"Jubiabá" é um dos romances mais importantes e politicamente engajados da primeira fase de Jorge Amado, publicado em 1935. Ele se configura como um romance de formação que acompanha a trajetória de Antônio Balduíno, um menino negro órfão que cresce no Morro do Capa-Negro, em Salvador, sob a influência do respeitado pai-de-santo que dá nome ao livro.
🥊 Trecho Central: Antônio Balduíno no Ringue
Muitos trechos de "Jubiabá" se destacam, mas um dos mais emblemáticos é a cena em que Antônio Balduíno (também conhecido como Baldo, o Negro) se torna boxeador e enfrenta um adversário branco e europeu:
O negro livrou o corpo com um gesto rápido e como a mola de uma máquina que se houvesse partido distendeu o braço bem por baixo do queixo de Ergin, o alemão. O campeão da Europa central descreveu uma curva com o corpo e caiu com todo o peso. A multidão rouca aplaudia em coro: – BAL-DO BAL-DO BAL-DO
Comentário e Análise do Trecho
Este trecho é carregado de significado e resume vários dos temas centrais da obra:
- 1. A Metáfora Racial e Social: A luta no ringue entre Antônio Balduíno (o negro brasileiro) e Ergin (o alemão, o branco europeu) não é apenas um evento esportivo; é uma metáfora poderosa do conflito de classes e raças no Brasil da época. O sucesso de Baldo é a vitória simbólica do povo oprimido e da cultura afro-brasileira contra o domínio e a força branca/europeia.
- 2. O Heroísmo Popular: Antônio Balduíno é um herói popular. Ele representa a força bruta e vital do povo da Bahia, o malandro, o capoeirista, o sambista. A descrição de seu golpe ("como a mola de uma máquina") enfatiza sua habilidade instintiva e a energia do seu corpo, contrastando com o formalismo e a rigidez europeia.
- 3. A Voz da Multidão: A reação da plateia ("A multidão rouca aplaudia em coro: – BAL-DO BAL-DO BAL-DO") transforma o ringue em um palco social. O apoio da multidão confere a Baldo um caráter épico, mostrando que ele é o porta-voz e o campeão dos anseios do povo pobre, negro e marginalizado de Salvador.
📚 Principais Temas do Romance "Jubiabá"
O romance explora as diferentes "vidas" de Antônio Balduíno, tecendo uma crítica social profunda:
- O Romance de Formação: A obra segue o crescimento e a busca de Baldo por um lugar no mundo, desde a vida no morro (com o aprendizado do Candomblé e da malandragem) até a conscientização política como estivador e líder grevista.
- Cultura Afro-Brasileira: O livro exalta a cultura baiana, o candomblé, a capoeira e o samba como forças vitais e elementos de resistência contra a opressão. O pai-de-santo Jubiabá é a guia espiritual que ensina Baldo sobre a vida e a dignidade.
- Injustiça Social e Marginalidade: Jorge Amado retrata a dura realidade dos pobres, a exploração do trabalhador (como estivador e em plantações de fumo) e a marginalização. A trajetória de Lindinalva, o amor platônico de Baldo, que de menina rica e branca se torna prostituída pela miséria, é um retrato cruel dessa decadência social.
- Conscientização Política: O clímax ideológico do livro é a greve geral liderada por Baldo. É neste momento que o herói encontra seu verdadeiro lugar e propósito, assumindo a luta coletiva pela justiça social, em um claro alinhamento de Jorge Amado com as ideias comunistas da época.
O romance é, portanto, um retrato vibrante e engajado da Bahia popular, onde a mágica e a força da cultura negra lutam contra a opressão.
Você gostaria de se aprofundar na análise de outro trecho do romance, como o relacionamento entre Balduíno e Lindinalva?
IA
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