terça-feira, agosto 26, 2025

D(R)ESISTÊNCIA

 D(R)ESISTÊNCIA


Desisti de ir pra Pasárgada


o trem anda fora dos trilhos, eu sei

as loucas somos nós aqui soltas

sem conseguir comer

nem o pão que o diabo amassou

quem dera beber o vinho

o sangue do cristo (destituído)

as mulheres sangrando

muito mais do que entre as pernas

— no esquerdo do peito —

a dor de um desamor medonho

daqueles homens que vêm, vão,

e matam


desisti de ir pra Pasárgada


a passarada ainda canta

na cortina de fumaça

a fogueira alheia das desgraças

outras desgraças tão nuas

não adianta a rosa vermelha num dia

n’outro a vermelhidão no rosto

o tapa esfolando até pingar no prato

o vermelho sangue

o vermelho batom

a bota o chute a arma o cuspe

quanto nos custará a culpa?

(tu cospes ou engoles tua culpa?)


se você é amigo do rei

pode ir


eu fico

insisto

e resisto

‘inda que seja vã

tão efêmera esperança’


Nick Cardeal

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