sábado, outubro 29, 2022

O NAVIO NEGREIRO. Castro Alves

A barbárie continua, com novos algozes e vítimas! 

Mas "Vai haver uma resposta!". 


(...)

Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são?... Se a estrela se cala,

Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz, 

Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa Musa,

Musa libérrima, audaz!...


São os filhos do deserto,

Onde a terra esposa a luz, 

Onde voa em campo aberto

A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão...

Homens simples, fortes, bravos...

Hoje míseros escravos

Sem ar, sem luz, sem razão...


São mulheres desgraçadas

Como Agar o foi também, 

Que sedentas, alquebradas,

De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios passos, 

Filhos e algemas nos braços, 

N'alma - lágrimas e fel.

Como Agar sofrendo tanto

Que nem o leite do pranto

Têm que dar para Ismael...


Lá nas areias infindas,

Das palmeiras no país,

Nasceram - crianças lindas, 

Viveram  - moças gentis...

Passa um dia a "caravana"

Quando a virgem na cabana

Cisma da noite nos véus...

...Adeus! Ó choça do monte!...

...Adeus! Palmeiras da fonte!...

...Adeus! Amores... Adeus!...

(...)

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