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quinta-feira, novembro 07, 2019

Art. 8 — Se Deus entra na composição dos outros seres. Suma Teológica

Art. 8 — Se Deus entra na composição dos outros seres.
(I Sent., dist. 8, q. 1, a. 2; Cont. Gent., I, 17, 26, 27; III, 51; de Pot., q. 6, a. 6; De Verit., q. 21, a. 4)
O oitavo discute-se assim. — Parece que Deus entra na composição dos outros seres.
1. — Pois, Dionísio diz: Ser de todas as coisas é o que, além de existir, é a divindade. Ora, tal ser entra na
composição do ser individual. Logo, Deus entra na composição dos outros seres.
2. Demais. — Deus é forma, como o diz Agostinho: O verbo de Deus (que é Deus) é forma não
informada. Ora, a forma faz parte do composto. Logo, Deus é parte dos seres compostos.
3. Demais. — Coisas que existem e de nenhum modo diferem são idênticas. Ora, Deus e a matéria
prima, em nada diferindo entre si, são absolutamente idênticos. Mas, como a matéria prima entra na
composição de todos os seres, o mesmo há de dar-se com Deus. — Prova da média. Seres diferentes
hão de diferir por certas diferenças; logo, hão de necessariamente ser compostos. Ora, Deus e a matéria
prima são absolutamente simples; portanto, de nenhum modo diferem.
Mas, em contrário, Dionísio: Não há nele (em Deus) contacto nem qualquer comunhão por onde vá de
mistura com partes.
SOLUÇÃO. — Três erros se cometeram neste assunto. Uns ensinaram ser Deus a alma do mundo, como
se lê em Agostinho; e a ele se reduzem os que disseram ser Deus a alma do primeiro céu. — Outros,
porém, afirmaram ser ele o principio formal de todas as coisas, e tal se diz ter sido a opinião dos
Almarianos. — E o terceiro erro foi o de Davi de Dinant, concebendo estultissimamente Deus como
matéria prima. — Ora, todas estas doutrinas são falsas, pois de nenhum modo é possível que Deus entre
na composição de qualquer ser, nem como princípio formal, nem como material. — Primeiro, porque,
consoante ficou dito, Deus é a causa eficiente primeira. Ora, a causa eficiente não coincide
numericamente com a forma de seu efeito, mas só especificamente; assim, um homem gera outro. A
matéria, porém, não coincide com a causa eficiente, nem numérica nem especificamente, pois é
potencial, e esta atual. — Segundo, porque sendo Deus a causa eficiente primeira, é-lhe próprio,
primária e essencialmente o agir. Ora, o que faz parte da composição de um ser não é agente primário e
essencial; pois é, antes, o composto que age. Assim, não é a mão que age, mas, o homem, por meio
dela; e o fogo aquece pelo calor. Logo, Deus não pode fazer parte de nenhum composto. — Terceiro,
porque nenhuma parte do composto pode ser, absolutamente, a primeira entre os seres; nem,
portanto, a matéria e a forma que são as partes primeiras dos compostos. Pois, aquela é potencial, e a
potência é, em si mesma, posterior ao ato, como do sobredito resulta. A forma, por seu lado, como
parte do composto, é participada. Ora, como o participante é posterior ao ser que existe por essência,
assim também o é o próprio participado. P. ex., o fogo, matéria ígnea, é posterior, ao que é fogo por
essência. Ora, já demonstramos que Deus é o ser absolutamente primeiro.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A divindade é chamada ser de todos os seres, efetiva e
exemplarmente, e não, por essência.
RESPOSTA A SEGUNDA. — O verbo é forma exemplar; mas não é forma como parte de um composto.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Os seres simples, ao contrário dos compostos, não diferem entre si senão
pelo que são. Assim, o homem e o cavalo diferem entre si, por ser aquele racional e este irracional; mas
essas diferenças não mais diferem entre si, por outras. Por onde, em rigor de expressão, não se dirá
propriamente — diferem, mas — são diversos. Pois, segundo o Filósofo, a palavra — diverso — se
emprega em sentido absoluto; ao passo que todo ser diferente de outro, difere por alguma coisa. Por
isso, rigorosamente falando, a matéria prima e Deus não diferem, mas são diversos entre si. Donde, não
se segue que sejam idênticos.

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