A frase, dirigida por Lacan a um analisante, desloca o eixo.
Quem é o paciente, afinal?
Na medicina, é aquele que sofre , o portador da dor.
Na psicanálise, é aquele que sustenta a escuta.
O paciente, aqui, é o analista.
Ser paciente é suportar o tempo do sujeito, o tempo do inconsciente, esse tempo que não se apressa, que não coincide com o tempo do relógio.
O analisante fala, associa, se perde; o analista, por sua vez, espera ; não o momento de responder, mas o instante de surgimento do desejo.
Ser paciente é habitar o intervalo entre o dito e o não dito, entre o significante e o furo que o escapa.
É não querer curar o sintoma, mas deixar-se afetar por ele, até que o sintoma diga de si.
Allouch lê nessa carta de Lacan um paradoxo: o paciente não é o que sofre, mas o que escuta o sofrimento sem querer tamponá-lo.
O que resiste à pressa de interpretar, de preencher o vazio.
Pacientemente , é assim que o analista se faz presente.
Não por benevolência, mas por ética: a ética do desejo que se funda na espera.
Pois se há um que fala e um que escuta, é o segundo que suporta o furo.
E é no furo que o inconsciente se escreve.
Do livro: Alô, Lacan? É claro que não.
Maria Odete G Galvão
Psicanalista
#psicanálise #lacan #jeanallouch #alôlacan #nuppac

Nenhum comentário:
Postar um comentário