Decio Bar |
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[TODAS AS MANHÃS]
Todas as manhãs —
mesmo as cavalgadas por astros
esporeados, as adormecidas em
noturnos abraços de serpentina,
as que vêm de naufrágios em
taças de magnésio, as que surgem
repentinas (aquelas em que
percebemos o crescimento da sombra
das unhas) —
Todas as manhãs
uma tempestade sai do mar e eu
sou o seu oco:
... — e não, ainda não se dá o tempo
da clarineta, e nem a tesoura recortando
os calendários de sangue entrevê
a água de espelhos, e assim
Todas as manhãs
com o sol dentro do copo, sondo os
cabos submarinos em busca de avarias,
indago de algum telegrafista desertor
roído de nostalgia, e vasculhando os
céus I’m just a man in a crowd — poor
cloud of birds and angels; e assim vou
— na trilha, nos trilhos — de uma parede
ao muro que me limita, com os olhos
muito longe de mimE neste ritual
em que não faltam túmulos de jornais,
flautas enlanguescidas por carência de valsa
compulsando corpos que o inverno
reduziu da medida de meus delírios; aliando-me a
querubins alucinados sedentos
de ambigüidades; valendo-me de um
telefone de aço para uso psicotrópico;
deitando cartas no leito das formas
que se pode adivinhar no bojo das
nuvens, ou na epiderme da pólvoraNeste ritual espero
da outra manhã
que me sirva à mesa no meu banquete
de rebeldia
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