segunda-feira, agosto 19, 2019

AO LONGE OS BARCOS DE FLORES. Camilo Pessanha. Poesia.

AO LONGE OS BARCOS DE FLORES
Camilo Pessanha

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
— Perdida voz que de entre as mais se exila,
— Festões de som dissimulando a hora.

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...


Camilo Pessanha (1867-1926)


Clique: https://charlesfonseca.blogspot.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário