O BICHO
Ruy Proença
morraria. cume. o bicho-homem chega. os bezerros fogem. as seriemas fogem. o silêncio não foge, não pode. está enraizado na paisagem. o bicho-homem se aflige com o silêncio. enlouquecedor. o bicho-homem não está preparado para um mar de silêncio. há muito ruído dentro do bicho-homem. muito barulho de sofrimento e prazer. vidros se quebrando, gemidos, furadeiras trabalhando, navios indo a pique. ele quer fugir de si, fugir do silêncio, mas não pode. um grilo, um mosquito, um anu o aliviam de quando em quando. o sol está a ponto de fugir também, partir. antes de despencar, se quebrar, sangrar por trás da morraria, espalha sua luz dourada sobre as partículas suspensas de poeira, a relva, as árvores. o bicho-homem, tão pequeno, esquece a dor quando vê de cima a taça iluminada de uma araucária.
terça-feira, abril 28, 2020
O BICHO. Ruy Proença. Poesia
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