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sexta-feira, dezembro 27, 2019

HERANÇA. Charles Fonseca. Poesia

HERANÇA
Charles Fonseca

saudade da gorda boiada
tantas então que já vi
nas ruas de Ibicuí
também da rua apertada
doce tempo de escola
proibida a professora
de me bater com reguada
também de usar palmatória
de rezar o padre nosso
protestantes não, o vosso
credo em nós, outra história,
não ir à missa fúnebre
morreu o pai dos pobres
Getúlio, burguês esnobe,
pai chorou por ele lúgubre
saudade vaqueiro Louro
preto asa da graúna
morto em morte miúda
testa na trave não touro
da professora Zefinha
que vinha da roça a cavalo
pro arraial apeado
o cavalo a dar aulinha
ainda falta seu Pim
homem sério taciturno
corda ao pescoço noturno
pendurado visto assim
e da professora novata
grossas coxas sob anágua
que enchia a boca d'água
condicionado estive a vara
já sabia seu destino
ensinado tenra idade
por Ana, ai que saudade,
despedindo foi-se rindo
a moça lá do cartório
redigiu meu nascimento
fez tal alongamento
pernas nuca em petitório
socorro, alguém me acuda
tirem minhas pernas pescoço
pai Clemente ainda moço
viu em flor bela tesuda
confesso roubei Salozinho
um mil réis, volte meu filho,
devolva mesmo rastilho
você errou, meu filhinho;

memórias da tenra infância
tive base no evangelho
tal que hoje eu já velho
inda lembro, bela herança.

Um comentário:

  1. Você é genial, grande poeta Charles! Bela recordação em forma de poesia! Parabéns pelo lirismo constante em 2019. Continue brindando seu blog cultural com a excelente messe poética de sempre. FELIZ ANO NOVO

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