terça-feira, dezembro 22, 2020

O Festival de Besteira. Stanislaw Ponte Preta

 

O Festival de Besteira 

É difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o país. Pouco depois da “redentora”, cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem “otoridades”, sentindo a oportunidade de aparecer, já que a “redentora”, entre outras coisas, incentivou a política do dedurismo (corruptela de dedo-durismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo enfim, como corrupto ou subversivo — alguns apontavam dois dedos duros, para ambas as coisas), iniciaram essa feia prática, advindo daí cada besteira que eu vou te contar. Lembrem-se que notei o alastramento do Festival de Besteira depois que uma inspetora de ensino no interior de São Paulo, portanto uma senhora de um nível intelectual mais elevado pouquinha coisa, ao saber que seu filho tirara zero numa prova de matemática, embora sabendo que o filho era um debiloide, não vacilou em apontar às autoridades o professor da criança como perigoso agente comunista. Foi um pega pra capar e o professor quase penetra pelo cano. Foi preciso que vários pedagogos da região 13843 - Febeapá_04.indd 25 22/06/15 09:55 26 — todos de passado ilibado — se movimentassem em defesa do caluniado, para que ele se livrasse de um ipm.* Mas tais casos, surgidos ainda no primeiro semestre de 1964, foram arrolados no livro Garoto linha‑dura, que antecede este volume na série que se iniciou em 1961 com Tia Zulmira e eu e aumentou nos anos subsequentes com a publicação de Primo Altamirando e elas e Rosamundo e os outros. Garoto linha‑dura apareceu em fins de 1964 e, no ano passado, nenhum livro da série foi publicado. Portanto, as manifestações do Festival de Besteira que Assola o País — Febeapá, para os íntimos — só aparecem no GLD, quando de suas manifestações iniciais, e — no presente volume, que leva seu título como homenagem — estão casos ocorridos no ano passado e no ano corrente de 1966. O resumo abaixo foi feito na coluna “Fofocalizando”, publicada no vespertino Última Hora, junto com as crônicas que motivaram a série de livros. São apenas tópicos colhidos pela agência informativa Pretapress — a maior do mundo, porque nela colaboram todos os leitores de Stanislaw — e aqui relembrados sem a menor preocupação de exaltar este ou aquele membro do Febeapá. Vão na base da bagunça, para respeitar a atual conjuntura, e sua ordem é apenas cronológica. O ministro da (que Deus nos perdoe) Educação, sr. Suplicy de Lacerda, que viria a se tornar um dos mais eminentes membros do Festival, reunia a imprensa para explicar aquilo que o coleguinha Nelson Rodrigues apelidou de óbvio ululante. Disse que ia diminuir os cursos superiores de cinco para quatro anos. E acrescentou: “Agora, os cursos que tinham normalmente cinco anos, passam a ser feitos em quatro”. Não é bacaninha?

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