[TODAS AS MANHÃS]
Decio Bar
Todas as manhãs —
mesmo as cavalgadas por astros
esporeados, as adormecidas em
noturnos abraços de serpentina,
as que vêm de naufrágios em
taças de magnésio, as que surgem
repentinas (aquelas em que
percebemos o crescimento da sombra
das unhas) —
Todas as manhãs
uma tempestade sai do mar e eu
sou o seu oco:
... — e não, ainda não se dá o tempo
da clarineta, e nem a tesoura recortando
os calendários de sangue entrevê
a água de espelhos, e assim
Todas as manhãs
com o sol dentro do copo, sondo os
cabos submarinos em busca de avarias,
indago de algum telegrafista desertor
roído de nostalgia, e vasculhando os
céus I’m just a man in a crowd — poor
cloud of birds and angels; e assim vou
— na trilha, nos trilhos — de uma parede
ao muro que me limita, com os olhos
muito longe de mim
E neste ritual
em que não faltam túmulos de jornais,
flautas enlanguescidas por carência de valsa
compulsando corpos que o inverno
reduziu da medida de meus delírios; aliando-me a
querubins alucinados sedentos
de ambigüidades; valendo-me de um
telefone de aço para uso psicotrópico;
deitando cartas no leito das formas
que se pode adivinhar no bojo das
nuvens, ou na epiderme da pólvora
Neste ritual espero
da outra manhã
que me sirva à mesa no meu banquete
de rebeldia
terça-feira, junho 04, 2019
[TODAS AS MANHÃS]. Decio Bar. Poesia.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário