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domingo, dezembro 28, 2025

ONZE E ONZE. Patricia Claudine Hoffmann

 ONZE E ONZE

É sempre a
mesma hora
no relógio da aura,
na ponte dos ponteiros
mesopotâmicos
das carruagens de guerra,
e rangem no bronze coagulado
de cinza.

São onze e onze,
da noite ou do dia,
ainda,
no horizonte em sincronia
crônica.

Minha vó sempre me benzia de quebranto.

É uma e onze. É novembro na vida.
Estabilizo as linhas da palma com esse aviso,
num transe despertador intermitente:
— Para onde nos chamam?
— De onde nos acenam essa hora?

Desde que nasci é dia onze.
O dia dos ausentes.

Antes que me perguntem,
não sei de nenhum cinza azul-calcário,
nem da mancha que divide o mar
em dois números.

Sabia era dos oceanários,
quando os tinha,
em miniatura, mas não eram onze,
nuns vidros esverdeados,
fincados nas mãos gêmeas,
efêmeras, da infância.

Sabia era desses cavalos duplos,
até ontem orvalhados no estuário
em febre,

até que o sono se abrisse
em tosse, sob os sudários
daquelas aldeias milenares,
onde não precisei
nunca mais voltar de prece.

Porque o comprimido das horas
mudou de insônia
aqueles dias enfermos
e os termos das fraturas...
nas fugas desastradas de si mesmo,
pelas estradas
de nossa pouca procura,
preclara e descrente,
de ser apenas mais um dardo
para os alvos luminosos de Deus
— tão mais que onze. —

Frequento a marginal do último rio,
com os olhos entupidos de espanto,
dessas visagens instantâneas.

Não serei mais espontânea
de feridas e mares abertos.

Não serei mais do que possa
o serenar de cada nervo
no verso.

Escrevo de cima para a ponte.
Em labirinto.

Estou na metade
do aço.

Em suaves desespelhos.

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