ONZE E ONZE
É sempre a mesma hora no relógio da aura, na ponte dos ponteiros mesopotâmicos das carruagens de guerra, e rangem no bronze coagulado de cinza. São onze e onze, da noite ou do dia, ainda, no horizonte em sincronia crônica. Minha vó sempre me benzia de quebranto. É uma e onze. É novembro na vida. Estabilizo as linhas da palma com esse aviso, num transe despertador intermitente: — Para onde nos chamam? — De onde nos acenam essa hora? Desde que nasci é dia onze. O dia dos ausentes. Antes que me perguntem, não sei de nenhum cinza azul-calcário, nem da mancha que divide o mar em dois números. Sabia era dos oceanários, quando os tinha, em miniatura, mas não eram onze, nuns vidros esverdeados, fincados nas mãos gêmeas, efêmeras, da infância. Sabia era desses cavalos duplos, até ontem orvalhados no estuário em febre, até que o sono se abrisse em tosse, sob os sudários daquelas aldeias milenares, onde não precisei nunca mais voltar de prece. Porque o comprimido das horas mudou de insônia aqueles dias enfermos e os termos das fraturas... nas fugas desastradas de si mesmo, pelas estradas de nossa pouca procura, preclara e descrente, de ser apenas mais um dardo para os alvos luminosos de Deus — tão mais que onze. — Frequento a marginal do último rio, com os olhos entupidos de espanto, dessas visagens instantâneas. Não serei mais espontânea de feridas e mares abertos. Não serei mais do que possa o serenar de cada nervo no verso. Escrevo de cima para a ponte. Em labirinto. Estou na metade do aço. Em suaves desespelhos.

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