Paulo Ferraz |
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DA UTILIDADE DA POESIA (E DO POETA)
eu pensava no próximo homem-bomba — e em
como (aos pedaços!) gozaria de suas setenta virgens, e nos
homens-alvo tomando café, esperando o ônibus, sem saber que,
[ e nos
tratores demolindo casas com moradores sabendo que, e nos
agentes do Mossad teleguiando mísseis, e no
choro materno e vidual das filhas de Is
r/m
ael
— e nessas outras coisas que
nem minha poesia nem homens como nós
podem resolver,
quando uma moça em minha frente,
chupando sorvete me puxou de volta
com sua língua a cuidadosamente moldar
a massa em espirais. Pensei em avisá-la
que uma gota marrom espessa escorria
pelos lábios até o queixo, mas,
antes de abrir a boca,
um namorado chega e a limpa com um beijo.
Mais um problema que
nem minha poesia nem homens como nós podem resolver.
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