Vai, filho a Salvador estudar o chamado curso científico. E aos quinze anos lá fui eu de carona na cabine de um caminhão à noite pois não havia dinheiro para a passagem de ônibus. Deixei meu rancho pobre no sertão de Jequié. Casa feita de adobe, sem rebocar. A família reunida via ir-se o filho da esperança dos meus pais. Estudar para ser médico. Era a injunção parental desde criança: ou isso ou ser pastor evangélico.
Ladeira do Taboão, Pelourinho, Baixa dos Sapateiros, o beco chamado de Rua Alfredo Requião. 17 o número do pardieiro, primeiro andar. Ali morava uma tia materna. A linda filha adolescente, campeã do Carnaval do clube Inocentes em Progresso na Saúde, bairro histórico.
Cinco da manhã, chuva fina. Ela foi para minha casa e eu fiquei no lugar dela. Eu livre, pesado e solto. Ela leve, presa, sob o jugo calvinista de meus pais. Não deu certo, foi para a casa de um tio, briguento e apreciador de cerveja.
Encaminhado por minha mãe a igreja batista classe média e elitizada como ela desejava. Ali um pastor oficial do exército do púlpito ameaçava pegar em armas para defender a democracia dos comunistas, segundo sua visão política. E eu a ouvir do lado de fora as ovelhas negras do socialismo militante. Ele e sua família em postos chave junto com os chamados vogais arrebanhava os consoantes, servis, ingênuos. A casa pastoral comprada pela igreja em bairro nobre registrada em cartório no nome do pastor. A dissidência não tardou. Acompanhei o grupo em nome da lisura no trato da coisa pública.
Tive graça de ser fundador da nova grei. Como hei de recusar a homenagem? E no entanto após dura repreensão do pastor americano tomado como líder, preferi me afastar. Tive a audácia de levar como palestrante aos jovens um jornalista acólito do socialismo. Colocou tantas dúvidas e alternativas sociais que me foi dito pelo pastor: nunca mais traga esse palestrante aqui.
Aí o meu grande erro. Abandonei a comunidade e fiquei zanzando pelo mundo incréu. Já casado, sentindo a estrutura familiar sendo torpedeada há décadas, por graça divina fui fazer um pós graduação no Pontifício Instituto Superior de Estudos para Matrimônio e Família, filiado ao Instituto Lateranense na Itália. Lá conheci o padre diretor da instituição. E, por influência deste, voltei a frequentar a igreja agora católica apostólica romana. E meu filho adolescente o seguiu e encontrou o Caminho, como ele diz.
Eis-me aqui. Uma nova família, um novo lar, uma nova visão. A liberdade com responsabilidade. A fé.
Charles Fonseca
Bonita Trajetória.
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