quinta-feira, janeiro 16, 2025

É A LAVAGEM

É a lavagem das escadarias do Bonfim! É festança de Salvador da Bahia, de Salvador do Abaeté da “lagoa escura arrodeada de areia branca”, de Salvador do porto da barra onde Pero Lopes chegou primeiro para afirmar o português e encontrou Diogo Álvares Caramuru e dali navegou para revelar “Tinharé da banda do sul”. É Salvador de Catarina Paraguaçu que sonhou e viu o naufrágio em Ponta de Castellanos de Boipeba e, mandando lá o Caramuru, encontrou relíquia que se guarda na Igreja da Graça ainda hoje!

Esta é a Salvador do Rio Vermelho de Jorge, de Carybé e da morena que “tem nos olhos o verde do mar”; é a Salvador de Caymi e sua baiana que "quando passa mexe com o juízo do homem que vai trabalhar"; é também a Salvador da Baixa dos Sapateiros, do Cine Jandaia, onde um mineiro de Ubá encontrou um dia “a morena mais frajola da Bahia” (terá sido a Arlete?)!

Para a lavagem das escadarias, a baiana e a baianada estão vestidas de branco prá homenagear Senhor do Bonfim, que também é Oxalá. Estão rezando com a fé que "não costuma faiar". Mas, ao branco da baiana e da baianada, se misturam hoje outros “brancos” vestidos de branco. Muitos dos que seguem usando mal a autoridade e o poder, abusando de uma e de outro, desfigurando a função da autoridade. Não aprenderam que festas tradicionais e populares, seja a lavagem do Bonfim, o Reinado de São Benedito, a Marujada da Barquinha ou as romarias do Baixo Sul, são espaços de produção cultural e fruto do trabalho coletivo de gerações, reunindo diferentes modos de vida e moldando identidades culturais.


Isaías Ribeiro

Do Alto do Convento, jan’2013

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