O barro dessas horas,
matéria de poesia.
Forma bruta dura
dos dias que passam.
O barro dessas horas.
Argila e trabalho.
Forma indefinida súbito vida
na roda do oleiro.
Também eu, artesã ceramista
no barro desses dias e dessas horas.
Sou feita do ancestral barro vermelho do Crato.
Trago nos olhos e na alma o eterno mar da Bahia.
Pisei um dia o vermelho solo de Brasília,
a poeira fina cobrindo os dias,
os móveis,
o respiro.
Sob a aparência algo cosmopolita,
o mesmo barro candango.
Ali onde sonhos viram pedra
em beleza ou desalento.
O barro não floresce,
sedimenta em mim escrita e versos,
formas incubadas no barro das horas.
Escrita como argila.
Argila para o corpo envelhecido.
Argila para a pele da alma
em dias rubros de pasmo e dor.
Ainda busco o Jardim do Éden,
mesmo se ora nada vejo senão o barro,
sem seu ornamento de flores.
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