá saudade. Ah, criaturas do não criado, do imóvel, do mistério!

Vincent Willem van Gogh

Arquivo: Vincent Willem van Gogh 127.jpg

Ao Deus dará. Charles Fonseca.

AO DEUS DARÁ
Charles Fonseca

Não nunca decifrar-te esfinge
Só olhar-te só bem à distância
Não tão longe pois que a vista cansa
Nem tão perto que a vera atinge

Pobre coração cansado mágoas
Vejo ao longe agora em refrigério
Da fornalha ardente em desidério
Que minh’alma foi, sumo nas águas

Deste mar aberto oceano
Riacho, rio, remanso, rochas
Saltos, catadupas, pororocas
Mulher em águas tépidas amo

Aquela que foi é e será
Que sendo não é mulher ao longe
Mito, esfinge, tu sabes onde
Sem ela morro ao Deus dará.

Cangaceiro do amor. Charles Fonseca.

A ESFINGE. Charles Fonseca. Prosa

A ESFINGE
Charles Fonseca

Freud teria dito que não sabia o que queria uma mulher. Um seu seguidor que anda zanzando a alma por aí disse que a mulher não existe. Já vi pára choque de caminhão dizendo a mesma coisa. Misteriosa mulher. Mítica figura. Tu ao longe pétrea a zombar do homem Édipo que para vir a ser teve que matar o pai e casar com a mãe. Terminou cego. E eu a usar preventivamente meu colírio para não ver somente a ti, pétrea musa, mitológica estátua, como todo o meu real. De ti tenho medo, de ti fico distante, pra ti o meu olhar, a minha incontinência literária, casado com a poesia e, no entanto, longe das peias do metro, da rima, do estribilho, por estas letras quero ver-te nua de mistério a não me devorar, eu daqui e tu de lá. Eu, um pobre viajor sedento à procura de oásis e tu à beira do caminho, distante, intocável, inderretível, misteriosa, esboço de sorriso no olhar. De ti faço arrodeio, nem te olho, faço que não te vejo, eu quero o mar, minha fronteira, eu quero penetrar em suas águas mornas, cheirar os seus sargaços, tocar as suas fímbrias. E tu a me olhar.

Alonso Berruguete, 1539-1543 - Coro-stall (detalhe) de madeira - Catedral - Toledo

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