segunda-feira, setembro 22, 2025

LUNÁTICO. João Guimarães Rosa

Vou abrir minha janela sobre a noite.

E já bem noite, a lua,

alta a um terço do seu arco,

terá de deslizar pelo meu quarto a dentro,

e passear sobre o meu rosto, adormecido e lívido,

quando eu sair a sonhar pelas estradas noturnas,

sem fim, sem marcos, nem encruzilhadas,

que levam à região dos desabrigos,..

Sonharei com mares muito brancos,

de águas finas, como um ar dos cimos,

onde o meu corpo sobrenada solto,

por entre nelumbos que passam boiando...

Ouvirei a rainha do País do Suave Sonho,

cantando no alto sempre o mesmo canto,

como a sereia do sempre mais alto...

E a janela se fecha, prendendo aqui dentro

o raio suave que prendia a lua...

Para que eu soçobre no mar dos nenúfares grandes,

onde remoinham as formas inacabadas,

onde vêm morrer as almas, afogadas,

e onde os deuses se olham como num espelho

Nenhum comentário:

Postar um comentário