D(R)ESISTÊNCIA
Desisti de ir pra Pasárgada
o trem anda fora dos trilhos, eu sei
as loucas somos nós aqui soltas
sem conseguir comer
nem o pão que o diabo amassou
quem dera beber o vinho
o sangue do cristo (destituído)
as mulheres sangrando
muito mais do que entre as pernas
— no esquerdo do peito —
a dor de um desamor medonho
daqueles homens que vêm, vão,
e matam
desisti de ir pra Pasárgada
a passarada ainda canta
na cortina de fumaça
a fogueira alheia das desgraças
outras desgraças tão nuas
não adianta a rosa vermelha num dia
n’outro a vermelhidão no rosto
o tapa esfolando até pingar no prato
o vermelho sangue
o vermelho batom
a bota o chute a arma o cuspe
quanto nos custará a culpa?
(tu cospes ou engoles tua culpa?)
se você é amigo do rei
pode ir
eu fico
insisto
e resisto
‘inda que seja vã
tão efêmera esperança’
Nick Cardeal
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