domingo, maio 30, 2021
Art. 3 — Se Deus é idêntico à sua essência ou natureza.
Art. 3 — Se Deus é idêntico à sua essência ou natureza.
(I Set., dist. 34, q. 1, a. 1; Cont. Gent. I, 21; Qq. Disp. De Un. Verb., a. 1; de Anima, a. 17, ad 10; Quodlib.
II, q. 2, a. 2; Compend. Theol., c. 10; Opusc. XXXVII, de Quattuor Oppos., c. 4)
O terceiro discute-se assim. — Parece que Deus não é idêntico à sua essência ou natureza.
1. — Pois, nada pode estar em si mesmo. Ora, diz-se que a essência ou a natureza de Deus, que é a
divindade, está em Deus. Logo, Deus não é idêntico à sua essência ou natureza.
2. Demais. — O efeito assimila-se à causa, porque todo agente, como é, assim age. Ora, nos seres
criados, não se identificam o suposto e a sua natureza; assim, o homem não é o mesmo que a
humanidade. Logo, nem Deus é idêntico à divindade.
Mas, em contrário. — Dizemos que Deus não somente é vivo, mas, que é a vida, como o faz a Escritura
(Jo 14, 6): Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ora, a vida está para o vivente como a deidade, para
Deus. Logo, Deus é a própria divindade.
SOLUÇÃO. — Para entendermos que Deus é idêntico à sua essência ou natureza, é preciso saber que,
nos seres compostos de matéria e forma, necessariamente diferem entre si a natureza, a essência e o
suposto, Pois, a essência ou natureza, em si mesma, compreende somente o que entra na definição da
espécie. Assim, ahumanidade, em si mesma, compreende o que constitui a definição do homem e faz com que este seja o que é. A humanidade é, pois, o que faz o homem ser homem. Mas, a matéria
individual, com todos os acidentes individuantes, não entra na definição da espécie; assim, a definição
do homem não implica que ele tenha tais carnes e tais ossos, tal brancura e tal negrura, ou atributos
semelhantes. Por isso, tais carnes e tais ossos, bem como os acidentes designativos de uma
determinada matéria, não se incluem na humanidade. E, contudo, incluindo-se no ser humano, este
encerra em si algo que não encerra a humanidade. Por onde, não são totalmente idênticos o homem e a
humanidade: esta constitui como que a parte formal daquele, pois os princípios definidores
desempenham o papel de forma, relativamente à matéria individuante. Ora, a individuação dos seres
não compostos de matéria e forma não se opera pela matéria individual, i. é, por uma determinada
matéria, mas antes, as próprias formas por si se individuam. Por onde, em tais seres, essas formas
mesmas é que hão de, necessariamente ser os supostos subsistentes, não diferindo, por isso, o suposto,
da natureza. E, como já demonstramos, não sendo Deus composto de matéria e forma, há de por força
ser a sua divindade, a sua vida e o mais que dele se predicar.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Não podemos dizer nada dos seres simples, senão
comparando-os com os compostos, de que temos conhecimento. Por isso, tratando de Deus, usamos de
palavras concretas para lhe exprimirmos a subsistência, porque, para nós, só os compostos subsistem; e
empregamos nomes abstratos para lhe significarmos a simplicidade. Quando, pois, atribuímos a Deus a
divindade, a vida ou outro atributo qualquer, essa atribuição deve referir-se à diversidade existente na
acepção do nosso intelecto e não, a qualquer diversidade existente em Deus.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Os efeitos de Deus o imitam, não perfeitamente, mas na medida do possível,
por causa da deficiência na imitação. Pois, o ser simples e uno não pode ser representado senão pelo
múltiplo. Por isso, esses efeitos implicam a composição, donde resulta não terem o suposto idêntico à
natureza
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