terça-feira, dezembro 09, 2025

O PACIENTE

 A frase, dirigida por Lacan a um analisante, desloca o eixo.

Quem é o paciente, afinal?


Na medicina, é aquele que sofre , o portador da dor.

Na psicanálise, é aquele que sustenta a escuta.

O paciente, aqui, é o analista.


Ser paciente é suportar o tempo do sujeito, o tempo do inconsciente, esse tempo que não se apressa, que não coincide com o tempo do relógio.

O analisante fala, associa, se perde; o analista, por sua vez, espera ; não o momento de responder, mas o instante de surgimento do desejo.


Ser paciente é habitar o intervalo entre o dito e o não dito, entre o significante e o furo que o escapa.

É não querer curar o sintoma, mas deixar-se afetar por ele, até que o sintoma diga de si.


Allouch lê nessa carta de Lacan um paradoxo: o paciente não é o que sofre, mas o que escuta o sofrimento sem querer tamponá-lo.

O que resiste à pressa de interpretar, de preencher o vazio.


Pacientemente , é assim que o analista se faz presente.

Não por benevolência, mas por ética: a ética do desejo que se funda na espera.


Pois se há um que fala e um que escuta, é o segundo que suporta o furo.

E é no furo que o inconsciente se escreve.


Do livro: Alô, Lacan? É claro que não.


Maria Odete G Galvão


Psicanalista


 

#psicanálise #lacan #jeanallouch #alôlacan #nuppac

Nenhum comentário:

Postar um comentário