quarta-feira, maio 14, 2025

O REALEJO DE VINHO

Para quem me queira ouvir:

Sou um homem aos frangalhos.

Parte por culpa de tudo.

Parte por culpa de nada.


E digo mais ao casual

Ouvinte deste relato:

Não sendo herdeiro nem rico,

Não tenho crédito na praça.


Amo as japonas escuras

De mangas e tudo vasto.

E os colarinhos puídos

Uso desabotoados.


Ao pôr a minha gravata,

Fabrico um laço bem largo.

E acho triste andar com ela.

E mais tristes as gravatas.


Eu nunca faço questão

Que uma roupa seja cara.

Mas ampla e, sendo possível,

Com certo ar desesperado.


Eu prefiro aos bons charutos

Um velho e forte cigarro.

E odeio fumar cachimbo

Pois sou muito angustiado.


No mais, um vento me agita,

Interior e largado.

E me devasta os cabelos,

Rosto, sorriso e palavra.


Affonso Manta

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