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terça-feira, setembro 25, 2018

MARCAS DO QUE SE FOI. Charles Fonseca. Prosa.

MARCAS DO QUE SE FOI
Charles Fonseca

Assim era ele. Uma natureza apaixonada. Viu a irmã beirando a linha da pobreza e se compadeceu. Pegou um fusquinha e entregou a ela para que o usasse na cidade pequena na orla da civilização melhor de vida a mais de 1.000 km de distância de onde ele morava. Seis  meses depois voltou a visitar a família da irmã, marido mulher e filho. Uma tristeza. Faltava dinheiro para a gasolina e o fusquinha empoeirado a um canto parecia triste, quase a chorar. Prático comerciante viu no cunhado misto de alfaiate sapateiro e pastor a incapacidade de auferir renda para o luxo de usar o carrinho. Trouxe o veículo de volta à sua cidade onde dia e noite provia recurso para o patrimônio em construção. Não sabia o dia e a hora que a todos um dia chega ao final. Assim era ele. Desviou roteiro de uma viagem interestadual para visitar irmã que lhe acolheu com simples refeição doméstica enquanto ele chamava um táxi para o levar ao aeroporto já que o que estava na garage da anfitriã estava cansado. Me chamou à parte e chorando me disse de sua tristeza em ser acolhido de modo tão singelo de emoção para um tão grande esforço que fizera. Desceu até um bar no térreo do edifício e tomou uma caninha. Depois da confidência tornou a descer e tomou outra. Era o seu modo de abafar no peito a expressão do grande amor dele privado da convivência com seu núcleo familiar em toda a adolescência. Marcas do passado. Saudade deste homem que se foi aos 42 anos de idade.

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