sexta-feira, janeiro 17, 2025

A EXPERIÊNCIA DA ARTE

Mas será que essa busca incessante por significado nos afasta da experiência genuína da arte?

Susan Sontag, em seu célebre ensaio Contra a Interpretação (1964), nos provoca a reconsiderar nossa relação com a arte. Para ela, o impulso de interpretar, de decifrar significados escondidos como se a obra fosse um enigma a ser resolvido, muitas vezes empobrece a experiência estética. Essa abordagem intelectualizada, que tenta aprisionar a arte em esquemas conceituais, nos distancia de sua dimensão mais visceral, aquela que nos toca antes de ser compreendida.


A arte, segundo Sontag, não exige tradução. Sua potência está em seu impacto direto, nos sentidos que desafiam a lógica e nos gestos que transcendem palavras. Ao priorizarmos o significado sobre a forma, corremos o risco de perder o que é essencial: o encontro imediato e transformador entre a obra e o espectador.

Essa reflexão convida a um deslocamento de perspectiva. E se, em vez de perguntar "o que isso significa?", nos perguntássemos "o que isso me faz sentir?"? Nesse gesto, deixamos de reduzir a arte a um objeto de análise e nos permitimos experimentá-la como uma força viva, capaz de perturbar, encantar ou inquietar sem a necessidade de justificativas.


Afinal, a busca incessante por significado não é, em si, uma forma de controle? Talvez seja um reflexo de nossa resistência ao desconhecido, àquilo que não podemos nomear ou domesticar. Contudo, a arte não floresce no controle, mas na liberdade: de criação, de percepção, de impacto. E essa liberdade só pode ser plenamente vivida quando abrimos mão da necessidade de explicá-la e nos rendemos à sua presença.


Giih De Figueiredo

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