quinta-feira, janeiro 06, 2022

A MORTE ABSOLUTA. Manuel Bandeira

A morte absoluta 
Manuel Bandeira 

Morrer. 
Morrer de corpo e de alma. 
Completamente. 

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
a exangue máscara de cera, Cercada de flores, 
que apodrecerão — felizes! — num dia, 
Banhada de lágrimas 
Nascida menos da saudade do que do espanto da morte. 

Morrer sem deixar porventura uma alma errante… 
A caminho do céu? Mas que céu 
pode satisfazer teu sonho de céu? 

 Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra, A lembrança de uma sombra 
Em nenhum coração, em nenhum pensamento, 
Em nenhuma epiderme.

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