terça-feira, fevereiro 16, 2021

NO SENTIDO DA TERRA. Rodrigo Petronio.

 

Rodrigo Petronio

 

 

NO SENTIDO DA TERRA

I

Se eu abro meu pulso para uma estrela e a chuva
     [ em coro vem arar meu dorso.
Se procedo líquido da boca da madeira e por ela
     [ canto o canto circular de um morto.
Se adentro sem pegadas o teu corpo de vidro e
     [ me comovo com a floração das teclas.
O pólen fecunda a primavera. Anjo volátil. Rosto
     [ vascular talhado em pedra.
Ânfora sem coração que acolhe em si o que Deus
     [ recusa e a eternidade congela.
Falo do farol. Falo de um dardo de folha. Que
     [ desviando do alvo encontra a meta.
O rio regressa. A ave regressa. A musculatura
     [ lisa da lua trama flores convexas.
O campo revolve a ordem divina. Analfabeta. A
     [ ignorância nos protege de sua luz que cega.
Não sou o guardião dessa terra anônima. Apenas
     [ nomeio o que a mão não toca.
Encarno o que a lava não sonha. E cumpro as
     [ estações que nosso olhar nos veda.
 

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