quinta-feira, agosto 11, 2022
Ética a Nicômaco. 3
Nossa discussão será adequada se tiver tanta clareza quanto comporta o assunto,
pois não se deve exigir a precisão em todos os raciocínios por igual, assim como
não se deve buscá-la nos produtos de todas as artes mecânicas. Ora, as ações
belas e justas, que a ciência política investiga, admitem grande variedade e
flutuações de opinião, de forma que se pode considerá-las como existindo por
convenção apenas, e não por natureza. E em torno dos bens há uma flutuação
semelhante, pelo fato de serem prejudiciais a muitos: houve, por exemplo, quem
perecesse devido à sua riqueza, e outros por causa da sua coragem.
Ao tratar, pois, de tais assuntos, e partindo de tais premissas, devemos contentarnos em indicar a verdade aproximadamente e em linhas gerais; e ao falar de
coisas que são verdadeiras apenas em sua maior parte e com base em premissas
da mesma espécie, só poderemos tirar conclusões da mesma natureza. E é
dentro do mesmo espírito que cada proposição deverá ser recebida, pois é
próprio do homem culto buscar a precisão, em cada gênero de coisas, apenas na
medida em que a admite a natureza do assunto. Evidentemente, não seria menos
insensato aceitar um raciocínio provável da parte de um matemático do que
exigir provas científicas de um retórico.
Ora, cada qual julga bem as coisas que conhece, e dessas coisas é ele bom juiz.
Assim, o homem que foi instruído a respeito de um assunto é bom juiz nesse
assunto, e o homem que recebeu instrução sobre todas as coisas é bom juiz em
geral. Por isso, um jovem não é bom ouvinte de preleções sobre a ciência
política. Com efeito, ele não tem experiência dos fatos da vida, e é em torno
destes que giram as nossas discussões; além disso, como tende a seguir as suas
paixões, tal estudo lhe será vão e improfícuo, pois o fim que se tem em vista não
é o conhecimento, mas a ação. E não faz diferença que seja jovem em anos ou
no caráter; o defeito não depende da idade, mas do modo de viver e de seguir um
após outro cada objetivo que lhe depara a paixão. A tais pessoas, como aos
incontinentes, a ciência não traz proveito algum; mas aos que desejam e agem de
acordo com um princípio racional o conhecimento desses assuntos fará grande
vantagem.
Sirvam, pois, de prefácio estas observações sobre o estudante, a espécie de
tratamento a ser esperado e o propósito da investigação.
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