“ERROS HOSPITALARES” SÃO A SEGUNDA CAUSA DE MORTE NO BRASIL.
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Esse é o resultado de uma pesquisa recente da UFMG. Se levarmos em conta as “sub-notificações” ( casos que não são registrados ), é até provável que o “erro hospitalar” seja alçado à primeira causa de morte... Como diretor de hospital há longos anos, médico assistente hospitalar, e professor de Psicologia Médica ( estudo das relações médico-paciente-hospital ), poderia dizer que uma das principais causas disso é a desvalorização do trabalho clínico do médico. Agora mesmo estou prestando assistência psiquiátrica a um paciente cardíaco grave, em um grande hospital geral. Nesse exato momento em que escrevo estas linhas, este paciente vai inteirar quase 48 horas sem ser examinado ou visto pelo médico !! E ele está em apartamento, do mais “top”, entre os mais “tops” planos de saúde. Simplesmente , como milhares de outros pacientes Brasil afora, está “praticamente à míngua” dentro desse hospital. E quando o médico aparece para “ver” o paciente, é em “vôo de beija-flor”, no máximo 5 minutos : “tá tudo bem aí ?”. Em grande parte, são recém-formados, muito pouco experientes, pouco especializados, ganham relativamente pouco. Entendem pouco de complexidades médicas maiores. Isso sem falar na formação médica no Brasil de hoje, que, com excesso de Faculdades de “cuspe-e-giz” ( sem hospitais de ensino, sem professores médicos, sem aulas práticas, etc ) , despeja centenas de milhares de “médicos teóricos” ( e despreparados ) no mercado. Sem uma efetiva presença hospitalar e coordenação médica, o tratamento já fica muito precarizado, ainda mais com profissionais, tanto da Medicina quanto da Enfermagem, com formação muitíssimo precária. Já vi, p.ex., enfermeiras de nível superior que são contratadas nos hospitais sem saber medir uma pressão ou pegar uma veia... Esse paciente que estou tratando no momento, ( na parte psiquiátrica ), num grande hospital, não pode nem ingerir água direito, pois está em regime de restrição hídrica. Foi-lhe prescrito meio litro ( 500 ml ) de soro em 24 horas, para não sobrecarregar o coração e não inundar o pulmão de água ( edema agudo de pulmão ). Pois eu cheguei lá, ele já estava prestes a tomar 1.000 ml de soro em menos de 8 horas !! Se eu não chego, a desgraça tava feita. E vejam bem, eu não teria nada a ver com isso, pois sou psiquiatra, não clínico geral, ou cardiologista, ou nefrologista. Aí você vai ver a prescrição do paciente, não há cálculo de aporte hídrico, não há cálculo de aporte eletrolítico ( p.ex., potássio ), não há cálculo de balanço de ingesta e perdas, etc. Ou seja, não há nenhum “tratamento racionalizado” para o caso, e isso sem que o médico o veja por quase 48 horas, um paciente com doença cardíaca grave, já teve 3 infartos, já teve 2 derrames, está com a freqüência cardíaca tão fraca, abaixo de 55 batimentos por minuto, coração super “inchado” ( cor bovis ), etc.. Em síntese, sem o médico, a situação hospitalar brasileira é a de um avião sem comandante, pilotado pela aeromoça... Não há controle de qualidade, prevenção de danos, observação atenta e obsessiva, como a boa Medicina exige. Por que acontece isso ? Porque os brasileiros optaram por um modelo “estatal” de saúde, que desvaloriza o trabalho clínico do médico ( que é aquele trabalho diário na beira do leito ) , supervaloriza apenas “tecnologias”, “procedimentos”, “cirurgias”, “máquinas”, “grandes prédios”, “helicóptero de transporte”, “UTI aérea”, “leitos de UTI”, etc. Pacientes em apartamentos ou enfermarias ficam praticamente a “Deus-dará”, por isso as UTIs estão entupidas, é só lá que há um médico mais atento e um controle clínico mais adequado do paciente ( p.ex., cálculo de perdas, balanços positivos, ingestas, aportes hidroeletrolíticos, curvas térmicas, pressóricas, etc ). Aí os leitos de UTI ficam “entupidos”, empresários da saúde ganham mais, os planos gastam mais, e aí sobra ainda menos dinheiro para pagar o “clinicozinho de beira-de-leito”. E assim o círculo vicioso infernal se perpetua.
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Marcelo Caixeta é médico, diretor de Hospital, professor de Psicologia Médica ( problemas na relação médico-paciente-hospital ). ( psychological.medicine1@gmail.com )
quinta-feira, novembro 23, 2017
Erros hospitalares. Marcelo Caixeta
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