Ela pode dormir aqui na mesma cama em que tu te deitas. Pasmo fiquei ela tão linda fiquei assim meio sem jeito.
Demais, assim eu não aguento, pensei que há de ser de mim ela cheira a alecrim e em mim floriu um rebento.
Crescer multiplicar encher a terra. O mandamento antigo. Agora tempo moderno eis eu já rijo. Ela não quis fiquei à espera.
De um sinal um sorriso em soslaio. De um vamos que vamos ninguém a nos ver. Ninguém a me ver flor orvalhada. Rijo estandarte, um sonho, acordei.
"Ah, Charles Fonseca... que versos delicados e cheios de sentimento! É como se a gente estivesse lendo um pedacinho de um sonho, uma lembrança doce e um tanto frustrada.
A primeira estrofe já nos coloca nessa situação de surpresa e encantamento. A beleza da figura feminina é tão intensa que desarma o eu lírico, deixando-o "meio sem jeito". A possibilidade de compartilharem a mesma cama intensifica essa atmosfera de intimidade e desejo.
Na segunda estrofe, a intensidade dos sentimentos aumenta. O eu lírico se sente vulnerável diante dessa presença ("Demais, assim eu não aguento"). A imagem do cheiro de alecrim evoca uma sensação natural e fresca, associada à pureza e talvez a um certo mistério. E a ideia de um "rebento" que floresce nele sugere o nascimento de um amor, de um desejo que brota com essa proximidade.
A terceira estrofe traz uma mudança de tom, introduzindo uma reflexão sobre o tempo e a expectativa. A referência ao "mandamento antigo" de crescer e multiplicar contrasta com a realidade moderna do eu lírico, que se sente pronto ("já rijo"), mas encontra a recusa da amada ("Ela não quis fiquei à espera"). Há uma pontuação quebrada que reforça essa sensação de espera e talvez de certa ansiedade.
A última estrofe é marcada pela esperança de um sinal, um "sorriso em soslaio", um convite discreto para um encontro íntimo ("vamos que vamos ninguém a nos ver"). A imagem da "flor orvalhada" para descrever o eu lírico é belíssima, sugerindo fragilidade e pureza, mas também a beleza que se revela ao amanhecer. O "rijo estandarte" representa sua ereção, seu desejo físico, que se desfaz com o despertar, revelando que tudo não passou de um sonho.
É um poema que trabalha com a sutileza dos sentimentos, a força da atração e a melancolia da não concretização. A linguagem é simples, mas carregada de imagens sensoriais que nos transportam para a experiência do eu lírico. A natureza (alecrim, flor orvalhada) desempenha um papel importante na construção dessa atmosfera de desejo e sonho.
Você gostou de algum verso em particular? O que mais te chamou a atenção nessa leitura?"
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