segunda-feira, maio 09, 2022
Questão 3: Da simplicidade de Deus. Art. 1 — Se Deus é corpo. SUMA TEOLÓGICA
Questão 3: Da simplicidade de Deus
Conhecida a existência de uma coisa, resta inquirir como existe, para que se saiba o que é. Porém, como
não podemos saber o que é Deus, mas o que não é, não podemos considerar como é, mas, como não é.
Logo, 1o. consideraremos como não é; 2o. como é de nós conhecido; 3o. como se nomeia.
Ora, podemos mostrar como Deus não é removendo o que lhe não convém, p. ex.: a composição, o
movimento, e atributos semelhantes.
Portanto, 1o
. devemos tratar da sua simplicidade, pela qual dele se remove a composição. E sendo os
seres corpóreos simples, imperfeitos e partes, devemos tratar, 2 o
. da perfeição de Deus; 3 o
. da sua
infinidade; 4 o
. da sua imutabilidade; 5 o
. da sua unidade.
Na primeira questão, discutem-se oito artigos:
Art. 1 — Se Deus é corpo
(Cont. Gent. I, 20; II, 3; compend. Theol., c. 16.)
O primeiro discute-se assim — Parece que Deus é corpo.1. Pois, corpo é o que tem três dimensões.
Ora, a Sagrada Escritura atribui a Deus dimensão tríplice, dizendo (Jó 11,8-9): Ele é mais elevado que o
céu, e que farás tu? E mais profundo do que o inferno, e como o conhecerás? A sua medida é mais
comprida do que a terra e mais longa que o mar. Logo, Deus é corpo.
2. Demais — Todo figurado é corpo, pois a figura é qualidade quantitativa. Ora, Deus é figurado, como
escreve a Escritura (Gn I, 26): Façamos o homem à nossa imagem e semelhança; e a figura se chama
imagem, segundoo Apóstolo (Heb I, 3): sendo o resplendor da glória e a figura da sua substância, i. é, a
imagem. Logo, Deus é corpo.
3. Demais. — Tudo o que tem partes corpóreas é corpo. Ora, a Escritura as atribui a Deus: Se tu tens
braços como Deus (Jó 40, 4); e a destra do Senhor fez proezas (Sl 33, 16); e os olhos do Senhor estão
sobre os justos (Sl 117, 16). Logo, Deus é corpo.
4. Demais. — O corpo tem situação. Ora, o que se diz desta, a Escritura diz de Deus: Vi ao Senhor
assentado(Is 6,1); e o Senhor está para julgar (Is 3, 13). Logo, Deus é corpo.
5. Demais. — Nada pode significar lugar donde ou para onde, sem ser corpo ou algo de corpóreo. Ora,
na Escritura, Deus é denominado termo local para onde (Sl 33, 6): Chegai-vos a ele e sereis iluminados; e
donde (Jr 17, 13): Os que se apartam de ti serão escritos sobre a terra. Logo, Deus é corpo.
Mas, em contrário, diz a Escritura (Jo 4, 24): Deus é espírito.
SOLUÇÃO. — Que, absolutamente, Deus não é corpo, pode-se demonstrar de três modos: Primeiro,
porque nenhum corpo move sem ser movido, como claramente se induz dos casos singulares. Ora, já se
demonstrou ser Deus o primeiro motor imóvel . Logo, é manifesto que não é corpo; Segundo, porque é
necessário que o ser primeiro exista em ato e de nenhum modo em potência. Pois, embora num mesmo
ser, que passa da potência para o ato, aquela seja, temporalmente, anterior a este, em si, contudo, o ato
é anterior à potência, porque o potencial não se atualiza senão pelo atual. Ora, como se demonstrou,
Deus é o ente primeiro; logo, é impossível existir nele algo de potencial. E, sendo todo corpo potencial,
porque o contínuo, como tal é divisível ao infinito, é impossível Deus ser Corpo; Terceiro, porque Deus é
o mais nobre dos seres, como do sobredito resulta. Ora, é impossível um corpo ser tal, porque todo o
corpo é vivo ou não vivo. Se vivo, é manifestamente mais nobre que o não vivo; não vivendo, porém,
enquanto corpo — porque então todo corpo viveria — necessariamente há-de viver por outro princípio;
assim o nosso corpo vive pela alma. Ora, o princípio da vida do corpo é mais nobre que este. Logo, é
impossível Deus ser corpo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — como já se disse, a Sagrada Escritura nos transmite as
coisas espirituais e divinas comparando-as com as corpóreas. Assim, quando atribui a Deus dimensão
tríplice, designa-lhe a quantidade virtual, por comparação com a quantidade corpórea; com a
profundidade atribuí-lhe a virtude de conhecer as coisas ocultas; com a altitude, a excelência da sua
virtude sobre todos os seres; com a longitude, a duração do seu ser; com a latitude, o afeto de dileção
para com todos. — Ou, como diz Dionísio,pela profundidade de Deus se lhe intelige a
incompreensibilidade da essência; pela longitude, o processo da virtude que tudo penetra; e pela
latitude, a sua superextensão sobre os seres enquanto todos caem sob a sua proteção.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O homem é considerado imagem de Deus, não pelo corpo, mas pelo que o
torna mais excelente que os outros animais; por isso a Escritura, depois de ter dito (Gn I,
26): Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, acrescenta: O qual presida aos peixes do
mar, etc. Ora, o homem é mais excelente que todos os animais, pela razão e pelo intelecto. Donde, pelo
intelecto e pela razão, que são incorpóreos, é a imagem de Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A Escritura atribui a Deus partes corpóreas, em razão de seus atos, por uma
certa semelhança. Pois, assim como o ato dos olhos é ver, atribuem-se olhos a Deus, para lhe significar a
virtude visual, inteligível e não, sensivelmente, E assim, simultaneamente, em relação às outras partes.
RESPOSTA À QUARTA. — Mesmo o que é próprio da situação não se atribui a Deus, senão por
semelhança; assim, diz-se que se assenta, por causa da imobilidade e autoridade; e que está de pé por
causa da força em debelar tudo o que se lhe opõe.
RESPOSTA À QUINTA. — Não nos aproximamos de Deus com passos corpóreos, pois, está em toda
parte; mas, com afetos mentais: e do mesmo modo, dele nos afastamos. E assim, o aproximar-se e o
afastar-se, à semelhança com o movimento local, designam o afeto espiritual.
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