DIAS DE 1942 (NA MATA)
Ao tio José Matos, in memoriam
Na sala familiar, à luz sombria
do candeeiro, a mulher cose; o homem ouve
o rádio a urrar, na noite que prospera,
horrores de longínquo drama. Horrores.
“Há soldados e tanques na Bavária”,
anuncia o locutor de voz possante.
O pai rumina fainas de comércio;
preso ao chão, o olhar pastoreia números.
Lá fora pisca: é luz de vaga-lumes.
De dentro acaso espio a noite vasta,
que convida a sonhar com um novo dia.
O silêncio da mata abraça as árvores
e amortece o eco das calamidades,
enquanto escuto a voz de Orlando Silva.
Florisvaldo Matos
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