domingo, janeiro 26, 2025

EU SÓ QUERIA PECAR UM POUQUINHO

Quando criança nunca entendi por que um equipamento tão caro como um tranceptor Morse era conservado coberto por um saco de lona dos Correios na agência postal telegráfica onde minha mãe era a Chefe e onde morávamos de graça. Começou aí meu entendimento das mordomias governamentais. Mas deixemos pra lá. Naquela época só o que ocorria era a chegada ou saída de cinco telegramas que eu atendia a mensagem de voz copiava fechava e colava para ninguém abrir só o destinatário e eu a saber o conteúdo. Que ia entregar de casa em casa e quem recebia me dava uma prata ou um trocado ou um mil réis. Contribuição espontânea. Era o que eu lia de graça. O que eu ouvia de mais longe era o cantar do galo ou o aboio dos vaqueiros das boiadas que passavam em frente à nossa casa na rua de barro no povoado onde morávamos. E era uma festa. E não podia jogar sal no fogo do fogão a lenha para não espantar o gado. Os vaqueiros ficavam furiosos. Mas eu e minha irmã jogávamos. Era o nosso pecado venial. Também seria pecado ir nas festas escolares no dia da primavera promovidas pelo colégio do padre cujo muro era defronte da nossa janela. O ingresso era um mil réis. Um absurdo. Não íamos. Minha mãe dizia que o dinheiro ia para Roma. Aí sim é que seria um enorme pecado. Um dos menores seria brincar na rua com os moleques incrédulos todos católicos. E então aprendi esta versão do que seria a Igreja Católica Apostólica Romana. Todos iriam para o inferno. E eu aos sete anos queria tanto pecar...

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