terça-feira, março 24, 2020

VALE QUANTO LESA. Iacyr Anderson Freitas. Poesia.

VALE QUANTO LESA
Iacyr Anderson Freitas


do minério
   não se inclui
no peso bruto
glebas & glebas
 de luto

rios que morreram
    no curso
de um minuto

vales vilas vidas
como insumos
      ou meros
acidentes
   de percurso

com zeros
muitos zeros
à direita do lucro

& o que resta
— um cemitério
    devoluto
(mero
       acidente
   de percurso?)

grandes açougues
   de azougue
pelas frestas

rios defuntos
de defuntas
florestas

(uma hecatombe
a cada monte)

& o peso bruto
dessas mortes
em conluio
            com os zeros
              à direita
         sempre à direita
do lucro

   (este
que prospera
       com as mortalhas
    que entrega

& muito medra
com os crimes
que nega)

este
senhores
o lucro

: para o qual
não existe
corpo insepulto   :o lucro

o único
      (embora sujo
de lama & luto

embora mito)

o único o único

        (oh perdoai
   se vos repito)

o único

impoluto

Nenhum comentário:

Postar um comentário