quarta-feira, novembro 24, 2021

PLACEBO? Plínio Junqueira Smith. 283

 

Plínio Junqueira Smith

 



PLACEBO?

                                   Dói muito o teu dodói de alma?
                                   Em seda e sedativo te protejas.
                                   Sedax, meu coração,
                                   sedolin, sedotex, sedomepril.
                                              
Carlos Drummond de Andrade


Acometido de muitas e graves doenças
— Sem esperança, um dos males de Pandora —
Submeti-me, voluntariamente,
A metódica pesquisa médica.

Uma doutora alta, cabelos negros e curtos
Com olhos penetrantes e lábios finos
— Em suma, uma perfeita musa —
Viu em mim todas as enfermidades

E receitou-me antigo e incerto remédio: a poesia
Esperando minha evolução para melhor avaliar o tratamento:
Eficácia, efeitos colaterais, interações medicamentosas.
Tomei-a diariamente, como recomendado.

Quero confessar, hoje, com sinceridade:
Não sei se me puseram no grupo controle
E se ingeri somente inócuo placebo
Em vez de poderosa substância química.

O fato é que, de algumas doenças,
Melhorei e julgo-me curado.
Ainda padeço daquela doença fundamental:
A existência e os afazeres do dia-a-dia.

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