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sábado, junho 30, 2018

Art. 4 — Se estar em toda parte é próprio de Deus.

Art. 4 — Se estar em toda parte é próprio de Deus.

(Infra, q. 52, a. 2; 112, a. 1; I Sent., dist. XXXVII, q. 2, a. 2; q. 3, a. 2; IV Cont. Gent., cap. XVII; Quodl., XI, a.
1; De Div. Nom., cap. III, lect. I).

O quarto discute-se assim. — Parece que estar em toda parte não é próprio de Deus.
1. — Pois, o universal, segundo o Filósofo, existe em toda parte e sempre; e a matéria prima, existindo
em todos os corpos, está em toda parte. Ora, nem esta é Deus, nem aquele, como do sobredito resulta.
Logo, estar em toda parte não é próprio de Deus.
2. Demais. — O número está nas coisas numeradas. Ora, todo o universo foi constituído com número,
como se vê na Escritura (Sb 2, 21). Logo, há um número que está em todo universo e, portanto, em toda
parte.
3. Demais. — Todo o universo é no seu conjunto uma espécie de corpo perfeito, como diz Aristóteles.
Ora, o universo está em toda parte, porque fora dele não há nenhum lugar. Logo, nem só Deus está em
toda parte.
4. Demais. — Se houvesse um corpo infinito, nenhum lugar existiria, fora dele. Logo, estaria em toda
parte, e, portanto, esse modo de existir não é próprio de Deus.
5. Demais. — A alma, como diz Agostinho, está toda em todo corpo e em cada uma das partes dele. Se,
portanto, no mundo não existisse senão um só animal, a alma do mesmo estaria em toda parte. Logo,
estar em toda parte, não é próprio de Deus.
6. Demais. — Como diz Agostinho, a alma onde vê, aí sente; e onde sente, aí vive; e onde vive, aí
está. Ora, a alma vê quase em toda parte, porque vê, sucessivamente, mesmo todo céu. Logo, ela está
em toda parte.
Mas, em contrário, diz Ambrósio: Quem ousará considerar como criatura o Espírito Santo, que está em
todas as coisas, e em toda parte e sempre, o que, certo, é próprio da divindade? SOLUÇÃO. — Estar em
toda parte, primariamente e por si, é próprio de Deus. Quando digo estar em toda parteprimariamente,
entendo estar desse modo por si, totalmente. Pois, não estaria primariamente em toda parte o ser que
tivesse partes diversas em lugares diversos, porquanto, o que convém a um ser, em razão de uma parte,
não lhe convém primariamente; assim a brancura do dente de um homem convém primariamente, não
ao homem, mas ao dente. Em seguida, quando digo — por si — refiro-me àquilo a que não convém
estar em toda parte por acidente, em virtude de alguma condição restritiva, como seria o caso de um
grão de milho, que existiria em toda parte, dado que, nenhum outro corpo existisse. Logo, convém o
existir em toda parte, por si, ao ser que desse modo existe, qualquer que seja a hipótese. Ora, isto
convém propriamente a Deus; pois, sejam quantos forem os lugares supostos, mesmo que sejam
infinitos mais que os existentes, em todos eles estará necessariamente, porque nada pode existir sem
ser por ele. Por onde, existir em toda parte, primariamente e por si, convém a Deus, e lhe é próprio;
pois, por mais lugares que se suponham, Deus existe necessariamente em cada um deles, não por
partes, mas por si mesmo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O universal e a matéria prima existem, certo, em toda
parte, mas não com identidade de ser.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O número, sendo acidente, está num lugar, não por si, mas acidentalmente;
nem está todo, mas por partes, em cada uma das coisas numeradas. Donde, pois, não se segue que
esteja em toda parte, primariamente e por si.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O corpo total do universo está em toda parte, mas não primariamente,
porque não está todo em qualquer lugar, mas por partes. Demais, nem por si, porque se supusessem
outros lugares neles não estaria.
RESPOSTA À QUARTA. — Se existisse um corpo infinito estaria em toda parte, parcialmente.
RESPOSTA À QUINTA. — Se existisse um só animal, a sua alma estaria em toda parte, primariamente,
por certo, mas por acidente.
RESPOSTA À SEXTA. — A expressão — onde vê — pode-se entender em duplo sentido. Ou o advérbio
onde determina o ato de ver, considerado em relação ao objeto e, então, é verdade que, vendo o céu,
no céu vê e, pela mesma razão, sente no céu; mas, daí não se segue que viva, ou esteja no céu, porque
viver e existir não implicam nenhum ato transitivo para um objeto exterior. Ou, pode-se tomar o
advérbio como determinando o ato de ver, que emana do sujeito que vê, e, então, é verdade que a
alma, onde sente e vê, aí está e vive, conforme este modo de falar; mas daqui não se segue que ela
esteja em toda parte.

Suma Teológica

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