sábado, agosto 10, 2024

As mãos de meu pai Mario Quintana



As tuas mãos tem grossas veias 

como cordas azuis

sobre um fundo de manchas 

já da cor da terra

— como são belas as tuas mãos

pelo quanto lidaram, acariciaram 

ou fremiram da nobre cólera dos justos…

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, 

essa beleza que se chama simplesmente vida.

E, ao entardecer, quando elas repousam 

nos braços da tua cadeira predileta,

uma luz parece vir de dentro delas…

Virá dessa chama que pouco a pouco, 

longamente, vieste alimentando 

na terrível solidão do mundo,

como quem junta uns gravetos 

e tenta acendê-los contra o vento?

Ah, como os fizeste arder, fulgir, 

com o milagre das tuas mãos!

E é, ainda, a vida que transfigura 

as tuas mãos nodosas…

essa chama de vida — 

que transcende a própria vida…

e que os Anjos, um dia, 

chamarão de alma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário