TERCEIRA ELEGIA
Carpinejar
(trecho)
Estive sempre de pé no ônibus, espremido
[entre o ferro
da cadeira e o rumor dos passageiros.
Educado a ser o último, cedi o lugar a gestantes
[e idosos.
Estive sempre de pé no ônibus, me defendendo
ao largo do corrimão de tantos rumos,
alianças e ponteiros com paradas diferentes.
E o brado irritante do cobrador ainda a exigir
um passo à frente.
O fato de não ter sido é mais trabalhoso
do que a fama. Prossegui a me imaginar,
sondando o que poderia ter vivido.
Disperso, anônimo, no comício do mar
e nas trevas.
Diminuindo o risco, reduzimos a possibilidade
de nos libertar. O medo, o medo, o medo
é o que nos faz escolher.
Descobre-se um amor
na iminência de perdê-lo.
l
Por mais que uma vela
seja vizinha
de outra chama,
por mais que uma vela
seja seguida
pela caravela de sopros,
por mais que uma vela
segure a barra do vestido
na ascensão,
a vela é sempre solitária,
uma forma da luz
ser indigente.
segunda-feira, maio 22, 2017
Terceira elegia. Carpinejar. Poesia
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