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sábado, maio 26, 2018

SIMULACROS. Donizete Galvão. Poesia.

SIMULACROS
Donizete Galvão

Para Christina Menezes de Azevedo

Senhoras e senhores, o circo já ergueu sua lona.
Vêm o prefeito, a beldade, as mulheres da zona.

Todos se divertem com o espetáculo do ilusório.
Está aberto o reino do precário e do provisório.

Rufam todos os tambores, abrem-se as cortinas.
Nossa trupe mambembe exibe suas dores e sinas.

A orquestra toca Bolero: o ritmo vai crescendo.
O fraque do maestro tem no braço um remendo.

Eis Crystal Kimberley, a rainha do strip-tease.
Saiu do sertão do Sergipe, de nome Wandernise.

A mulher-rã, contorcionista vinda do circo russo,
Depila pernas e sovacos, mas se esquece do buço.

Com vocês, uma feroz leoa da savana africana.
Barriga vazia, não come gato há uma semana.

A pássara Tatiana, trapezista bela e impávida,
Esconde do amante domador que está grávida.

Anaïs, índia guarani, que é exímia equilibrista,
Carece de vitaminas e de ir urgente ao dentista.

Alegria da criançada, o nosso palhaço Arrebita,
No trailer sujo, teve macarrão e ovo na marmita.

De noiva, vai-se casar uma anã, loira oxigenada.
Que graça! Puxam-lhe o vestido e ela corre pelada.

Aplausos para o salto mortal de sonho e pobreza.
Onde uns vêem o belo, outros enxergam a tristeza.

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