sábado, setembro 20, 2025

O BARRO DESSAS HORAS. Ana Cecilia de Souza Bastos

O barro dessas horas,

matéria de poesia.

Forma bruta dura

dos dias que passam.


O barro dessas horas.

Argila e trabalho.

Forma indefinida súbito vida

na roda do oleiro.


Também eu, artesã ceramista

no barro desses dias e dessas horas.

Sou feita do ancestral barro vermelho do Crato.

Trago nos olhos e na alma o eterno mar da Bahia.

Pisei um dia o vermelho solo de Brasília,

a poeira fina cobrindo os dias,

os móveis,

o respiro.

Sob a aparência algo cosmopolita,

o mesmo barro candango.


Ali onde sonhos viram pedra

em beleza ou desalento.


O barro não floresce,

sedimenta em mim escrita e versos,

formas incubadas no barro das horas.


Escrita como argila.

Argila para o corpo envelhecido.

Argila para a pele da alma

em dias rubros de pasmo e dor.


Ainda busco o Jardim do Éden,

mesmo se ora nada vejo senão o barro,

sem seu ornamento de flores.

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