UMA LÁGRIMA PELA DESTRUIÇÃO DO QUE REALMENTE IMPORTA
Muitos brasileiros não tem a mínima ideia da dimensão da perda que tivemos no dia de ontem. Sei que qualquer tentativa de explicar essa perda, seria, na maioria das vezes, pura perda de tempo, dado estas pessoas não possuírem em seus imaginários uma mínima bagagem de pertencimento histórico a algo muito grande. Mas, após tanto contato salutar com esse material em toda a minha história de vida, tentarei transpor um pouco da dor que sinto diante dessa irreparável perda.
Em 2018 o Museu Nacional completou 200 anos. Era a mais antiga instituição científica de nosso país, e uma das maiores em seu campo de estudo em toda a América Latina. Estava sediado no Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro. Fundado por D João em 1818, o palácio fora residência da Família Real Portuguesa de 1808 a 1821, e da Família Imperial de 1822 a 1889. Poucos sabiam, mas também foi sede da Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891. Era tombado pelo Patrimônio Histórico desde 1932.
Sobre a importância histórica, tanto do prédio, quanto do museu, como instituição, há extenso material na internet. Não ater-me-ei a isso. O fato é que perdi as contas das vezes que visitei esse museu. Aliás, para aqueles que nunca visitaram a Quinta, posso assegurar-lhes que, mesmo diante do descaso com a conservação local, visitá-la, ainda era deveras impressionante. A residência real comportava extenso território, com belos jardins e lagos, onde hoje a população carioca costuma frequentar com seus familiares. Dentro da Quinta está o também malcuidado Jardim Zoológico, palco de vários passeios que fiz em minha infância e na contemporaneidade, com minha esposa, minha filha e meu pai, entusiasta do local. Já discorrerei um pouco sobre ele. Ainda na Quinta há um restaurante homônimo. Dono de uma deliciosa culinária, ambientalizado com talheres e mobília do século XIX, seus funcionários completam a aventura devidamente vestidos como em uma alta corte.
Passar o dia visitando a Quinta é algo fenomenal, iniciando-se, por exemplo, com uma visita ao zoológico, almoçando no citado restaurante e passando a tarde pelos corredores do museu. O Museu Nacional tinha um acervo único em nosso país. D Pedro II havia comprado múmias egípcias (sim, podias contemplá-las de verdade), papiros, animais empalhados com técnicas que não são mais executadas, uma infinidade de insetos, artigos pré-históricos, nosso Bendegó, o maior meteoro do mundo (Sim, podias passar as mãos e sentir sua textura metálica) e outros artefatos. O museu era uma viagem a um mundo fantástico, como em uma aventura de Júlio Verne. Tive o prazer de levar minha filha, que essa semana completa 11 anos, pelo menos três vezes ao local. Ficava encantado em vê-la excitada com toda aquela aventura que simbolizava, literalmente, o Contrato dos Mortos, que tanto enalteço. A cada visita havia novas exposições. Havia, é claro, um material que era fixo, composto pelos artigos principais, mas exposições temáticas reuniam acervos específicos, como por exemplo, “artefatos do paleolítico”. A cada corredor sentia que estava viva a capacidade de me estupeficar. Mas, de forma ainda mais deliciosa, via essa capacidade em minha esposa e em minha filha. Uma prima, pelo que descobri, formada em arqueologia, passara dois anos em profunda pesquisa local. Meu pai, que sempre fora apaixonado profundamente pelos elementos de nossa fauna, passava horas e horas de sua infância pelos porões do museu, estudando insetos, moluscos e outros exemplares. O museu, todas as vezes que o visitávamos, servia-lhe de forte apelo evocativo, recordando-o de forma saudosa seu padrinho que costumava lhe levar ali. Então, esse é o primeiro ponto que abordo aqui. Ali estava, a meu ver, materializado o desejo e o respeito pela ciência que fora tão cara a D Pedro II, mas sucumbira ante ao poder nefasto das chamas em poucas horas. Atentemos ao fato de destruirmos o legado que nos fora deixado por Pedro II, pois tal detalhe é parte importante de minha conclusão.
Há muito venho denunciando a necessidade da destruição de nossa cultura, sistematicamente impetrada por aqueles que anseiam substituí-la por um nefasto projeto político de cunho socialista. Adorno já denunciava que, para que o socialismo pudesse se instalar, haveria a necessidade da destruição dos três pilares da civilização ocidental: a filosofia grega, a lei romana, e a moral judaico-cristã. O socialismo não propõe, de forma alguma, um “aprimoramento” de instituições, mas sim, a destruição das mesmas, para uma completa e demagógica fundação (não coloco o prefixo “re”, pois o objetivo é não restar pedra sobre pedra de nossa civilização) de um “novo mundo”. O Rio de Janeiro por ter sido sede da corte portuguesa e do primeiro embrião nacional em realidade (o país era descentralizado anteriormente), comporta um senso de identidade nacional. Um senso hoje agonizante, desfigurado e jogado aos leões. A grandiosa nação pensada por José Bonifácio e por Pedro II, cantada em versos por Camões, cristã em essência, e profética por natureza, mesmo após tanta destruição de seu legado, da proclamação da república até a contemporaneidade, ainda possui no Rio, alguns marcos, destruídos parcialmente pelo tempo e pelo descaso, mas ainda assim, presentes. Destruir o Rio e esse legado, e substituí-lo pela “nova cultura” é condição sine qua non para a instalação do projeto socialista. Reduzir nossa herança europeia, em especial, portuguesa, é imperativo.
Não sabemos ainda ao certo as causas do incêndio. Costumo aguardar alguns dias antes de me pronunciar diante de fatos, pois gosto de adquirir mais detalhes sobre os mesmos. No entanto, a dor é grande. Perdemos parcela significativa de nosso acervo cultural. Cada corredor do museu pulsava com a ciência e o sonho de D. Pedro II. O fato é que arrisco dizer ter sido pane elétrica possível causa do incêndio. Um prédio antigo, malconservado, já fechado à visitação havia algum tempo, a chance de haver problemas com fiação elétrica é, a meu ver, gigantesca.
No projeto socialista, a inversão de valores é descarada. Luan Santana captou com a “Lei Rouanet” cerca de quatro milhões de reais. Só em 2015 tivemos 21 milhões captados por uma “Aventura Entretenimento Ltda” que produziu “Chacrinha, o musical”, 20 milhões pelo Instituto Tomie Ohtake em sua exposição vermelhinha “Frida Kahlo - conexões entre mulheres surrealistas no México”, 14 milhões com a empresa “T4F – Entretenimento s.a.” e seu show do Cold Play, 10 milhões com a “D+3 Produções Artísticas Ltda” e seu show do grupo “Franz Ferdinand”, 8 milhões pela Fundação Roberto Marinho e seu patético e odioso “Museu do Amanhã” no Rio e 8 milhões pela Fundação Odeon para a gestão do também patético e odioso “MAR – Museu de Arte do Rio” (esse podia pegar fogo que eu faria até festa). Nos outros anos, outras aberrações como 1.5 milhão para o documentário “Vilão da República” sobre a vida do criminoso José Dirceu, quinhentos mil no DVD do MC Guimê, 1.3 milhão para o Blog de Maria Bethânia “O mundo precisa de poesia”, 1.3 milhão para Tico Santa Cruz e sua turnê dos Detonautas, 5.8 milhões com a turnê 2013 da Cláudia Leitte, 1.9 milhão para o filme “Um brasileiro chamado Brizola”, 2 milhões para a “Exim Character – Licenciamento e Marketing Ltda” e seu show da Peppa Pig, 25 milhões em concertos musicais que não foram executados, supostamente sob pedido do maestro João Carlos Martins (o mesmo afirma categoricamente que nunca solicitou financiamento algum), 5.7 milhões de “um painel artístico de difusão cultural nos segmentos da música, dança e artes cênicas” no Club A, em São Paulo, de um ex-sócio de Amaury Jr., 18 milhões para o musical Shrek produzido pela “Kabuki Produções Artísticas Ltda” e 9.4 milhões pela (novamente) “T4F Entretenimento s.a.”. A lista é gigantesca e ater-me-ei a esses exemplos, pois ocuparíamos várias páginas do Word só em referências.
Imagino que toda a manutenção da rede elétrica do nosso malfadado museu seria paga com um “Luan Santana” de orçamento. Mas o que é valorado hoje pela trupe vermelha que se alojou no poder nos últimos 30 anos, é algo bem diverso do que povoava a brilhante mente de nosso antigo imperador. Aliás, o fomento do “pão e circo”, de preferência carregado de erotização e superficialidade, é instrumento de, não somente imbecilização da massa, mas também de dominação e implantação do nefasto projeto.
Portanto, culpo a esquerda e sua perversa subversão do bom, do bem e do belo, em prol do tosco, superficial, escatológico e pútrido. Culpo a esquerda pela subversão do nosso legado. Culpo a esquerda pela destruição da boia que impediria o afogamento dos filhos desse país. Culpo a esquerda por NUNCA MAIS poder levar minha filha, minha esposa e meu pai, para nos encantarmos pelos corredores carregados de ciência e história. Culpo a esquerda por NUNCA MAIS um pai poder se encantar com o brilho nos olhos de seu filho diante do que realmente importa.
André Marroig
segunda-feira, setembro 03, 2018
UMA LÁGRIMA PELA DESTRUIÇÃO DO QUE REALMENTE IMPORTA
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