Capítulo 51 (resumido)
Brás Cubas volta de uma festa em casa dos Lobo Neves, onde fora recebido pela dona da casa, sua antiga namorada Virgília, com esta saudação:
"O senhor hoje há de valsar comigo.
Em verdade, eu tinha fama e era valsista emérito; não admira que ela me preferisse. Valsamos uma vez, e mais outra vez. Um livro perdeu Francesca; cá foi a valsa que nos perdeu".
Ele sai da festa com uma certeza absoluta: que a teria em seus braços quando quisesse. E só pensava nisso “É minha! É minha!”.
No caminho vê algo brilhar no chão, examina vê que é uma moeda de ouro e a põe no bolso não sem antes se certificar que ninguém notara.
No dia seguinte sua consciência lhe dá alguns repelões e ele pensa que a moeda pode ser de alguém necessitado. Resolve devolvê-la e o faz através de uma carta ao chefe de polícia.
“Mandei a carta e almocei tranqüilo, posso até dizer que jubiloso. Minha consciência valsara tanto na véspera, que chegou a ficar sufocada, sem respiração; mas a restituição da meia dobra foi uma janela que se abriu para o outro lado da moral; entrou uma onda de ar puro, e a pobre dama respirou à larga”.
Segue-se um diálogo entre ele e sua consciência, que ele chama de ‘minha dama interior’ e esta lhe diz:
“- Fizeste bem, Cubas; andaste perfeitamente. Este ar não é só puro, é balsâmico, é uma transpiração dos eternos jardins. Queres ver o que fizeste, Cubas?
E a boa dama sacou um espelho e abriu-mo diante dos olhos. Vi, claramente vista, a meia dobra da véspera, redonda, brilhante, nítida, multiplicando-se por si mesma, — ser dez — depois trinta — depois quinhentas, — exprimindo assim o benefício que me daria na vida e na morte o simples ato da restituição.
E eu espraiava todo o meu ser na contemplação daquele ato, revia-me nele, achava-me bom, talvez grande. Uma simples moeda, hem? Vejam o que é ter valsado um pouquinho mais.
Assim, eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.
Talvez não entendas o que aí fica; talvez queiras uma coisa mais concreta, um embrulho, por exemplo, um embrulho misterioso. Pois toma lá o embrulho misterioso”.
terça-feira, maio 16, 2017
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Machado de Assis
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