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terça-feira, maio 16, 2017

Memórias Póstumas de Brás Cubas. Machado de Assis

Capítulo 51 (resumido)

Brás Cubas volta de uma festa em casa dos Lobo Neves, onde fora recebido pela dona da casa, sua antiga namorada Virgília, com esta saudação:
"O senhor hoje há de valsar comigo.
Em verdade, eu tinha fama e era valsista emérito; não admira que ela me preferisse. Valsamos uma vez, e mais outra vez. Um livro perdeu Francesca; cá foi a valsa que nos perdeu".
Ele sai da festa com uma certeza absoluta: que a teria em seus braços quando quisesse. E só pensava nisso “É minha! É minha!”.
No caminho vê algo brilhar no chão, examina vê que é uma moeda de ouro e a põe no bolso não sem antes se certificar que ninguém notara.
No dia seguinte sua consciência lhe dá alguns repelões e ele pensa que a moeda pode ser de alguém necessitado. Resolve devolvê-la e o faz através de uma carta ao chefe de polícia.
“Mandei a carta e almocei tranqüilo, posso até dizer que jubiloso. Minha consciência valsara tanto na véspera, que chegou a ficar sufocada, sem respiração; mas a restituição da meia dobra foi uma janela que se abriu para o outro lado da moral; entrou uma onda de ar puro, e a pobre dama respirou à larga”.
Segue-se um diálogo entre ele e sua consciência, que ele chama de ‘minha dama interior’ e esta lhe diz:
“- Fizeste bem, Cubas; andaste perfeitamente. Este ar não é só puro, é balsâmico, é uma transpiração dos eternos jardins. Queres ver o que fizeste, Cubas?
E a boa dama sacou um espelho e abriu-mo diante dos olhos. Vi, claramente vista, a meia dobra da véspera, redonda, brilhante, nítida, multiplicando-se por si mesma, — ser dez — depois trinta — depois quinhentas, — exprimindo assim o benefício que me daria na vida e na morte o simples ato da restituição.
E eu espraiava todo o meu ser na contemplação daquele ato, revia-me nele, achava-me bom, talvez grande. Uma simples moeda, hem? Vejam o que é ter valsado um pouquinho mais.
Assim, eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.
Talvez não entendas o que aí fica; talvez queiras uma coisa mais concreta, um embrulho, por exemplo, um embrulho misterioso. Pois toma lá o embrulho misterioso”.

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