quinta-feira, setembro 02, 2021

À POESIA ESCRITA POR MULHERES. Jorge Wanderley. 248

 

Jorge Wanderley

 



À POESIA ESCRITA POR MULHERES

Tua delicadeza feita de garras
serve suaves lianas que envolvem
o corpo, o pensamento e seus sepulcros
num abraço de cisne e de serpente.

Consideras com cuidado a carne: é tenra,
pensas, é tenra, dizes delicada
e acrescentas que tem a soberbia dos deuses
e veste a inocência da lã;

é tenra, dizes, enquanto as mãos
passeias de enfermeira pela pele
e os dentes entremostras, aguçados,
naquilo que entenderei como um sorriso

— desses que são a última lembrança antes do sono,
o primeiro calor após se ajeitarem as cobertas,
a mão deslizada pela testa
          antes de me cravares a dor aguda e luminosa da morte.

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